quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Lições de Desejo, Madeline Hunter



Título Original: Lessons of Desire
Autoria: Madeline Hunter
Editora: ASA
Nº. Páginas: 367
Tradução: Ana Sofia Pereira


Sinopse:

Se Phaedra Blair ao possuísse tanta beleza e estilo, a alta sociedade achá-la-ia apenas estranha. Mas como a Mãe Natureza a dotou de ambas as coisas, consideram-na interessante e excêntrica. Ela é uma mulher à frente do seu tempo. Deseja liberdade e persegue um sonho. Apaixonar-se não está nos seus planos imediatos. Aliás, o seu primeiro encontro com Lord Elliot não é auspicioso. Injustamente presa, será graças ao poder e charme do jovem que consegue escapar. Mas Phaedra depressa descobre que o preço da sua “liberdade” é ficar irremediavelmente ligada ao seu “herói”. Pois Elliot Rothwell não agiu apenas numa missão de boa vontade. O seu objectivo é garantir que Phaedra não publicará um manuscrito que ameaça destruir o bom nome da sua família, e para tal, ele está disposto a tudo. Não contava, porém, encontrar uma adversária à sua altura. Os dois jovens vão debater-se com as convenções de uma sociedade rígida e, acima de tudo, com sentimentos tão intensos quanto contraditórios.


Opinião:

Existe algo de indecifrável e extremamente atractivo na escrita de Madeline Hunter, uma particularidade única e especial que agarra o leitor às suas deliciosas páginas, sequioso por descobrir que desfecho enigmático aguardará o casal principal retratado.
Os livros desta autora são, para mim, uma constante lufada de ar fresco, mais um sonho sobre um passado longínquo com costumes e normas de uma época que resolutamente me fascina, me cativa e me atrai. Como uma das minhas contadoras de histórias de eleição, Madeline Hunter não só tem a capacidade de transmitir com clareza toda uma parafernália de sensações e emoções a quem a lê, todas elas vivamente experienciadas pelas suas fabulosas personagens, como, de igual modo, consegue transportar o leitor para o tempo e o mundo em que estas efectivamente actuam graças a pormenorizadas descrições e a uma atenção extrema na linguagem “falada” e escrita.

Phaedra Blair tem de ser das protagonistas mais intrigantes, complexas e interessantes que tive o prazer de conhecer através do intelecto criativo de tão brilhante escritora. Ela é apelativamente atraente, notoriamente inteligente, incrivelmente excêntrica e decididamente dominante. A sua liberdade é tudo para si! Educada por uma mãe erudita mas precocemente ausente e marcada por uma traição misteriosa, Phaedra cresceu sob as normas da independência feminina e da rescisão à união através do casamento – e, neste último, consequentemente, da perda dos seus direitos e vontade. Assim, quando se vê encurralada numa prisão equívoca em plenas terras italianas onde a sua única salvação se apresenta na figura de um galante cavalheiro inglês, Phaedra não olhará a meios para atingir os seus fins e, desse modo, descobrir todo o enigma que envolve a morte prematura da sua mãe, mesmo que isso coloque os seus ideais e cortesia profusamente em risco. Contudo, e como boa senhora de si, acredita estar apta a ultrapassar qualquer adversidade que se apresente pela frente, seja ela num papel sensual desempenhado por um homem destemido, arrogante e apaixonado ou na pele de uma série de indivíduos que procuram esconder-lhe a verdade que tão avidamente procura.  

Lord Elliot Rothwell é um homem que tanto tem de atraente como de curioso e arrogante. Filho mais novo do anterior Lord de Easterbrook (cargo actualmente ocupado pelo seu irmão mais velho, Christian), Elliot cresceu acompanhado de sua mãe em detrimento de uma relação de proximidade com o seu pai, legado que foi entregue aos dois outros irmãos. Porém, e já em adulto, quando surge o rumor de que um manuscrito importante será brevemente publicado e cujo conteúdo poderá colocar em perigo a notoriedade e reputação do título da sua família, Lord Elliot decide optar pelo caminho mais curto e sedutor por forma a contrariar a primeira vontade daquela que guarda em si a mais importante das decisões – Miss Phaedra Blair. No entanto, seguramente que não contava com o desenrolar activo e inesperado da sua relação com tão belíssima senhora... nem do poder que esta poderia ver a ter contra si.

Os dois protagonistas e a ligação que tecem entre si são o ponto fulcral de toda a narrativa. Sendo ambos tão diferentes e com objectivos importantes a cumprir onde não existe qualquer lugar para terceiros ou para o amor, terão de enfrentar as adversidades familiares, estrangeiras e, principalmente, primárias. O que começa por ser um mero acaso do destino rapidamente despoleta numa profusão de beijos intensos, sentimentos inexplicáveis e muito pouco domínio de ambas as partes. Em conjunto com os assuntos legais e políticos que insistem em não abandonar o espírito e mente tanto de Phaedra como de Elliot – no caso dela, a morte da mãe, a publicação das memórias do seu pai e o antigo proprietário de um camafeu herdado e, no caso dele, a publicação das mesmas memórias e posterior referência a seu pai, as insinuações e persuasões de Christian em despachar-se e os motivos profissionais que o levam a visitar terras distantes –, o leitor é impulsionado a seguir uma relação conturbada pela necessidade de liberdade por parte de Phaedra e de domínio por parte de Elliot. Duas vontades em conflito directo só poderiam significar um excelente retrato de época em todos os sentidos!

As paisagens e luxos relatados são profundamente arrebatadores tal é a potência e força da autora nas suas descrições e criações. É impossível para um leitor que sinceramente aprecie o género não se sentir tentado a abandonar tudo, encontrar uma máquina do tempo e voltar atrás até à Pompeia e Londres antigas, onde os duelos, o cavalheirismo e a corte faziam parte do dia comum.
Em conjunto com todos estes pormenores encontra-se ainda um leque já nosso conhecido de personagens secundárias muito apreciadas. Refiro-me, principalmente, a Christian Rothwell, o irmão que mais atenção despertou em mim, a Hayden Rothwell e Alexia Welbourne. Suportado por outros intervenientes de igual importância mas menor aparição, Lições de Desejo apresenta-se como um romance envolvente, delicado e muito, muito sensual, cuja real essência se cinge na busca frenética pela contínua independência de uma mulher livre que não aceita ver a sua vontade subjugada à palavra de um homem e que, no seu íntimo, acredita que a igualdade de poder num casal ou numa relação é o factor mais importante e decisivo para o sucesso da mesma.

Para quem gosta de romances históricos com pitadas de erotismo, este é a aposta ideal. Para quem conhece a autora e não dispensa as suas obras, Lições de Desejo é obrigatório e para quem nunca experimentou o género ou a escrita de Hunter, este livro seria um excelente começo de vício. Sem sombra de dúvida, mais uma excelente aposta da ASA cujo catálogo tem vindo a surpreender a cada mês que passa.

«Ele susteve-a com um pouco mais de firmeza, como se estivesse a ordenar à tempestade para se acalmar. O espírito dela obedeceu à sua ordem silenciosa. As nuvens dispersaram-se, a brisa fresca fluiu entre ambos e ela esteve totalmente com ele mais uma vez, num local repleto de calor, luz e liberdade.», pág. 314

« — O ímpeto de posse é demasiado forte e a tendência para o ciúme demasiado humana. Amar alguém sem pedir nada em troca, sem qualquer desejo ou esperança de permanência, não é natural. Eu perdi a minha liberdade quando me apaixonei por vós, minha querida. Agora, estou acorrentado a esse amor independentemente do que aconteça entre nós. Temo que esses grilhões durem uma vida, mas diabos me levem antes de me submeter à tortura constante de não saber se sois minha.», pág. 348

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