terça-feira, 13 de setembro de 2011

Desejar, Carrie Jones



Título Original: Need
Autoria: Carrie Jones
Editora: 1001 Mundos
Nº. Páginas: 292
Tradução: Susana Serrão


Sinopse:

Zara White suspeita que há um indivíduo estranho a persegui-la. Ela é também obcecada com fobias. E é verdade que ela não tem estado bem desde a morte do padrasto. Mas exilar-se no frio do Maine e ir viver com a avó? Parece algo extremo. É suposto que a mudança a ajude a manter-se sã... mas Zara tem a certeza que a sua mãe, no imediato, é incapaz de lidar com ela.
Não podia estar mais enganada. O perseguidor está longe de ser um produto da sua imaginação. Ela está a persegui-la, deixando atrás de si um estranho rasto de pó. Algo não está certo – não é humano – nesta sonolenta cidade do Maine, e todos os sinais apontam para Zara.
Nesta assustadora e absorvente narrativa, Carrie Jones dá-nos romance, suspense e uma criatura que nunca pensámos vir a temer. 


Opinião:

Quem não tem desejos?
Quem nunca desejou algo que, em primeira análise, lhe pareceu impossível de obter? Quem nunca expressou desejo em forma de promessas, juras ou objectivos a alcançar a longo prazo? Quem nunca desejou pela oportunidade de recuperar algo perdido no passado... um familiar, um amigo, um melhor estilo de vida, um amor arrebatador?
Desejar é algo inerente ao ser humano. É algo que o faz naquilo que verdadeiramente é – alguém. Sem desejos, somos meras carcaças vazias. Sem desejos, não temos propósitos a concretizar e é sobre esta necessidade imprescindível e também sobre a ferocidade do medo que Carrie Jones retrata um curto pedaço de uma adolescência marcada pela mágoa, pelo desespero e pela total incapacidade de sentir.

O enredo é simples, debatendo-se ora entre os problemas de se entrar a meio do ano lectivo numa escola nova ora entre os dilemas de um primeiro amor diferente, mais intenso e animalesco. Embora inicialmente Desejar possa parecer mais uma trama juvenil no meio de tantas outras do género, a verdade é que com o desenrolar da acção algumas surpresas e originalidade vão aparecendo pelo caminho, em grande parte devido às criaturas místicas que habitam as suas paginas, proporcionando assim umas quantas novidades a um leitor menos abrangente e conhecedor. Porém, nota-se uma clara tentativa, por parte da autora, em inserir algumas pistas sobre o que se poderá vir a passar de errado num futuro próximo mas que, infelizmente, ao não ser facultada informação suficiente ao leitor, fica a sensação de se estar perante uma narrativa meio confusa e estranha, um pouco perdida e precipitada.

No que diz respeito às personagens, Zara é uma protagonista ansiosa que, num contacto inicial, consegue cativar o leitor para o perder pouco depois. Nos primeiros capítulos, ela é caracterizada como uma jovem em sofrimento pela morte prematura e inesperada do padrasto sendo forçada, pela mãe, a ir viver com a avó paterna devido à sua incapacidade em superar a dor. Contudo, quando, no dia seguinte à sua chegada, ela tem de ingressar no Liceu de Bedford, a sua personalidade sofre uma reviravolta estrondosa e decididamente pouco apropriada ao seu anterior estado de espírito – Zara torna-se uma jovem sociável, agradável ainda que preocupada e, sem dúvida, bastante sensitiva. No entanto, e ainda assim, fora este princípio algo comprometedor, a personagem volta a atrair as atenções até si muito devido ao seu carisma natural, poderoso pensamento irónico, forte conhecimento de fobias e progressiva integração romântica e social. Com as restantes personagens, a interacção é constante ainda que todas elas estejam mais ou menos a um nível secundário equivalente entre si.

Nick e Ian assumem, ambos, o papel de interesse amoroso da protagonista apresentando-se, cada um, com as suas particularidades, manias e pontos de estranheza. Distintos entre si, apelam pelo secretismo e mistério, levando o leitor a continuamente se questionar acerca das origens de tão enigmáticas personagens. Só tenho pena que o fim de Ian – e de Megan, a arqui-inimiga de Zara – tenha sido um pouco irreflectido, imprudente, sem grande nexo ou explicação.
Quanto às amizades, Issie e Devyn assumem os papéis principais. Enquanto que Issie rapidamente ganha terreno e confiança por parte de Zara, transformando-se, a tempo recorde, na sua melhor amiga, Devyn destaca-se pela maturidade em detrimento da infantilidade instintiva de Issie, inteligência e apoio prestado. Não posso igualmente deixar de referir Betty, a avó de Zara que, na sua vida atarefada consegue, ainda, proteger a sua neta que nem uma autêntica tigresa.

Em termos de conteúdo fantástico, posso afirmar não ter ficado totalmente satisfeita visto este ter sido em menor número quando comparado com o decorrer do tempo na vida da adolescente protagonista. Zara vê-se confrontada com um homem estranho que não só a persegue como deixa um rasto de pó brilhante e, no entanto, só depois de meio do livro é que a verdadeira fantasia entra em cena. Achei interessante o pormenor de a autora ter pegado em duas espécies do sobrenatural pouco exploradas nas obras até então publicadas em território nacional – pixies e metamorfos – contudo fiquei desiludida com o facto de muito pouco ter sido desvendado, principalmente no que diz respeito aos pixies. Quase que dá a sensação de esta espécie ter sido escolhida unicamente pelo pó dourado e brilhante que liberta como rasto ao invés da sua natureza, cultura e particularidades especiais. Referente a este ponto, espero sinceramente encontrar um maior desenvolvimento da fantasia em si, no próximo volume de Carrie Jones, em detrimento do exaustivo passar dos dias de Zara na escola, em casa, com os amigos e/ou com o namorado.

Quanto à escrita, esta é bastante fluida e descontraída, proporcionando verdadeiros momentos de descanso e prazer ao leitor. Gostei, particularmente, da forma como a autora conseguiu inserir no enredo toda uma série de fobias, tanto a partir das mencionadas no começo de cada capítulo como nas perspectivas pessoais e íntimas da própria personagem principal. Pessoalmente, este foi um dos aspectos de que mais apreciei juntamente com a capa e todos os pormenores brilhantes que apresenta (bastante alusivos ao tema).

Essencialmente, Desejar é uma obra sem grandes desafios capaz de deliciar o público mais juvenil que viu em Crepúsculo toda uma nova visão e abordagem da literatura fantástica – e, claro, não só! Para alguém mais adulto, esta trata-se de uma narrativa que se lê bem, inclusive que se aprecia, mas que no entanto não vem trazer nada de novo a um reportório mais completo e expectante.
Agradável, de leitura rápida e, sem dúvida, interessante, Desejar é mais uma das grandes apostas da 1001 Mundos que, para um público juvenil, vale bem a pena experimentar. Um livro que se devora num instante!

«Odeio ter medo.
 — Se puderes dar nome à coisa, deixa de meter tanto medo – costumava dizer o meu pai. – As pessoas têm medo do que não conhecem.» pag. 109

6 comentários:

Ana das Pontas disse...

Concordo totalmente contigo. De início as semelhanças com "Crepúsculo" são tantas que chega a ser ridículo. A menina muda de cidade, habituada ao sol e vai para um sítio frio, entra na escola a meio do ano e toda a gente a conhece e olha para ela, apaixona-se à 1ª vista... enfim, demasiado para ser original.

Vale a pena pela parte das fobias e pelo desenrolar da acção mais para diante. Ainda assim não chegou para ser considerada uma leitura extraordínária.

**

Daisy disse...

Li o Desejar (ou Need) em inglês, pois pensei que não iria sair em português e nota-se o que aconteceu. Chamou-me bastante à atenção pela capa e pela sinopse, mas no entanto acabou por ser um tanto diferente do que eu estava à espera. No inicio fiquei um pouco desiludida mas isso logo me passou e acabei por gostar bastante do livro. Porém deu-me a sensação de falhas em algumas acções, como por exemplo(um exemplo random) ela estar sentada e na fala seguinte, já estar ao pé da porta mas sem isso sequer ser mencionado...Mas em geral adorei e já li o segundo, e vem com mitologia à mistura :3 (espero que referir isso não seja spoiler!) O fim do segundo livro é simplesmente de "Desejar" por mais. Já comprei o terceiro e estou ansiosa para o começar a ler :)

Juanitah Nunes disse...

achei engraçado teres escolhido essa citação miga, pois também a mim me ficou na memória.
começo a achar, que partilhamos a mesma mente no que toca a livros!!!
Também eu adorei o "desejar", embora algo tenho "ficado em falta".

Pedacinho Literário disse...

Zaahirah,
Sim, sem dúvida de que “Desejar” não é nenhum livro extraordinário, muito em conta pelo que referiste. Tem fortes semelhanças com outros romances do género só que, no entanto, consegue apresentar algumas novidades nomeadamente nas fobias e em partes do desenrolar da acção e que, sem dúvida, lhe acresce uns quantos pontos positivos. A curiosidade para ler a continuação ficou cá, porém, estou contigo no que diz respeito em ser um livro quase “normal”.
**

Pedacinho Literário disse...

Daisy,
Por acaso também não pensei que fosse ser editado em português, tanto que ponderei adquirir a versão original quando a notícia da sua publicação em Portugal foi lançado. Claro que preferi ler a nossa versão. Adorei a capa e a sinopse também captou a minha atenção, no entanto e tal como tu, estava à espera de um pouco mais. Acho que o livro é excelente para um público mais juvenil, porém, em alguém mais velho e habituado a este género literário, a “novidade” já não cai tão acentuadamente...
Vou aguardar pela continuação, com relativa ansiedade e curiosidade, e esperar que o final seja mesmo de “desejar” por mais! Vamos ver o que acontece... :)

Pedacinho Literário disse...

Juanitah (miga),
Adorei esta citação, sabes? Foi mesmo daquelas que me chamou a atenção no momento e que tive de “mentalmente” sublinhar. :) Parece que estamos mesmo em sintonia no que diz respeito a livros... Que porreiro!
Estou curiosa por saber o que achaste do livro da Mead... Dá-me feedback! :D **

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