Título Original: Gut gegen Nordwind
Autoria: Daniel Glattauer
Editora: Porto Editora
Nº. Páginas: 222
Tradução: Susana Mendes Serrano
Sinopse:
Tudo começa por acaso: Leo recebe por engano alguns e-mails de uma desconhecida chamada Emmi. Educadamente, responde-lhe e Emmi retribui.
Esta troca de e-mails desperta uma curiosidade intensa entre os dois e, quase de imediato, Emmi e Leo começam a partilhar confidências e desejos íntimos.
A tensão entre ambos aumenta, e o encontro parece iminente. Mas Emmi e Leo adiam o momento. Porque, afinal de contas, Emmi é casada e feliz.
Serão os sentimentos que nutrem um pelo outro suficientemente profundos para sobreviver a um encontro real? E, depois desse momento, o que os espera?
Opinião:
Um romance empolgantemente diferente...
... Quando Sopr@ o Vento Norte é uma obra inteligente, divertida e de um romantismo completamente fora do vulgar. Sendo um livro que, pessoalmente, se define por ter um dos mais apaixonantes, sensíveis e credíveis diálogos electrónicos dos tempos modernos, Daniel Glattauer conseguiu criar uma narrativa memorável, deliciosamente compulsiva e de uma notoriedade altamente comovente.
Inesperado no profundo envolvimento com o leitor e totalmente aberto e claro na transmissão exacta dos sentimentos e emoções das suas personagens, este é um romance que, de um momento para o outro, criará raízes impenetráveis e inquebráveis e que levará a leitura a um completo outro nível.
A partir do momento em que o primeiro e-mail de Emmi aparece na caixa de correio electrónico de Leo Leike, seguido por muitos outros a contestar o mesmo problema, fica óbvio para o leitor que uma imensa reviravolta de acontecimentos está prestes a dar-se. Quem nunca recebeu, por engano, e-mails de totais desconhecidos que, lá bem no íntimo, despertaram uma vontade imensa em simplesmente lhes responder? Nem que fosse unicamente para pôr termo ao equívoco de modo a evitar uma caixa de correio a transbordar de mensagens indesejadas? Quando Leo Leike tomou a iniciativa de responder ao e-mail de Emmi, a sua vida deixou de ser simples e quase inteiramente dedicada à sua pesquisa e trabalho. Ao fim de pouco tempo as respostas tornaram-se constantes, de ambas as partes, e o passar de um dia inteiro sem um ‹‹olá›› do outro rapidamente se transformou num autêntico inferno. É esta exclusiva e pessoal troca de e-mails que perfaz Quando Sopr@ o Vento Norte um romance intelectualmente devastador sobre o amor à primeira palavra, a vivência electrónica restrita – em detrimento da realidade –, a descoberta do nosso verdadeiro eu e, ainda, sobre a necessidade inerente do ser humano em julgar previamente as pessoas e a facilidade em desabafar, compreender e aceitar algo ou alguém quando o frente a frente é inexistente.
Tratando-se de uma narrativa essencialmente a duas personagens, embora com terceiros intervenientes, é dada ao leitor a possibilidade de se centrar exactamente no que é importante – a relação virtual que as duas personagens partilham tão fervorosamente. Um vício, um dado adquirido, uma parte especial do dia de cada um deles. Uma palavra, um simples e-mail, um gesto que depressa se torna indispensável. Pessoalmente, este é um dos aspectos mais marcantes e positivos de toda a história, pois é desta forma que o leitor consegue criar uma relação estreita e forte com dois protagonistas que, de outra forma e com uma maior participação activa de outras personagens, seria impossível – ou, pelo menos, mais difícil. Assim, o leitor fica a conhecer, por inteiro, Emmi e Leo, acompanhando o desenvolvimento tanto da relação que os dois tecem entre si como o crescimento pessoal de cada um deles. O facto de o seu aspecto exterior ser igualmente restrito, dentro da narrativa e fora dela, cria ainda uma aureola misteriosa e curiosa em torno de ambos.
Outro dos aspectos dignos de glorificação de Quando Sopr@ o Vento Norte cinge-se à profundidade da escrita e dos sentimentos, que é simplesmente brilhante. Está tudo à flor da pele – ou devo dizer, à flor do ecrã? –, tudo a um passo tão pequeno de distância. Confidências íntimas e vulgares que são partilhadas pela possibilidade inegável e extrema do anonimato. Uma provocação sublime ao subconsciente humano de interacção desmedida assim como ao facilitismo que a componente virtual e electrónica coloca à disposição de qualquer um.
Finalmente, a persistência de um encontro iminente. Será agora? Hoje ou amanhã? E o que acontecerá? Como é ela? Como é ele? A incógnita em relação a cada uma destas questões torna o romance dinâmico, curioso e agitado. Vibrante até. Porém, e embora tenha sido anunciado, pela Porto Editora, o lançamento, em breve, da sequela desta obra, o fim de Quando Sopr@ o Vento Norte não só deixa um sentimento de algo que fica por completar, de uma curiosidade mórbida em se saber o que vai acontecer a seguir face a uma infinidade de conclusões como também serviria na perfeição como desfecho de uma história que, logo à partida, dificilmente contaria com um final feliz.
Esta é a história que todo o leitor gostaria de viver um dia. De certa forma, compreendo este romance com uma outra intensidade uma vez que passei por uma experiência um tanto ou quanto semelhante. Para mim, o entusiasmo encontrado, o aperto no coração quando se vê o remetente do e-mail que chegou, as borboletas no estômago enquanto se lê a mensagem, o sorriso que automaticamente se espalha pelos lábios... são sensações que recordo com uma certa saudade e nostalgia. Sensações que adoraria voltar a sentir.
Quando Sopr@ o Vento Norte é um romance que marca pela sua simplicidade e credulidade. Uma narrativa impossível de parar de ler, de uma energia imensa e de um impacto profundo. O final, algo súbito, deixará o leitor capaz de matar por mais, com um choque descomunal bem no centro do estômago. Confesso que fiquei segundos, talvez mesmo minutos, a olhar a última página... a reler a última mensagem... sem saber ao certo como reagir. Daniel Glattauer soube exactamente como me surpreender e posso afirmar, sem receios ou rodeios, que mal posso esperar pela continuação.