segunda-feira, 13 de junho de 2011

Senhora Vingança, Fernando Ribeiro



Título: Senhora Vingança
Autoria: Fernando Ribeiro
Editora: Gailivro
Colecção: 1001 Mundos
Nº. Páginas: 150


Sinopse:

E eis que exercemos as nossas pequenas vinganças.

Senhora Vingança é fruto da imaginação de Fernando Ribeiro, vocalista e letrista da banda de Heavy Metal Portuguesa, Moonspell. Tendo já feito incursões pela literatura, esta é a primeira vez que escreve um livro de contos.

Em cenários onde a vingança é rainha,
entre Vampiros e Políticos, políticos vampiros
e vampiros políticos, Fernando Ribeiro exerce um
implacável acerto de contas com os mais diversos
personagens em dois contos onde a ficção se aproxima
perigosamente da realidade.


Opinião:

Mito Urbano – história, personagem ou coisa, que existe por mera hipótese ou que transpõe um fundo de verdade, que circula de boca em boca, de geração em geração, reivindicando o medo e o terror naquele que a escuta, percepciona, vê.
Um mito urbano é algo que, de forma inexplicável e sem qualquer possibilidade de controlo, exerce em nós uma sensação de desconforto, de agonia e emoções contraditórias perante um escutar atento de algo impossível de credenciar. Um mito urbano é, na sua essência, o alastrar de uma perturbação distinta e singular por forma a exercer um tipo forte de domínio sobre alguém, através do pânico, do perigo e do susto.
Numa colecção diferente, Mitos Urbanos, mas indo, na mesma, um pouco de encontro à singularidade e variedade de gostos a que a 1001 Mundos tem vindo a habituar o seu público, Senhora Vingança é, infelizmente, um primeiro volume que deixa ligeiramente a desejar... por algo mais. O conceito é interessante, duas histórias distintas entre si que partilham uma mensagem comum, mas confesso que, de puro mito urbano, pouco encontrei. Não senti qualquer pavor, qualquer temor, qualquer fragilidade... ao invés, acabei por soltar algumas gargalhadas e esboçar uns quantos sorrisos irónicos indo totalmente de acordo ao apresentado em texto.

Fernando Ribeiro, dotado de uma prosa algo lírica que facilmente convence e cativa, divida a sua Senhora Vingança em dois pequenos mas incrivelmente intensos contos – TRVE e Exercício de Cidadania. No primeiro, demonstrando uma sátira à banalidade que o vampirismo e o ser vampírico se tornou, ele apresenta uma história centrada no crescente interesse, por parte de um público mais teen, perante uma modernização do conceito de homem-vampiro. Caracterizando este ser sobrenatural como um adolescente ou jovem adulto que usa ganga e blazers e que se recusa a alimentar-se de sangue humano, Fernando Ribeiro pega – pelo menos foi essa a associação que mentalmente criei – numa autora mundialmente conhecida (e pelo sobrenome qualquer leitor chegará lá) cuja vida mudou radicalmente dado a um sucesso literário estrondoso. O que essa senhora de pouca habilidade escrita não sabe é que um grupo de jovens verdadeiramente puros de sangue procuram concretizar uma vingança que abalará o ínfimo mundo de todos os presentes...
No segundo conto, Exercício de Cidadania, Fernando Ribeiro mostra um profundo olhar interno perante uma sociedade política falsa e vazia. Criticando a actualidade de um Portugal à beira de um inabalável colapso, o autor expõe os seus pensamentos sociais e políticos em personagens que procuram a sua justiça através da aniquilação daqueles que nada de bom fazem a um país fragilizado.
Em termos de leitura, admito ter sentido falta de mais diálogo, mais interacção entre personagens. Senti-me um pouco encurralada perante tanta descrição – a nível narrativo e emocional –, diante de um debitar de sentimentos e ideias contrárias ao presentemente encontrado. Porém, todo o estilo de poeta e quase sonhador com que o narrador é levado a percorrer os dois contos, acaba por compensar e justificar-se um pouco. Ainda assim, reforço a ideia de uma sensação algo incompleta no que diz respeito ao encontro, em Senhora Vingança, do tema que a colecção em si representa. Embora se possa dizer que estamos perante um mito urbano em última instância social e moderno, que interpreta a utopia que ainda hoje se tenta alcançar, de uma literatura sem horrores e uma sociedade perfeita, continuo a crer que, finda a leitura, algo fica a faltar. Contudo, deixo aqui uma nota muito positiva para a capa – que é incrivelmente chamativa – e para o tamanho, de fácil transporte.

Senhora Vingança é um pequeno grande livro. De reflexão e introspecção obrigatória, Fernando Ribeiro expõe o seu imenso intelecto no primeiro livro de contos de sua autoria, publicado com a chancela 1001 Mundos, Gailivro. Uma obra diferente, que diverte e, ao mesmo tempo, transmite uma certa urgência de mudança e ponderação, e que oferece uma tarde de leitura bem passada. Apesar de não ter ficado totalmente satisfeita, aguardarei com relativa curiosidade a restante colecção. Segue-se Raphael Draccon, com o seu já publicado Espíritos de Gelo.

4 comentários:

barroca disse...

boa opinião! estava curiosa sobre o título e já vi que é uma boa aposta.

Juanitah Nunes disse...

estou indecisa entres senhora vingança e o espiritos de gelo do Draccon.. ja' conheço a poesia de Fernando Ribeiro através do "Feridas Essenciais" do qual gostei bastante..
fico 'a espera da tua opinião sobre o espiritos de gelo miga, para me decidir em relação a qual irei comprar ;)

Elphaba disse...

Patty… Upa! Upa!

Boa crítica sim senhora. :D

Será uma das minhas próximas leituras espero ficar mais satisfeita o que no meu caso é normal! Beijinhos*

Pedacinho Literário disse...

Barroca, é uma boa aposta para quem gosta deste tipo de livros mais intenso e social. Não vou dizer que desgostei mas, infelizmente, não fiquei totalmente encantada.

Juanitah, o do Draccon ainda vai demorar um bocadinho. Mas giro giro é fazeres a colecção, miga, que é o que eu vou fazer. eheheheh :)

Elphaba, quero saber depois qual a tua opinião, já sabes. Vais ler num instantinho, numa tarde até, vais ver. :)

Beijinhos**

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