Antes de mais, quero lamentar o atraso na divulgação dos vencedores deste passatempo. Tal deveu-se ao facto de ter recebido muito boas respostas e, infelizmente, como nem todos podem ganhar, precisei de algum tempo para limitar as possibilidades e, assim, escolher somente duas participações. Por muito tempo estive dividida entre três vencedores mas visto só haver dois prémios e uma dessas participações (embora incrivelmente criativa e dotada) não ter preenchido todos os requisitos do passatempo, aqui ficam as respostas escolhidas.
Fora do habitual, e uma vez que este passatempo foi sobre prazeres inconfessos, não indicarei a identidade dos vencedores, somente as suas respostas. Estes serão contactados unicamente por e-mail.
Os dois exemplares a sorteio do livro Prazeres Inconfessos, da autora Laurell K. Hamilton, gentilmente cedidos pela 1001 Mundos, vão para:
"Devaneio-me pelas ruas e apresento-me às pessoas escondendo aquilo que sinto no interior de mim. Mantenho em segredo que a minha alma está apagada, que a tristeza se instalou em mim como uma carraça que não larga um cão. Faço isso porque não quero ver quem eu gosto e quem gosta de mim preocupado nem a tentar reanimar-me para o que de melhor há na vida, já que eu sei que isso não me iria mudar em nada. E é nos momentos que estou sozinho que me liberto desta redoma. Solto a minha raiva, a minha tristeza e a minha nostalgia em lágrimas que não param de me inundar os olhos, que outrora viram a felicidade alcançada a pouca distância... E após estar mais aliviado, recorro a esse tempo de felicidade que resolvi preservar num papel. Pego em fotografias antigas, observo todos os detalhes e tento reviver tais emoções. Custa e dói. Mas ainda assim se tirar o máximo de proveito destes retrocessos que a minha memória executa, é possível remendar o que se rasgou com o sofrimento e transferir uma pontada da alegria passada para o presente que dela tanto necessita."
"Mexo e remexo numa gaveta escondida no fundo do armário do canto. Aquele a que ninguém liga por ser velho e desinteressante. Está cheio de pó até às entranhas. Todos o vêem, mas fingem que não. E é por isso que é seguro. O meu esconderijo.
Algures por entre um emaranhado de cartas perdidas, fragmentos de memórias e retalhos do passado, está um pedaço de mim. Um rasgo da minha essência oculta, mas que me revela. Há anos que venho aqui às escondidas. Podia dizer a toda a gente, mas deixaria de ser o meu segredo. Deixaria de ter a magia e o secretismo tão próprios de tudo quanto é intimo e oculto.
Os meus dedos envelhecidos pelo tempo e trémulos por culpa da Parkinson encontram o meu objecto de deleite. Foi há quase cinquenta anos. Nos raros momentos em que me atrevo a roçar levemente o assunto, dizem que sou maluco por ainda me lembrar disso. Que gosto de sofrer e ser, dizem os mais novos, um tosco masoquista. Pois é! Mas a minha memória, ainda que envolta pela nebulosa do tempo, não esquece.
O meu primeiro e único livro. Aquele que saiu do meu cérebro, passou pelos meus dedos e através da minha velha Parker, impregnei no papel. É um manuscrito. Naquele tempo não era fácil publicar e eu sei que nunca fui um Fernando Pessoa. Mas tinha um sonho: a escrita.
Filho da enxada, nunca dela consegui fugir. O trabalho do corpo acabou por ganhar ao da mente. No meio onde sempre vivi e de onde nunca consegui sair, as letras são perda de tempo. Não para mim! Aos meus olhos, a dança incansável de letras que se transformam em palavras e as palavras que dão vida a ideias e sonhos são, e serão sempre, o meu prazer. Até ao meu último piscar de olhos."
Obrigado a todos!
Votos de boas leituras, boas férias e um excelente fim-de-semana.
2 comentários:
Há muita gente, no nosso país, a escrever muito bem.
Parabéns a estes dois vencedores! :)
Estive a reler os textos, é interessante como quase que se complementam! Tem partes que parece o mesmo narrador! Muito bom mesmo :D Quantas horas p decidir quem vence, hein? Eu acho que não conseguia optar! lolll
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