domingo, 28 de agosto de 2011

Aquele Verão na Toscana, Domenica de Rosa



Título Original: Summer School
Autoria: Domenica de Rosa
Editora: ASA
Nº. Páginas: 319
Tradução: Margarida Luzia


Sinopse:

Todos os anos, Patricia O’Hara abre as portas do seu magnífico castello do século XIII e organiza um curso de escrita criativa na deslumbrante região da Toscana.
Mas este ano, algo paira no ar quando os sete aspirantes a escritores se juntam à beira da piscina para trocar mexericos, namoriscar e escrever o livro das suas vidas. Em pouco tempo, Mary, a solteira convicta, descobre os encantos de partilhar uma Vespa; o sedutor Jeremy rende-se a talentos que não apenas os seus e até a pragmática Patricia vai arranjar tempo para uma paixão acidental.
Graças a esta mistura explosiva de egos e criatividade, segredos obscuros e visitantes inesperados, uma coisa é certa: nunca se assistiu a um Verão como este.
Quando o curso chegar ao fim, as suas vidas terão mudado para sempre. E um deles chegará mesmo a escrever um livro...


Opinião:

Ler é, acima de tudo, um prazer. Uma forma de entretenimento, de lazer e de fuga face um dia-a-dia esgotante e praticamente rotineiro. E é por isso que se torna imprescindível encontrar autoras interessantes que estejam dispostas a desafiar a escrita e que apresentem boas historias e personagens confiantes no seu magnetismo e intelecto. Domenica de Rosa consegue tudo isso e bastante mais e Aquele Verão na Toscana foi, a nível pessoal, uma estreia radiante tendo em conta uma autora, para mim, até então desconhecida.

Pessoalmente, encontro em Itália uma inesgotável fonte de inspiração e talvez seja por isso que adoro devorar romances em que alguma das suas fabulosas cidades seja retratada como pano de fundo. Em Aquele Verão na Toscana, e em concordância com muitos outros romances do género, o cenário e as descrições são de tirar o fôlego. Toda a comida que circunda o enredo e as belas paisagens de cidades perdidas no meio de imensas montanhas e de grandes metrópoles turísticas são simplesmente fantásticas, possibilitando ao leitor retirar tanto um ensinamento profundo como uma experiência mais próxima e vivida com os locais e as personagens. As sensações transmitidas são incríveis e é impossível não se criar água na boca perante tão belas e deliciosas iguarias. Neste aspecto, Domenica de Rosa criou a personagem perfeita para enquadrar o papel de típico cozinheiro italiano, mostrando não só um atento cuidado com a tradição e culturas italianas como um desenrolar e consequente crescimento da personagem em si – Algo. Quanto ao panorama e,  principalmente, às exposições descritivas do deslumbrante castello toscano, de Rosa não poderia ter escolhido melhor protagonista – Patricia – por forma a trespassar um saber muito preciso e encantador de uma Itália quase rural e extremamente humana e naturalista.

Sendo tão distintas entre si e oriundas de backgrounds diferentes, todas as personagens que enchem este livro de vida destacam-se pelas suas pequenas particularidades, traumas passados e personalidades vorazes, conferindo assim uma certa vivacidade, muito apreciada, à trama. Individualmente podem parecer indivíduos estranhos com manias e interesses pessoais mas a verdade é que, em conjunto, são simplesmente perfeitos. A harmonia do convívio, o espírito crítico e apreciador de uma boa lição de escrita, a curiosidade pelas paisagens idílicas de uma Itália bella e as surpresas que tendem a surgir nos momentos menos aguardados perfazem de Aquele Verão na Toscana um romance obrigatório para todos aqueles que não conseguem resistir a um ambiente quente, romântico e (para muitos) paradisíaco em que a intriga e o romance se conjugam de forma exímia. A nível pessoal, adorei Matt, o filho rebelde de Patricia e o jovem Fabio que, sempre misterioso, acaba por suscitar grande interesse no leitor. Juntos, facilmente deixarão o leitor em pulgas por descobrir ambos os desfechos. Especificamente referente ao grupo que assombra o Verão no castello  de Patricia, gostei imenso de Anna e Mary. Ambas genuínas, são uma lufada de ar fresco e de humanidade amorosa e condescendente perante um bando de pessoas mesquinhas, pretensiosas e interesseiras. O que me leva ao aspecto mais importante deste grupo de personagens – é que ao ser mostrado o lado bom e o lado mau de cada um deles, o leitor fica livre de os adorar ou de os odiar... e, na sua essência, não há nada como conseguir criar uma empatia, ou revolta, com “aquelas” pessoas que nos fazem avançar na leitura de um determinado livro.

Dotado de uma trama bem construída e extremamente interessante e envolvente, Domenica de Rosa agarra o leitor e embala-o numa deslumbrante viagem pela sua auto-descoberta literária. Ainda que, inicialmente, seja transparecida a sensação de se estar perante um enredo lento e excessivamente pormenorizado, tal sensação rapidamente é afastada para o lado com o desenrolar expressivo e caloroso da narrativa em si. Posso afirmar ter ficado fascinada com a recta final deste Aquele Verão na Toscana, completa e perfeitamente embasbacada com o contínuo aparecer de surpresa atrás de surpresa, questão atrás de questão e palpitação atrás de palpitação... Foram, sem dúvida, esses desfechos finais e acontecimentos inesperados, os momentos mais altos de toda a obra e só por eles vale bem a pena a leitura da mesma.

Fiquei igualmente agradada com a possibilidade de uma trama mais rica e profunda do que a maioria encontrada em romances deste género. Ou seja, os temas abordados ao longo da narrativa não se cingem pela superfluidade mas sim pelo seu elevado grau de veracidade e passibilidade de acontecerem. Por exemplo, ao falar-se de maus tratos infantis, mentiras num casamento, vaidade exacerbada, ingenuidade e problemas financeiros, para apenas nomear alguns, e ao ir-se ao fundo das suas consequências, a forma como é expressa a continuidade da narrativa adquire uma consistência mais forte e dinâmica – muito próxima do real. O que, por si, incita o leitor a querer esmiuçar cada uma das personagens, cada uma das situações mais problemáticas e cada uma das graciosidades prestadas.

Aquele Verão na Toscana, na sua simplicidade, não só cativa o leitor como faz por se mostrar diferente, descrevendo um curso de escrita que servirá de mote futuro para algumas alterações nas vidas dos seus participantes – e não só! Serão esses momentos reflexivos e onde tudo parece tornar-se, por vezes, um pouco louco e descontrolado que farão o leitor devorar página atrás de página, sequioso por descobrir um pouco mais sobre aquilo que aguarda cada uma das personagens. Não sendo um livro perfeito – é inevitável encontrarem-se algumas falhas nem que seja no simples gosto de cada leitor – este é, sem sombra de dúvida, um pedacinho de Itália que agradará a muitas apreciadoras de um romance intenso, algo complexo e decididamente pitoresco. Mais uma excelente aposta da ASA.  

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