Título Original: Gone
Autoria: Michael Grant
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 455
Tradução: Victor Antunes
Sinopse:
Num abrir e fechar de olhos, todos
desapareceram.
Todos menos os mais novos: os
adolescentes, os alunos dos primeiros anos, as crianças pequenas. Não ficou um único
adulto. Não havia professores, nem polícias, nem médicos, nem pais. Como também
de repente deixou de haver telefones, internet e televisão. Nenhuma maneira de
perceber o que se tinha passado. Nenhuma maneira de pedir auxílio.
A fome é uma ameaça. A lei é
imposta pelos mais fortes. Uma criatura sinistra aguarda na sombra a sua
oportunidade. Os animais sofrem mutações. O mesmo acontece com os próprios
adolescentes – que adquirem poderes estranhos, inconcebíveis, mortíferos –, que
se vão desenvolvendo e afirmando de dia para dia. Um terrível mundo novo.
Definem-se facções, o confronto é inevitável. Os miúdos da cidade contra os
meninos ricos. Os mais fortes contra os mais fracos. Os que têm poder contra os
que não o têm. E o tempo escoa-se inexoravelmente. Todos, sem excepção, estão
condenados a desaparecer no dia em que completarem quinze anos.
Opinião:
Sensacionalmente espectacular, foi com este pensamento em mente
que terminei a leitura de Desaparecidos. E, agora, pergunto-me: poderia
ser de outra forma?
Este é um livro fabulosamente bem
escrito e coerente. Cativante e expectante. Até ao último momento tudo pode
acontecer e é essa expectativa e iminente insegurança e surpresa que motiva o
leitor a continuar a folhear página, atrás de página, atrás de página.
As personagens principais e mais
enaltecidas neste primeiro livro são simplesmente únicas, completamente
diferentes entre si com medos e desejos distintos, perfeitas à sua maneira e
extremamente comovedoras e emocionantes. Sam Temple assume a liderança,
apresentando-se com uma personalidade forte, mente certa e atitude convicta.
Ainda que, por diversas vezes, se sinta abalado com tudo o que está a acontecer
à sua volta e sem saber bem como agir, Sam é uma personagem que se mantém
robusta do começo ao fim, assumindo um papel de líder ou chefe quando necessário
e sempre procurando encontrar o melhor termo de igualdade e sobrevivência entre
e para todos. Este último é o aspecto mais importante de toda a nova e
incompreensível jornada por que todos passam – acima de tudo, sobreviver.
Astrid Ellison, ou mais conhecida
como Astrid, o Génio, é, sem sombra de dúvida, a figura feminina que
mais se destaca pela forma madura e adulta com que se esforça por solucionar
problemas inesperados, com que cuida do irmão mais novo e doente mesmo sabendo
o segredo que ele obscuramente guarda e, principalmente, pela maneira como
parece ser o elo sólido e solidário que serve de ligação e compromisso entre
Sam Temple e outras personagens ligeiramente mais secundárias.
Caine Soren foi uma surpresa,
assim como Diana Ladris e Drake Merwin. Pertencendo aos ditos ricos e problemáticos
alunos da Coates Academy, são personagens que se integram muito bem nas
diversas fases mais susceptíveis, perigosas e maquiavélicas da narrativa.
Caine, o Intrépido Líder dos “anormais” da Coates é constante no perseguir de
um sonho – ser o responsável por todos os jovens e crianças de Perdido Beach e
da Coates assim como o mais poderoso dos anormais – ou seja, daqueles
que detém o poder. Diana é algo subversiva e, por vezes, dúbia, deixando o
leitor na expectativa de que, talvez, abra os olhos e mude de lado mas, ainda
assim, consciencializando o mesmo do seu lado mesquinho e puramente negro e
mau. Finalmente, Drake. Drake é cruel, agressivo e feroz a um nível que eu
nunca antes tive oportunidade de ler. Se por vezes sentimos uma certa e algo
improvável empatia com ele, rapidamente nos vemos forçados a redobrar o nosso
sistema de segurança pela imprevisibilidade e excentricidade que Drake é capaz
de mostrar de um momento para o outro. Contudo, é uma personagem que
decididamente surpreende pela personalidade fixa e imutável, ainda que esta vá
progredindo a níveis exacerbados de diabolismo durante o desenrolar da história.
O enredo, para além de
brilhantemente bem construído e pensado, é também imensamente criativo e
inovador. Imagine-se o caos que seria se, numa fracção de segundo – num autêntico
abrir e fechar de olhos –, todos os maiores de quinze anos desaparecessem não
se sabe para onde... e, para piorar, se igualmente deixasse de haver internet,
televisão e telefone e a corrente eléctrica existente passasse a ser uma
incerteza no que diz respeito a saber-se em concreto a duração de tempo em que
continuaria a ser sustentável... Agora, acrescente-se a racionalização da
comida, a tentativa de descoberta do que se está a passar, o pânico e desespero
presente um pouco por todo o lado, a muito pouco provável sobrevivência dos
mais pequenos, etc....
Michael Grant criou, em Desaparecidos,
uma trama de suster o fôlego da primeira à última frase. Às tantas, o leitor
sente-se tão desconfortável e irrequieto perante uma desumanidade e violência
gritantemente atroz e triste que nem sabe bem para que lado se virar. É o
realismo e a ferocidade com que Grant presenteia o seu público que faz, deste
seu primeiro volume de uma série no mínimo esplêndida, um dos livros mais
perturbadores e conscientes que tive o prazer de ler. Em última instância, Desaparecidos
foi um livro que adorei folhear. Este é comovente, inquietante e recheado de
surpresas do princípio ao fim. Quando o leitor acredita não ser capaz de se ver
novamente surpreendido, é quando Grant dá a volta a tudo o que então ficou
conhecido para apresentar uma versão ainda mais dominadora e bárbara que a
anterior. Apesar de se tratar de uma obra juvenil e direccionada a um público
mais jovem dada a linguagem simples e quase cinematográfica, a idade das
personagens e alguns momentos escritos, não creio que o seu conteúdo possa ser
profunda e completamente apreendido por uma camada de leitores tão nova.
Pessoalmente, vejo Desaparecidos como um livro juvenil escrito para
adultos. E, sinceramente, mal posso esperar para saber que segredos e
selvajarias esconde a Sombra, que mais irá acontecer na ZRJ – Zona
Radioactiva Juvenil –, e quanto mais sombrios e selvagens se tornarão os seus
habitantes.
Uma estreia
perfeita. Um livro que todo o amante de ficção científica e até de fantasia
deveria de ler. Muito, muito bom. Agora, que venha FOME!
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