Título Original: Péchés Misgnons e Chasse à L’Homme
Autoria: Arthur de Pins
Editora: Contraponto
N.º Páginas: 171
Tradução: Susana Silva
Sinopse:
Arthur é um rapaz um pouco tímido, mas bem-disposto,
desportista ocasional, fumador (também) ocasional, amigo do seu amigo,
divertido, girinho, segundo as amigas... e absolutamente obcecado por mulheres.
Não pode ver uma rapariga bonita que fica a pensar nela horas a fio, e consegue
seguir um fio dental a sair de uns jeans durante quilómetros. É capaz de cortar
o cabelo quase à máquina zero só para espreitar o decote da cabeleireira mais
uns minutos, e o seu sorriso palerma é conhecido por todas as miúdas giras do
bairro.
Mas Arthur não é nenhum Don Juan; é bem capaz de se
apaixonar e de entregar o seu coração, e vive relações muito felizes... até ao
momento fatal em que elas perguntam: «Em que é que estás a pensar, querido?»
Tudo muda no dia em que conhece Clara.
Esta miúda de espírito livre, respondona e muito senhora do seu nariz apanhou-o
pelo coração (e outros órgãos). Mas será que Clara e Arthur conseguirão
prescindir dos pequenos prazeres da vida de solteiros?
Opinião:
Entre as saias de uma mulher, o decote de uma jovem ou as pernas de uma
senhora, existe uma personagem animada capaz de tudo por um pequeno, ínfimo,
vislumbre de pele humana. Alta ou baixa, magra ou com uns quilitos a mais, morena,
ruiva ou loura, o que interessa é que esteja bem equipada... e que seja, não só
versátil, como aventureira. Mas o que estará este rapaz disposto a fazer, a
prescindir, quando o cúpido lhe acertar com a sua famosa flecha do amor?
Pequenos Prazeres trata-se de um livro verdadeiramente humorístico, brilhantemente ilustrado
com imagens apelativas, de tons exuberantes, e excelentemente escrito quando o
objectivo é entreter o seu leitor e, acima de tudo, fazê-lo soltar umas
quantas, muitas, gargalhadas.
Arthur de Pins é magnífico no seu estilo descontraído e até algo mundano,
cativando ao virar da primeira página quando fica bem patente o conteúdo explícito,
provocador, e deveras divertido, da restante obra que se encontra pela frente.
A sua escrita é simples, em concordância com o género da banda desenhada, e as
suas ilustrações são maravilhosamente estupendas, sendo não só portadoras de
uma graça sem igual como, em equivalente medida, de uma grafia decididamente atractiva
ao olhar.
Os habitantes destas páginas são muitos, e todos eles especiais à sua
maneira. Mil rostos percorrem mil e um quadradinhos de BD, mas quem
asseguradamente capta a atenção do leitor é um Arthur em desespero, lascivo,
exuberante e recheado de todo o tipo de artimanhas e facetas. O seu modo de
estar, a sua personalidade e a esperteza com que se apresenta em situações de
vergonha extrema, sensualidade ritmada ou provocação dissimulada, é a cereja no
topo do bolo de uma viagem inigualável pelo campo travesso da mente masculina. Uma
personagem que deixa muito a descoberto, e que não tem qualquer receio ou pudor
em se mostrar exacta e precisamente tal e qual como é.
Dividido em duas partes,
dois momentos bastante promissores e revolucionários na vida de um protagonista
decididamente singular, este enredo permite percepcionar dois lados,
comportamentos, distintos. Enquanto que no «antes» se observa um desligamento sério,
seguro e fiel em relação a uma vida pontuada pela companhia de uma só mulher,
no «depois» sente-se uma certa necessidade de que isso venha a acontecer, embora
todos os ensinamentos, hábitos e desejos anteriores se continuem a manifestar. Contudo,
são esses instantes, ocasiões remotas no tempo, os pontos ostentosamente cómicos
que, por consequência, acabam por originar outras situações inacreditavelmente
espirituosas.
Este é, sem dúvida, um
livro que qualquer tipo de leitor ou mero apreciador de banda desenhada irá adorar ler, pois é um facto que inseridos na trama se encontram inúmeros temas
actuais, modernos, da sociedade em que vivemos. Abordando questões como a
infidelidade, a insegurança pessoal, o descompromisso ou a necessidade de se
chegar a um acordo consensual dentro de uma relação, no seu conjunto, estes «assuntos»
formam somente uma pequena, fragmentada, parte de um enredo que se revitaliza,
que se exibe, pela eterna tentação, desafio e jovialidade. Mas, ainda que algo
dissimuladas, estas pequenas mensagens e situações não deixam de ser parte
integrante no conteúdo narrativo.
Para mim, Pequenos Prazeres foi uma leitura
magnificamente deliciosa, sempre em constante delírio e simplicidade que, no
final, me deixou com um gigantesco sorriso nos lábios. Um livro que li de uma
assentada, que não descansei enquanto não terminei, e ao qual não consegui
resistir.
Uma belíssima aposta por
parte da Contraponto, que continua a surpreender os seus leitores com
obras únicas e diferentes. Sempre a marcar pela diferença...
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