Título Original: Alle sieben wellen
Autoria: Daniel Glattauer
Editora: Porto Editora
Nº. Páginas: 239
Tradução: Susana Mendes
Serrano
Sinopse:
Emmi e Leo são os
protagonistas de um amor virtual arrebatador, que passou por todo o tipo de
emoções, menos a de um encontro físico. A relação, iniciada no irresistível Quando sopra o vento norte, parece ter
chegado a um impasse. Leo decide partir para os EUA, renunciando a um amor
impossível.
Quando regressa, longos
meses depois, o encontro entre ambos concretiza-se. Mas Emmi continua casada e
Leo tem em Pamela o amor estável com que sempre sonhara.
Só que, na verdade, os dois
amantes nunca estiveram mais apaixonados. Conseguirão eles, por fim, vencer o
destino que parece teimar em separá-los?
Opinião:
O que começou como um
equivoco, um acaso, uma brincadeira inocente, rapidamente ganhou proporções
inimagináveis. Primeiro, vieram as provocações, as respostas constantes, necessárias,
sofríveis. Depois, as insinuações, as demonstrações de afecto virtual, as
palavras doces e bonitas... mas no final, com um encontro físico iminente, próximo,
sobranceiro, veio também uma ruptura abrupta. Agora... Bem, agora surge um
regresso há muito esperado, uma insistência e vontade sublimes e também uma ténue
luz brilhante, de esperança, ao fundo de um túnel perpetrado pela escuridão.
Emmi e Leo – A sétima ond@ trata-se de um romance inovador, transcendente, pontuado por uma
hilaridade provocadora capaz de enternecer – ou manter em suspenso – o mais
caloroso e romântico dos corações. Sendo uma história de amor, mas igualmente
de tristezas, de alegrias e íntimos infernos, de casualidades e de maus
sentidos de oportunidade, esta é também a trama que vem dar continuidade – e,
consequentemente, apresentar um desfecho – a um dos mais estruturalmente
revolucionários, próximos da realidade e modernos enredos que tive o prazer de
ler ao longo destes anos literários.
Daniel Glattauer é
particularmente soberbo na forma como compõe os seus diálogos, que nem notas
soltas numa pauta estrelada de música; no modo como constrói toda a interacção
entre os protagonistas e, principalmente, na intensidade que confere a cada
troca de e-mails, cada insegurança, cada desafio, cada loucura.
Persistindo uma narrativa a
duas personagens, tanto Emmi como Leo acabam por alcançar outra magnitude,
outra carência e despertar da nostalgia num leitor que se habituou ao conflito
interno e pessoal do qual estes dois protagonistas não conseguiram escapar. Os
problemas continuam presentes, vibrantes, mais intensos e dominantes que nunca,
mas também o conhecimento, a partilha e o conforto por parte «daquele que está
do outro lado» ganha forma, e terreno, numa luta de emoções e passados
irresolutos que não se afigura nada fácil.
Estes são dois
intervenientes que, a mim, vão deixar saudades. Ela, Emmi, pelas suas indecisões,
questões, aberturas e força de espírito. Pela paixão que transmite, o desejo
que reprime e os riscos que, ocasionalmente, decide tomar. Ele, Leo, pelas
palavras doces que escreve num estado de embriaguez avançado, pelas incitações,
pelas contínuas perguntas, procuras de saber, tentativas de avanço exterior.
Mas aquele ponto, aquele pequeno, ínfimo, quase invisível ponto, bem no centro
da mão, onde a linha da vida curva em direcção à artéria, esse ponto, esse
catapultar de emoções, de saudade, de desespero. Esse acanhado, minúsculo
ponto, difundido por palavras, por promessas, por desejos e anseios... é algo
que ficou - e ficará -, em mim, marcado.
A nível pessoal, vejo Emmi e Leo – A sétima ond@ como um romance
de imperfeições e quereres. A imperfeição da traição, a imperfeição de um
relacionamento seguro, calmo e subtil, mas também o querer algo mais, o não
querer abandonar, esquecer, deixar partir. E com uma linguagem tão calorosa, próxima,
poética, fica impossível ao próprio leitor desligar-se, afastar-se, do reboliço
de emoções e sentimentos, vontades e ambições presentes neste enredo. Um livro
que levo o «e se...» a um outro patamar da escrita, da consciência, do coração.
Um livro que faz abrir os olhos para as oportunidades que, por vezes, podem
escapar por entre os dedos e nunca mais voltar. Uma história bela, apaixonante,
irrepreensível e cativante, que agarrará o leitor até à última página, ao último
e-mail, ao último dizer.
Sem sombra de dúvida, uma
brilhante aposta Porto Editora, num autor e romance que marcará a
diferença e que, de certo, será do agrado de um público vasto e diversificado.
Excelentemente escrita, profundamente enraizada, provocadoramente intelectual e
sentimental, esta é uma obra que não quererá perder. Vai deixar muitas, muitas saudades, depois de inúmeros sorrisos.
Excerto:
«Querida Emmi, na palma da minha mão esquerda, mais ou menos no meio, onde a linha da vida curva em direcção à artéria, intersetada por largas linhas em arco, encontra-se um ponto. Olho para ele, mas não o consigo ver. Fixo-o, mas ele não se deixa agarrar. Só o consigo sentir. Sinto-o mesmo com os olhos fechados. Um ponto. Sinto-o com tanta força que fico tonto. Pica, faz cócegas, aquece-me, excita-me. Impulsiona o meu sistema circulatório, controla a minha pulsação e define os intervalos dos meus batimentos cardíacos. [...]», pág. 67.
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