terça-feira, 19 de junho de 2012

Emmi e Leo - A sétima ond@, Daniel Glattauer [Opinião]




Título Original: Alle sieben wellen
Autoria: Daniel Glattauer
Editora: Porto Editora
Nº. Páginas: 239
Tradução: Susana Mendes Serrano


Sinopse:

Emmi e Leo são os protagonistas de um amor virtual arrebatador, que passou por todo o tipo de emoções, menos a de um encontro físico. A relação, iniciada no irresistível Quando sopra o vento norte, parece ter chegado a um impasse. Leo decide partir para os EUA, renunciando a um amor impossível.
Quando regressa, longos meses depois, o encontro entre ambos concretiza-se. Mas Emmi continua casada e Leo tem em Pamela o amor estável com que sempre sonhara.
Só que, na verdade, os dois amantes nunca estiveram mais apaixonados. Conseguirão eles, por fim, vencer o destino que parece teimar em separá-los?


Opinião:

O que começou como um equivoco, um acaso, uma brincadeira inocente, rapidamente ganhou proporções inimagináveis. Primeiro, vieram as provocações, as respostas constantes, necessárias, sofríveis. Depois, as insinuações, as demonstrações de afecto virtual, as palavras doces e bonitas... mas no final, com um encontro físico iminente, próximo, sobranceiro, veio também uma ruptura abrupta. Agora... Bem, agora surge um regresso há muito esperado, uma insistência e vontade sublimes e também uma ténue luz brilhante, de esperança, ao fundo de um túnel perpetrado pela escuridão.

Emmi e Leo – A sétima ond@ trata-se de um romance inovador, transcendente, pontuado por uma hilaridade provocadora capaz de enternecer – ou manter em suspenso – o mais caloroso e romântico dos corações. Sendo uma história de amor, mas igualmente de tristezas, de alegrias e íntimos infernos, de casualidades e de maus sentidos de oportunidade, esta é também a trama que vem dar continuidade – e, consequentemente, apresentar um desfecho – a um dos mais estruturalmente revolucionários, próximos da realidade e modernos enredos que tive o prazer de ler ao longo destes anos literários.
Daniel Glattauer é particularmente soberbo na forma como compõe os seus diálogos, que nem notas soltas numa pauta estrelada de música; no modo como constrói toda a interacção entre os protagonistas e, principalmente, na intensidade que confere a cada troca de e-mails, cada insegurança, cada desafio, cada loucura.

Persistindo uma narrativa a duas personagens, tanto Emmi como Leo acabam por alcançar outra magnitude, outra carência e despertar da nostalgia num leitor que se habituou ao conflito interno e pessoal do qual estes dois protagonistas não conseguiram escapar. Os problemas continuam presentes, vibrantes, mais intensos e dominantes que nunca, mas também o conhecimento, a partilha e o conforto por parte «daquele que está do outro lado» ganha forma, e terreno, numa luta de emoções e passados irresolutos que não se afigura nada fácil.
Estes são dois intervenientes que, a mim, vão deixar saudades. Ela, Emmi, pelas suas indecisões, questões, aberturas e força de espírito. Pela paixão que transmite, o desejo que reprime e os riscos que, ocasionalmente, decide tomar. Ele, Leo, pelas palavras doces que escreve num estado de embriaguez avançado, pelas incitações, pelas contínuas perguntas, procuras de saber, tentativas de avanço exterior. Mas aquele ponto, aquele pequeno, ínfimo, quase invisível ponto, bem no centro da mão, onde a linha da vida curva em direcção à artéria, esse ponto, esse catapultar de emoções, de saudade, de desespero. Esse acanhado, minúsculo ponto, difundido por palavras, por promessas, por desejos e anseios... é algo que ficou - e ficará -, em mim, marcado.

A nível pessoal, vejo Emmi e Leo – A sétima ond@ como um romance de imperfeições e quereres. A imperfeição da traição, a imperfeição de um relacionamento seguro, calmo e subtil, mas também o querer algo mais, o não querer abandonar, esquecer, deixar partir. E com uma linguagem tão calorosa, próxima, poética, fica impossível ao próprio leitor desligar-se, afastar-se, do reboliço de emoções e sentimentos, vontades e ambições presentes neste enredo. Um livro que levo o «e se...» a um outro patamar da escrita, da consciência, do coração. Um livro que faz abrir os olhos para as oportunidades que, por vezes, podem escapar por entre os dedos e nunca mais voltar. Uma história bela, apaixonante, irrepreensível e cativante, que agarrará o leitor até à última página, ao último e-mail, ao último dizer.

Sem sombra de dúvida, uma brilhante aposta Porto Editora, num autor e romance que marcará a diferença e que, de certo, será do agrado de um público vasto e diversificado. Excelentemente escrita, profundamente enraizada, provocadoramente intelectual e sentimental, esta é uma obra que não quererá perder. Vai deixar muitas, muitas saudades, depois de inúmeros sorrisos. 


Excerto:
«Querida Emmi, na palma da minha mão esquerda, mais ou menos no meio, onde a linha da vida curva em direcção à artéria, intersetada por largas linhas em arco, encontra-se um ponto. Olho para ele, mas não o consigo ver. Fixo-o, mas ele não se deixa agarrar. Só o consigo sentir. Sinto-o mesmo com os olhos fechados. Um ponto. Sinto-o com tanta força que fico tonto. Pica, faz cócegas, aquece-me, excita-me. Impulsiona o meu sistema circulatório, controla a minha pulsação e define os intervalos dos meus batimentos cardíacos. [...]», pág. 67.

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