Título Original: Uncle Montague’s Tales of Terror
Autoria: Chris Priestley
Editora: ArtePlural
Nº. Páginas: 166
Tradução: Joana Neves
Sinopse:
Edgar não resiste às cativantes histórias
de terror que o seu tio Montague lhe conta quando o vai visitar, do outro lado
do bosque. Mas qual será a ligação do seu tio a estas histórias sinistras?
Prepara-te para morreres de medo quando
descobrires o que o tio Montague é, afinal, o protagonista da história mais
terrífica de todas!
Um livro assustador... Terás coragem para
o ler?
Opinião:
Bem por baixo, no fundo, do
véu espesso, opaco, que caracteriza a mundanidade que julgamos como certa, como
verdadeira, existe uma realidade adversa, espectral, repleta de emoções. E
essas emoções, originárias da mais delicada e terrorífica profundidade do ser,
são as sinceras raízes que, entretecendo-se e recriando passados assolados pela
dor e pelo medo, provocam o real e levam-no a perder-se nas suas teias por toda
uma eternidade fantasiosa.
As Histórias de Terror do Tio Montague trata-se de uma narrativa breve, mas intensa,
que, adornada por tantas outras, no seu conjunto, perfaz uma maravilhosa
abordagem aos sentidos, intensificando os pequenos medos e desconfortos que,
invariavelmente, o ser humano mais sensível e susceptível – como, por exemplo,
eu – não consegue evitar deixar a descoberto.
Chris Priestley descreve,
de uma forma magnificamente clara e objectiva, quase em jeito de conversa,
todos os contornos aliciantes de uma personagem visualmente estranha e
atraente, bizarra, culminando numa revelação estrondosa que, de certo modo,
deixa o final deste livro em aberto.
Muitos são os rostos que se
mostram ao longo deste enredo, e todos eles são marcantes à sua própria
maneira, mas é este tio Montague aquele que ostentosamente seduz, desafia e
instiga. Os objectos peculiares que colecciona, a habitação decrépita que
partilha e a familiaridade, conforto, que transparece são, no mínimo,
fascinantes e a sua voz única e singular de contador de histórias provoca os
mais agradáveis arrepios. Mas também Edgar merece referência pela incontrolável
curiosidade e vontade de agradar a um tio que adora. O seu fascínio pelas histórias
de terror de Montague e a sua insistência para que seja desvendado somente mais
um conto sombrio, mais uma explicação para tão invulgar artefacto, são o
verdadeiro catalisador à leitura.
Todo o cenário que embeleza
a trama é deveras intimidador. Se por um lado temos uma casa meio abandonada,
povoada por espíritos irrequietos e pela solidão da eternidade, por outro temos
um bosque ameaçador e simbólico, que alberga no seu interior os mais
assustadores segredos... e habitantes. Contudo, muitas outras paisagens correm
pelas páginas deste livro, fortalecendo a atmosfera sombria e mística, bastante
brumosa, que se evapora por cada milímetro de papel, de tinta e de cor. Um
ambiente caloroso na sua ânsia, efervescente e calmamente negro.
Intensa provocadora de
arrepios, esta é uma narrativa indicada a qualquer leitor mas que, certamente,
um curioso mais jovem, na flor da idade, a conseguirá apreciar de uma outra forma,
muito mais intensamente. Uma forte e incrível aposta por parte da ArtePlural,
num autor que se faz acompanhar por ilustrações magnificas e muito dentro do género
e ambiência que o livro emana. Assim, não só ficam os parabéns àquele que deu
vida às personagens, como também os deixo ao ilustrador que, sem dúvida, fez um
trabalho rudimentarmente impressionante. Simples, bonito e... assustador. Gostei.