Título Original: Fifty Shades of Grey
Autoria: E. L. James
Editora: Lua de Papel
Nº. Páginas: 547
Tradução: Ana Álvares
& Leonor Marques
Sinopse:
Anastasia Steele é
uma estudante de literatura jovem e inexperiente. Christian Grey é o temido e
carismático presidente de uma poderosa corporação internacional. O destino levará
Anastasia a entrevistá-lo. No ambiente sofisticado e luxuoso de um arranha-céus,
ela descobre-se estranhamente atraída por aquele homem enigmático, cuja beleza
corta a respiração. Voltarão a encontrar-se dias mais tarde, por acaso ou
talvez não. O implacável homem de negócios revela-se incapaz de resistir ao
discreto charme da estudante. Ele quer desesperadamente possuí-la. Mas apenas
se ela aceitar os bizarros termos que ele propõe... Anastasia hesita. Todo
aquele poder a assusta - os aviões privados, os carros topo de gama, os
guarda-costas... Mas teme ainda mais as peculiares inclinações de Grey, as suas
exigências, a obsessão pelo controlo… E uma voracidade sexual que parece não
conhecer quaisquer limites. Dividida entre os negros segredos que ele esconde e
o seu próprio e irreprimível desejo, Anastasia vacila. Estará pronta para
ceder? Para entrar finalmente no Quarto Vermelho da Dor?
Opinião:
O amor é uma coisa estranha. É um sentimento que não
se mede, que não se vê, e que somente se sente, se agarra, se abraça e com o
qual se enlouquece, se esquece, se aceita e se abdica. O amor é vitorioso, é etéreo.
É profundo e, por vezes, extremamente físico. Mas o amor é também ciúme, é
controlo. É uma tensão maravilhosa que se espalha pelo corpo, que desvaira a
mente, que se camufla por trás de uma necessidade insana, irracional, se
possuir, de ter. O amor...
O amor são cinquenta
tonalidades de uma mesma emoção, de uma mesma alma. São cinquenta nuances de
aquiescência, cinquenta vontades de um mesmo mistério, de uma mesma forma de
prazer. São cinquenta sombras de... tudo.
As Cinquenta Sombras de Grey trata-se de uma narrativa sedutora, inebriante, sobre um casal de amantes
improváveis, de amantes que se cruzaram por força e obra do destino e que, em
conjunto, exploram os vários caminhos da intimidade através de uma relação
pecaminosa recheada de dor e prazer. Entre a cedência de um e a carência do
outro, esta é uma história envolvente, sôfrega, que transporta o leitor para o
interior de uma afinidade promíscua, devoradora, onde a submissão e o domínio físico
e mental são a base que move as personagens.
E. L. James coloca a
qualidade do texto narrativo em segundo plano e, ao invés, centra-se na
intensidade apaixonante e provocadora conferida ao desenvolvimento da trama em
si. Nada é deixado ao acaso, tudo é sentido ao máximo, e, de forma simples,
quase banal até, a autora guia o seu admirado espectador em torno da essência
crua, da sexualidade pura, sentida pelo casal principal, instigando assim à
leitura com sublimes contornos de descrições insinuantes e carnais acompanhadas
por um estilo elementarmente fácil.
Feito de provocações,
de emoções contraditórias, de recuos e avanços num sensualismo inteiramente
novo tanto para uma como para a outra figura principal, este é um romance que
prima pela carga emocional e dramática que cultiva. Ao longo das suas páginas
muito é deixado a descoberto, mas também a real natureza que constitui
Christian ou a falta de clareza que obscurece uma mente tímida e ingénua como a
de Anastasia são enigmas, perguntas cuja resposta se encontra longe do leitor,
escondida em dois volumes que ainda estão para vir.
Este é um livro persuasivo.
É um livro que entorpece a mente, que aquece a alma e que deixa um burburinho
na pele. É um livro provocador ainda que, ocasionalmente, ofereça alguns laivos
de romance, de ternura, de conforto. Acima de tudo, trata-se de um enredo
pontuado pelos desejos ardentes de uma personagem que se sente incompleta fora
de um «quarto vermelho da dor», que se sente insatisfeita com a simplicidade da
intimidade a dois, com o sabor a baunilha que a monotonia e o hábito podem
conferir a um contrato, a um acordo puramente sexual tecido entre dois adultos.
Porém, é também uma trama que evidencia a virgindade inexplorada e o frenesim
da primeira paixão, do primeiro vislumbre de algo prazenteiro, de algo inesquecível.
Uma fragrância única que mistura o poder da sexualidade de um homem dominante,
de um homem rico e culto, com a inocência e singeleza de uma jovem estudante
cuja aprendizagem está longe de se ver terminada.
De matizes modernas,
com avanços tecnológicos claros em contraste com a simplicidade da mulher que muito pouco ou nada tem, As Cinquenta Sombras de Grey
oferece incontáveis horas de uma leitura descontraída mas, e sempre, emotiva,
sensacionalista. Acima de tudo, este é um livro sobre duas pessoas que não
sabem ao certo como digerir um amor, uma afeição que cresce a olhos vistos. É
um livro sobre um homem que não tem como deixar um passado tenebroso para trás,
que não tem como esquecer. E sobre uma mulher que luta por um lugar especial,
que luta por uma relação que perdure, que seja mais do que física, mais do que
meramente sexual.
Quando a mim, confesso
que estava à espera de algo mais, de algo ligeiramente diferente, mais cru,
mais violento aos sentidos. Gostei dos contornos que a autora conferiu às suas
personagens, apreciei o modo como desenrolou todos os acontecimentos em torno
da obsessão de Christian, da sua necessidade premente de controlo, e simpatizei
com a personalidade desta figura, com o seu modo de estar, de agir. Contudo,
Anastasia não me conseguiu conquistar e, por isso, mesmo querendo ler o volume
que se segue – As Cinquenta Sombras Mais
Negras – admito a possibilidade de não ter sido tão «afectada» pela febre
de Grey como, possivelmente, outras leitoras o foram. Ainda assim, a
curiosidade persiste...
Uma aposta polémica por
parte da Lua de Papel, que tem vindo a surpreender com algumas das suas
publicações mais «extravagantes». Originando toda uma renovada moda na
literatura romântica/erótica, não restam dúvidas de que este é um toque, um género
e um fenómeno que veio para ficar. Apesar de tudo, das pequenas falhas próprias
de uma primeira obra, de algumas semelhanças com uma das sagas mais famosas da
fantasia juvenil – e de onde todas estas ideias surgiram –, e do reduzido
cuidado para com a linguagem utilizada, posso dizer que gostei e que, em certa
medida, aconselho a todos os leitores mais curiosos e sedentos por uma leitura
diferente.