terça-feira, 25 de setembro de 2012

As Cinquenta Sombras de Grey, E. L. James [Opinião]




Título Original: Fifty Shades of Grey
Autoria: E. L. James
Editora: Lua de Papel
Nº. Páginas: 547
Tradução: Ana Álvares & Leonor Marques


Sinopse:

Anastasia Steele é uma estudante de literatura jovem e inexperiente. Christian Grey é o temido e carismático presidente de uma poderosa corporação internacional. O destino levará Anastasia a entrevistá-lo. No ambiente sofisticado e luxuoso de um arranha-céus, ela descobre-se estranhamente atraída por aquele homem enigmático, cuja beleza corta a respiração. Voltarão a encontrar-se dias mais tarde, por acaso ou talvez não. O implacável homem de negócios revela-se incapaz de resistir ao discreto charme da estudante. Ele quer desesperadamente possuí-la. Mas apenas se ela aceitar os bizarros termos que ele propõe... Anastasia hesita. Todo aquele poder a assusta - os aviões privados, os carros topo de gama, os guarda-costas... Mas teme ainda mais as peculiares inclinações de Grey, as suas exigências, a obsessão pelo controlo… E uma voracidade sexual que parece não conhecer quaisquer limites. Dividida entre os negros segredos que ele esconde e o seu próprio e irreprimível desejo, Anastasia vacila. Estará pronta para ceder? Para entrar finalmente no Quarto Vermelho da Dor?


Opinião:

O amor é uma coisa estranha. É um sentimento que não se mede, que não se vê, e que somente se sente, se agarra, se abraça e com o qual se enlouquece, se esquece, se aceita e se abdica. O amor é vitorioso, é etéreo. É profundo e, por vezes, extremamente físico. Mas o amor é também ciúme, é controlo. É uma tensão maravilhosa que se espalha pelo corpo, que desvaira a mente, que se camufla por trás de uma necessidade insana, irracional, se possuir, de ter. O amor...
O amor são cinquenta tonalidades de uma mesma emoção, de uma mesma alma. São cinquenta nuances de aquiescência, cinquenta vontades de um mesmo mistério, de uma mesma forma de prazer. São cinquenta sombras de... tudo.

As Cinquenta Sombras de Grey trata-se de uma narrativa sedutora, inebriante, sobre um casal de amantes improváveis, de amantes que se cruzaram por força e obra do destino e que, em conjunto, exploram os vários caminhos da intimidade através de uma relação pecaminosa recheada de dor e prazer. Entre a cedência de um e a carência do outro, esta é uma história envolvente, sôfrega, que transporta o leitor para o interior de uma afinidade promíscua, devoradora, onde a submissão e o domínio físico e mental são a base que move as personagens.
E. L. James coloca a qualidade do texto narrativo em segundo plano e, ao invés, centra-se na intensidade apaixonante e provocadora conferida ao desenvolvimento da trama em si. Nada é deixado ao acaso, tudo é sentido ao máximo, e, de forma simples, quase banal até, a autora guia o seu admirado espectador em torno da essência crua, da sexualidade pura, sentida pelo casal principal, instigando assim à leitura com sublimes contornos de descrições insinuantes e carnais acompanhadas por um estilo elementarmente fácil.

Feito de provocações, de emoções contraditórias, de recuos e avanços num sensualismo inteiramente novo tanto para uma como para a outra figura principal, este é um romance que prima pela carga emocional e dramática que cultiva. Ao longo das suas páginas muito é deixado a descoberto, mas também a real natureza que constitui Christian ou a falta de clareza que obscurece uma mente tímida e ingénua como a de Anastasia são enigmas, perguntas cuja resposta se encontra longe do leitor, escondida em dois volumes que ainda estão para vir.
Este é um livro persuasivo. É um livro que entorpece a mente, que aquece a alma e que deixa um burburinho na pele. É um livro provocador ainda que, ocasionalmente, ofereça alguns laivos de romance, de ternura, de conforto. Acima de tudo, trata-se de um enredo pontuado pelos desejos ardentes de uma personagem que se sente incompleta fora de um «quarto vermelho da dor», que se sente insatisfeita com a simplicidade da intimidade a dois, com o sabor a baunilha que a monotonia e o hábito podem conferir a um contrato, a um acordo puramente sexual tecido entre dois adultos. Porém, é também uma trama que evidencia a virgindade inexplorada e o frenesim da primeira paixão, do primeiro vislumbre de algo prazenteiro, de algo inesquecível. Uma fragrância única que mistura o poder da sexualidade de um homem dominante, de um homem rico e culto, com a inocência e singeleza de uma jovem estudante cuja aprendizagem está longe de se ver terminada.

De matizes modernas, com avanços tecnológicos claros em contraste com a simplicidade da mulher que muito pouco ou nada tem, As Cinquenta Sombras de Grey oferece incontáveis horas de uma leitura descontraída mas, e sempre, emotiva, sensacionalista. Acima de tudo, este é um livro sobre duas pessoas que não sabem ao certo como digerir um amor, uma afeição que cresce a olhos vistos. É um livro sobre um homem que não tem como deixar um passado tenebroso para trás, que não tem como esquecer. E sobre uma mulher que luta por um lugar especial, que luta por uma relação que perdure, que seja mais do que física, mais do que meramente sexual.
Quando a mim, confesso que estava à espera de algo mais, de algo ligeiramente diferente, mais cru, mais violento aos sentidos. Gostei dos contornos que a autora conferiu às suas personagens, apreciei o modo como desenrolou todos os acontecimentos em torno da obsessão de Christian, da sua necessidade premente de controlo, e simpatizei com a personalidade desta figura, com o seu modo de estar, de agir. Contudo, Anastasia não me conseguiu conquistar e, por isso, mesmo querendo ler o volume que se segue – As Cinquenta Sombras Mais Negras – admito a possibilidade de não ter sido tão «afectada» pela febre de Grey como, possivelmente, outras leitoras o foram. Ainda assim, a curiosidade persiste...

Uma aposta polémica por parte da Lua de Papel, que tem vindo a surpreender com algumas das suas publicações mais «extravagantes». Originando toda uma renovada moda na literatura romântica/erótica, não restam dúvidas de que este é um toque, um género e um fenómeno que veio para ficar. Apesar de tudo, das pequenas falhas próprias de uma primeira obra, de algumas semelhanças com uma das sagas mais famosas da fantasia juvenil – e de onde todas estas ideias surgiram –, e do reduzido cuidado para com a linguagem utilizada, posso dizer que gostei e que, em certa medida, aconselho a todos os leitores mais curiosos e sedentos por uma leitura diferente. 

3 comentários:

Unknown disse...

Parece mesmo o meu estilo de livro, já tinha passado por ele mas não me disse nada, lendo aqui é que a curiosidade surgiu. Parece-me ser bom e é definitivamente um livro que irei ler. =)

Helena Marques disse...

Quero ler! :D

Pedacinho Literário disse...

Katniss,
Obrigada pelo elogio. É um livro que se lê muito, muito bem, com o seu quê de sensualidade e erotismo, mas igualmente moderno e possessivo. Foi uma leitura agradável, apesar de alguns erros normais de primeira obra. Depois diz-me o que achaste. :)

Helena,
Como a entendo! Espero que leia, e em breve! O segundo está quase, quase aí. :)

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