Título Original: Something Wicked This Way Comes
Autoria: Ray Bradbury
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 278
Tradução: Jorge Colaço
Sinopse:
O espectáculo está
prestes a começar. O circo chega pouco depois da meia-noite, nas vésperas do
Halloween. O que fariam se os vossos desejos secretos fossem concedidos pelo
misterioso líder do circo, o Sr. Dark? O circo a todos chama com promessas
sedutoras de juventude eterna e sonhos por cumprir...
Dois amigos
adolescentes, Jim Nightshade e Will Halloway, são incapazes de resistir às
atracções. A sua curiosidade de rapazes fá-los descobrir o segredo oculto nos
labirintos, fumos e espelhos do tenebroso circo. Inconscientes do perigo em que
se vêem envolvidos, uma terrível perseguição é posta em marcha e Jim e Will
tudo terão que fazer para salvar as suas vidas. Mas, acima de tudo, as próprias
almas...
Opinião:
Envolto numa ambiência
brumosa, escurecida e extremamente densa, extremamente receosa, um circo dos
horrores repleto de sedutoras promessas chega a uma cidade desprovida de fervência,
de contentamento. Instalando-se com as suas cores e atracções singulares,
simbolizado pelas criaturas especiais
que ministra, pelas viagens rejuvenescedoras que oferta, este é um circo que
busca, com avidez, o sofrimento, a dor e a mágoa... evitando, a todo o custo, a
alegria que tão ilustre opulência poderia originar.
Algo Maligno Vem Aí trata-se de um inigualável clássico da literatura fantástica, onde o
horror, o verdadeiro terror, encontra-se fortemente assente em cada momento
descritivo, em cada instante reflexivo, em cada mensagem entregue. Relatando a
história de dois rapazes aparentemente comuns que se vêm perseguidos pelos
chamarizes mais extraordinários e peculiares que poderiam alguma vez imaginar,
esta é uma obra que fascina tanto pelo conteúdo algo estranho e irreverente
como, e principalmente, pela sua escrita poética, musical e encantatória.
Ray Bradbury foi uma
estreia absolutamente estranha para
mim. Tratando-se de um estilo muito difícil de definir, de uma narrativa
incrivelmente complexa e intrincada, esta não foi uma leitura fácil mas, no
entanto, tratou-se de um entretenimento estimulantemente puro e original,
invulgar. Dotado de uma escrita única e profundamente apelativa, Bradbury
conseguiu captar a minha atenção ao fim de meras linhas e manter-me cativa,
presa na sua teia de palavras belas, até bem depois do virar da última página.
Sendo este um enredo
que também vive, e de forma intensa, das suas personagens, torna-se, para mim,
um pouco complicado destacar esta ou aquela figura quando, no seu conjunto, na
sua totalidade, este é um grupo de intervenientes que se complementa de forma tão
exímia e espectacular que separá-los em descrições ou exaltações individuais
seria algo... cruel. Desde as particularidades do extraordinário que afectam a
trupe circense, aos sentimentos bem reais e humanos que afectam os dois «mais
novos», passando ainda por um pai que guarda em si o bem mais precioso do mundo
e uma professora que busca o que nunca poderá voltar a ter, estas são pessoas que, de uma maneira ou de outra,
arriscam o que de seguro possuem e sofrem as consequências de uma tempestade,
de um algo maligno que se aproxima
velozmente.
Tematicamente, esta é
uma obra que aborda toda uma série de assuntos variados e que, em certa medida,
continuam a assolar os íntimos de muitos leitores actuais. Destaca-se a robustez
da amizade precoce nutrida entre Will e Jim, uma irmandade que certamente
duraria uma vida; o afastamento
intelectual de um pai mais velho para um filho que necessita de um tipo de
apoio e atenção que a idade já não permite outorgar; a criança que viverá para
sempre dentro de cada um de nós, assim como o desejo de juventude; e, acima de
tudo, salienta-se a força e a destreza com que se tem de combater cada medo,
cada receio e cada passo mal dado. E em parte é por isso que acredito que se
encontra bem latente, bem presente a ideia de que esta não é uma trama sobre
pequenos heróis destinados a agir grandemente, mas sim, e sem dúvida, uma história
sobre pessoas normais que se viram afectadas pelo sobrenatural, pelo extraordinário
e que, devido às situações que tiveram de ultrapassar, acabaram por se
transformar em corajosos heróis.
Quanto a mim, admito
ter sido maioritariamente atraída para esta obra, pela cativante capa que a
completa. Não sou apreciadora de circos, aliás, afasto-me o mais possível deles
mas a sensação de algo misterioso, algo mórbido, doentio, que a capa emana
acabou por acender a minha curiosidade de tal maneira que não lhe resisti.
Acontece que estava à espera de um enredo diferente, bastante mais aterrador a
nível visual, com uma forte componente de horror, mas ainda assim não saí
desiludida. Apaixonei-me pelo estilo de escrita do autor e rapidamente me
deixei levar pelas peripécias que os dois protagonistas, Will e Jim, encetam
por forma a verem-se livres de uma poeira
que os persegue afincadamente. Pelo que o balanço continua a ser bastante
positivo.
Claramente, mais uma imperdível
aposta por parte da Saída de Emergência, numa obra pouco convencional mas
que, sem dúvida, irá agradar a todo o público que procura uma leitura que fuja –
a sete pés! – do que é considerado
comercial. Um livro que, mesmo abordando o intelecto de dois ainda bastante jovens
protagonistas, não deixa de ser uma excelente fonte de entretenimento para um público
adulto e maduro. Gostei.
2 comentários:
Deixei-te um selinho no meu blogue. :)
Beijos!
Obrigada, Alyra =)*
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