segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Algo Maligno Vem Aí, Ray Bradbury [Opinião]




Título Original: Something Wicked This Way Comes
Autoria: Ray Bradbury
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 278
Tradução: Jorge Colaço


Sinopse:

O espectáculo está prestes a começar. O circo chega pouco depois da meia-noite, nas vésperas do Halloween. O que fariam se os vossos desejos secretos fossem concedidos pelo misterioso líder do circo, o Sr. Dark? O circo a todos chama com promessas sedutoras de juventude eterna e sonhos por cumprir...
Dois amigos adolescentes, Jim Nightshade e Will Halloway, são incapazes de resistir às atracções. A sua curiosidade de rapazes fá-los descobrir o segredo oculto nos labirintos, fumos e espelhos do tenebroso circo. Inconscientes do perigo em que se vêem envolvidos, uma terrível perseguição é posta em marcha e Jim e Will tudo terão que fazer para salvar as suas vidas. Mas, acima de tudo, as próprias almas...


Opinião:

Envolto numa ambiência brumosa, escurecida e extremamente densa, extremamente receosa, um circo dos horrores repleto de sedutoras promessas chega a uma cidade desprovida de fervência, de contentamento. Instalando-se com as suas cores e atracções singulares, simbolizado pelas criaturas especiais que ministra, pelas viagens rejuvenescedoras que oferta, este é um circo que busca, com avidez, o sofrimento, a dor e a mágoa... evitando, a todo o custo, a alegria que tão ilustre opulência poderia originar.

Algo Maligno Vem Aí trata-se de um inigualável clássico da literatura fantástica, onde o horror, o verdadeiro terror, encontra-se fortemente assente em cada momento descritivo, em cada instante reflexivo, em cada mensagem entregue. Relatando a história de dois rapazes aparentemente comuns que se vêm perseguidos pelos chamarizes mais extraordinários e peculiares que poderiam alguma vez imaginar, esta é uma obra que fascina tanto pelo conteúdo algo estranho e irreverente como, e principalmente, pela sua escrita poética, musical e encantatória.
Ray Bradbury foi uma estreia absolutamente estranha para mim. Tratando-se de um estilo muito difícil de definir, de uma narrativa incrivelmente complexa e intrincada, esta não foi uma leitura fácil mas, no entanto, tratou-se de um entretenimento estimulantemente puro e original, invulgar. Dotado de uma escrita única e profundamente apelativa, Bradbury conseguiu captar a minha atenção ao fim de meras linhas e manter-me cativa, presa na sua teia de palavras belas, até bem depois do virar da última página.

Sendo este um enredo que também vive, e de forma intensa, das suas personagens, torna-se, para mim, um pouco complicado destacar esta ou aquela figura quando, no seu conjunto, na sua totalidade, este é um grupo de intervenientes que se complementa de forma tão exímia e espectacular que separá-los em descrições ou exaltações individuais seria algo... cruel. Desde as particularidades do extraordinário que afectam a trupe circense, aos sentimentos bem reais e humanos que afectam os dois «mais novos», passando ainda por um pai que guarda em si o bem mais precioso do mundo e uma professora que busca o que nunca poderá voltar a ter, estas são pessoas que, de uma maneira ou de outra, arriscam o que de seguro possuem e sofrem as consequências de uma tempestade, de um algo maligno que se aproxima velozmente.

Tematicamente, esta é uma obra que aborda toda uma série de assuntos variados e que, em certa medida, continuam a assolar os íntimos de muitos leitores actuais. Destaca-se a robustez da amizade precoce nutrida entre Will e Jim, uma irmandade que certamente duraria uma vida; o afastamento intelectual de um pai mais velho para um filho que necessita de um tipo de apoio e atenção que a idade já não permite outorgar; a criança que viverá para sempre dentro de cada um de nós, assim como o desejo de juventude; e, acima de tudo, salienta-se a força e a destreza com que se tem de combater cada medo, cada receio e cada passo mal dado. E em parte é por isso que acredito que se encontra bem latente, bem presente a ideia de que esta não é uma trama sobre pequenos heróis destinados a agir grandemente, mas sim, e sem dúvida, uma história sobre pessoas normais que se viram afectadas pelo sobrenatural, pelo extraordinário e que, devido às situações que tiveram de ultrapassar, acabaram por se transformar em corajosos heróis.

Quanto a mim, admito ter sido maioritariamente atraída para esta obra, pela cativante capa que a completa. Não sou apreciadora de circos, aliás, afasto-me o mais possível deles mas a sensação de algo misterioso, algo mórbido, doentio, que a capa emana acabou por acender a minha curiosidade de tal maneira que não lhe resisti. Acontece que estava à espera de um enredo diferente, bastante mais aterrador a nível visual, com uma forte componente de horror, mas ainda assim não saí desiludida. Apaixonei-me pelo estilo de escrita do autor e rapidamente me deixei levar pelas peripécias que os dois protagonistas, Will e Jim, encetam por forma a verem-se livres de uma poeira que os persegue afincadamente. Pelo que o balanço continua a ser bastante positivo.

Claramente, mais uma imperdível aposta por parte da Saída de Emergência, numa obra pouco convencional mas que, sem dúvida, irá agradar a todo o público que procura uma leitura que fuja – a sete pés! – do que é considerado comercial. Um livro que, mesmo abordando o intelecto de dois ainda bastante jovens protagonistas, não deixa de ser uma excelente fonte de entretenimento para um público adulto e maduro. Gostei.

2 comentários:

Anónimo disse...

Deixei-te um selinho no meu blogue. :)
Beijos!

Pedacinho Literário disse...

Obrigada, Alyra =)*

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