quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Três é Demais, Jill Mansell [Opinião]




Título Original: Two’s Company
Autoria: Jill Mansell
Editora: Chá das Cinco
Nº. Páginas: 322
Tradução: Isabel C. Penteado


Sinopse:

Não há família mais glamorosa que os Mandeville.
O casal de celebridades Jack e Cass Mandeville parece ter tudo — boa aparência, carreiras coroadas de êxito e um casamento maravilhoso. Os filhos também são incrivelmente talentosos: a Cleo é supermodelo; o Sean é um comediante de sucesso; e embora Sophie, uma adolescente de 16 anos, esconda a sua aparência sob uns enormes óculos redondos e roupa larga, todos veem que existe um belo cisne ansioso por desabrochar.
Aos olhos da imprensa, a família Mandeville é simplesmente exemplar.
Mas uma ruiva lindíssima, de seu nome Imogen, aparece para entrevistar Jack e Cass na manhã do quadragésimo aniversário de Jack… e a família fabulosa descobre que afinal talvez não seja assim tão perfeita.


Opinião:

Por mais versátil ou habilidoso que um autor possa ser, o humor trata-se de um género complicadíssimo de conseguir, dada a complexidade necessária e, por vezes, a naturalidade precisa tanto na escrita como nas acções, para que um leitor atinja aquele tão temido e ambicionado «estado de graça». Contudo, se existe estilo que Jill Mansell domina, é precisamente esse. E por isso mesmo, foi com um misto de decepção e de curiosidade que terminei a leitura deste seu novo romance.

Três é Demais trata-se de uma narrativa simples, tão simples quanto a verosimilhança que a acompanha. Seguindo os passos de uma aclamada família britânica, a autora mostra quão fácil e repentino pode ocorrer uma traição, quão sufocante é sentir-se traído e quão espontaneamente um «amo-te» pode ser o começo... de um fim.
Jill Mansell opta por um estilo diferente, mais arriscado, mais sério, mostrando uma perspectiva em tudo segura e honesta sobre uma série de assuntos actuais que, infelizmente, sem o seu inigualável humor, sem a gargalhada que se encontra sempre ao virar da página, sem o sorriso que rapidamente aflora aos lábios, adquire um tom, uma ambiência, demasiado contrita.

Abordando poucos rostos exteriores à família Mandeville, este é um romance que tanto peca pela pouca versatilidade apresentada relativamente às personagens – algo a que a autora habituou o seu séquito de leitores –, como ganha pela construção e detalhe narrativo que pode oferecer a cada uma dessas figuras principais. Assim, se por um lado é nova a interacção que se vive com os protagonistas desta trama, por outro é interessante o modo em como mais facilmente se conseguem tecer ligações e associações com os mesmos. Ou seja, embora tenha sentido a falta de um leque de intervenientes mais volúvel e desconexo entre si, admito existir um certo conforto e sensação de convivência quando as facetas que estão constantemente à vista são, na sua essência, «sempre as mesmas».

As alucinantes e velozes mudanças temporais foi outro dos elementos existentes ao longo deste enredo que, em dada medida, me deixaram com uma sensação estranha no «estômago». Com saltos tão grandes e recorrentes no tempo, tendo em conta a grande maioria das acções que se seguiram, o próprio âmago da história viu-se, por vezes, perdido. Isto é, ao existirem tantos avanços narrativos, seria de esperar que um ou outro determinado acontecimento, mais ou menos importante, estivesse na mira de ocorrer. Contudo, esses lapsos temporais, ao invés de trazerem algo novo ao decorrer da acção, simplesmente serviram para apressar situações, dias, semanas, que, se fossem descritas mais pausadamente, certamente ganhariam uma maior e mais estável dimensão. Assim, fica a sensação de não só passar muito tempo, muito rápido, como esse mesmo tempo não ter quase valor nenhum.

É ainda impressionante como uma capa tão bonita, dotada de cores tão atraentes e chamativas, tem a habilidade de esconder temas tão reais e preocupantes que em muitos casos assentam, na perfeição, no dia a dia de muitos leitores – e não leitores – da actualidade. Sendo um livro que discursa e expõe, em força, o poder da traição e do perdão, não estava, de todo, à espera da intensidade e revolução de sentimentos e emoções experienciadas pelas personagens. Admito ter sofrido momentos de compadecimento por Cass e de me ter revoltado contra Jack. Admito ter simpatizado com Pandora (nada de brincadeiras com a caixa!) e de me ter resignado por Cleo e Joel. Mas, acima de tudo, admito que este livro alberga uma mensagem muito importante, a de ser essencial, crucial, dar uma segunda – e, por vezes, até terceira – oportunidade às pessoas que, de algum modo, valem a pena. O perdão pode não ser fácil de ofertar, e a traição é, sem dúvida, um sentimento insuportável e que muitas vezes traz consigo uma sensação asfixiante de inutilidade, mas ter a capacidade de seguir em frente e de brindar, mimar, alguém com uma outra e renovada possibilidade de é, claramente, a mais corajosa e possante característica, acção, que o ser humano pode ter, pode fazer.

Ainda que tenha ficado um pouco decepcionada pois estava à espera de algo mais ao estilo natural de Mansell, este não será livro que me fará desistir da autora, muito pelo contrário. Tendo percepcionado o risco da autora, é ainda com maior vontade que aguardo a publicação de um novo seu romance.
Este pode não ser um livro engraçado, pode não ter a jovialidade inerente e característica da autora, mas se o que procura é uma versão um pouco mais séria e realista de situações comuns, Três é Demais pode, muito bem, ser a escolha acertada. Uma curiosa aposta por parte da Chá das Cinco, uma chancela Saída de Emergência.

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