Título Original:
Legacy
Autoria: Cayla Kluver
Editora: Planeta
Manuscrito
Nº. Páginas: 418
Tradução: Maria José
Figueiredo
Sinopse:
Uma violenta
rivalidade entre dois reinos ameaça evoluir para um estado de guerra. No meio
deste conflito, uma princesa voluntariosa encontra-se dividida entre o dever e
o desejo.
Obrigada a casar com
o homem que o pai escolheu para lhe suceder no trono, a jovem princesa Alera de
Hytanica vê-se forçada a enveredar pelo pior dos destinos, o casamento com o
arrogante e colérico Steldor. Quando o misterioso e sedutor Narian chega a
Hytanica, vindo do território inimigo trazendo segredos e noções inconcebíveis
acerca do papel das mulheres na sociedade, os desejos de Alera põem em causa o
futuro do reino.
A descoberta do terrível
passado de Narian mergulha Alera no mundo obscuro de intrigas palacianas e
conflitos pretéritos, a ponto de não saber em que acreditar, nem em quem
confiar.
Opinião:
Estou verdadeiramente
impressionada...
... e
irremediavelmente curiosa com o futuro de um reino algo insensato e altivo e de
uma Rainha (ou quase) cujas obrigações matrimoniais se encontram longe de serem
sinceras e bem recebidas.
Alera – A Princesa
Herdeira, ao contrário do que inicialmente por mim julgado, não é, de todo, um
romance de fantasia. Ao invés, o leitor vê-se perante um livro incrivelmente
bem estruturado, com uma linguagem excepcionalmente cuidada e envolvente – em
especial tendo em conta que a autora tinha, somente, dezasseis anos quando o
escreveu –, personagens intrigantes e de nomes invulgares e, claro, diante de
uma obra com fortes e pronunciadas tendências de romance histórico, ainda que
numa vertente mais light, fantasticamente orquestrado em torno de um enredo
interessante, eloquente e de potencial bastante elevado.
Alera é a princesa
herdeira de Hytanica e diz a tradição que, ao completar os dezoito anos, o
ascensor ao trono deverá unir-se em matrimónio e tomar as rédeas do reino.
Acontece que Alera, sendo mulher, nunca poderá ser chefe regente, tendo então
de escolher um potencial pretendente por forma a torná-lo Rei e, por consequência,
o mais alto soberano de Hytanica. O problema é que a pessoa escolhida pelo seu
pai para ocupar o papel de pretendente principal – e, por ele, o único –, não
suscita qualquer interesse positivo em Alera, tendo ela, inclusive, o
considerado como um rapaz arrogante, pretensioso e altamente manipulativo. E é
com a captura inesperada de um cokyriano em Hytanica e a curiosidade inevitável
que este exercerá em Alera que proporcionará a esta a oportunidade ideal para
se distrair da insistência de um Steldor indesejado e de um futuro incerto e
sobre o qual não quer sequer pensar. Com inúmeros acontecimentos importantes
pelo meio que porão em risco a sobrevivência de Hytanica e dos seus habitantes
assim como o controlo do coração e acções de Alera por parte de um pai, por
vezes, excessivamente influenciado, paranóico e protector, Alera – A Princesa
Herdeira mostra-se assim como um romance atraente, por vezes divertido, com uma
protagonista de peso e incrivelmente humana, e recheado de uma acção emotiva em
constante mutação, que agarrará o leitor do princípio ao fim.
Pessoalmente, os aspectos
que mais se destacaram foram a escrita e as personagens. Gostei,
particularmente, de Narian por ter toda uma aura misteriosa em seu redor,
mostrando-se ora vulnerável ora extremamente forte, e conseguindo sempre
persuadir, surpreender e, principalmente, esconder todas as suas
potencialidades. Alera também me despertou relativa curiosidade, provavelmente
por ser a narradora e, instantaneamente, me ter identificado com ela. No
entanto, penso que por vezes poderia ser mais convicta nas suas decisões, embora
a considere uma personagem intelectualmente inteligente e perceptiva. London
deixou-me com a pulga atrás da orelha. Sendo, durante grande parte da
narrativa, o guarda encarregue de defender Alera, é automática a forma como o
leitor se deixa convencer pela forma de agir dele e pelo relacionamento emotivo
que desenvolve com a sua protegida. Finalmente, Steldor; estou bastante
convicta de que esta personagem ainda tem muito para dar e, sobretudo, para
mostrar. Fiquei com a estranha sensação de que ele esconde algo obscuro e
inesperado, algo que irá definitivamente deixar o leitor boquiaberto – vamos
ver se as suspeitas se confirmam!
Relativamente ao
estilo, achei a escrita muito adulta e pensada, inteligente, coisa que não
esperava de tão jovem autora. Cayla Kluver mostra conhecer eximiamente as suas
personagens, descrevendo-as delicadamente, e apresenta um excelente trabalho em
termo descritivo – tanto a nível social da época como sentimental da
protagonista. Contudo, e aqui entra um aspecto negativo, achei que por vezes
ela se deixava divagar um pouco, talvez demasiadamente embrenhada no psicológico
de Alera, não trazendo, nessas vezes, nada de novo à história. Fora este
pequeno pormenor, encontrei em Alera – A Princesa Herdeira uma narrativa muitíssimo
madura, moderna no seu aspecto socialmente antigo, e, em dúvida, admirável.
Admito estar desejosa de ler a continuação, em Fidelidade, visto este volume
ter terminado de uma forma distintamente emblemática, deixando uma impressão de
profundo mistério e perigo.
Cayla Kluver abre
assim o apetite a um leitor emocionalmente arrebatado por deslumbrante e
encantador romance. E mesmo com algumas falhas normais de uma obra de estreia,
a autora consegue deixar o bichinho bem lá no íntimo do leitor de modo a cativá-lo
e a motivá-lo para a continuação que já ansiosamente se espera.
Distinto.
Diferente. Curioso. Notável. Alera – A Princesa Herdeira é um romance que o irá
agarrar do primeiro capítulo à última frase, quase sem lhe dar hipótese para
respirar e repousar por um bocado. Com um toque romântico mas igualmente
guerreiro, esta é uma obra que vai querer ler.
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