Foi na noite de
ontem... mas ainda parece que consigo sentir todas as emoções, todos os gestos,
todos os momentos de suspense, de
deslumbramento, de alegria e tristeza que, tão belissimamente, com tanto
requinte, perfazem a mais recente magistral obra de Joe Wright, numa «moderna» e
assombrosa adaptação cinematográfica de um dos mais emblemáticos clássicos
literários. Anna Karenina é muito
mais do que uma história de amor, é muito mais que uma narrativa sobre uma
mulher que decidiu ser dona do seu destino, que decidiu ser feliz, que decidiu
lutar e viver o verdadeiro amor, mesmo indo contra os ideais de toda uma
sociedade rígida e determinada a seguir as normas do bom-tom. Anna Karenina é
uma história sobre força, é uma história sobre luta, sobre dúvidas, sobre traições,
sobre paixões, sobre... a vida, e é esse realismo, é esse sufoco e esse fascínio,
trespassado para o público através de performances
do mais alto nível, o que verdadeiramente torna esta obra – pelo menos, para
mim – uma masterpiece.
Se por um lado, ainda não
tive a felicidade de ler a magnífica Anna
Karenina de Lev Tolstoi, por outro, a minha vocação profissional, o meu
constante objecto de estudo, de encanto, foi um segundo entrave que consegui
ultrapassar, centrando-me, exclusivamente, na maravilhosa visão de Wright ao
invés de pensar nas palavras de Tolstoi ou em toda e qualquer componente técnica
que envolve, com graça e esmero, este filme. São muitas as particularidades
curiosas, referente a este último aspecto, percepcionadas ao longo de mais de
duas horas de puro deleite, desde a beleza inconfundível e esbelta dos cenários,
à própria escolha da realização, passando por uma montagem, uma edição
aprimorada, um guarda-roupa esplendoroso, e uma escolha de cast simplesmente espectacular, perfeita. Mas o que profundamente
enaltece esta versão russa de um clássico, é mesmo a criatividade de Wright ao
persistir numa abordagem arriscada, bastante teatral, mas que nesta história em
particular funciona às mil maravilhas. Sem Wright, de certo que esta teria sido
mais uma adaptação de entre muitas que, actualmente, invadem o mercado fílmico
como abelhas a um pote de mel.
Admito ter-me sentido
um pouco relutante em relação à possível prestação de Keira Knightley, pela
simples razão de não ser uma das presenças femininas que mais gosto de ver no
grande ecrã, mas verdade seja dita – tiro-lhe o chapéu. Uma vez mais, Knightley
convenceu e mostrou o porquê de ser sempre a escolha de eleição, a personificação
do que de mais gracioso e histórico existe actualmente, com uma prestação que
ora me fez sorrir, ora me fez suspirar, ora me fez arrepiar dada a sua
grandiosidade inerente, a sua inexorável paixão. Destaco ainda, e a um nível
inteiramente pessoal, Matthew MacFadyen pela interpretação exímia de um papel
que confere um certo humor, uma certa graça a uma obra profundamente emocional,
e Aaron Taylor-Johnson, por um desempenho assustadoramente apaixonante,
assustadoramente ousado. Para enorme infelicidade, senti que Jude Law se viu algo «escondido»,
algo «inferiorizado» face duas representações, duas suas companhias, muito
poderosas. Ainda assim, foi, para mim, positivo ver um lado mais sério e rígido
de um Law que sempre encarei descontraído e divertido.
Muito, muito mais
existe por dizer sobre Anna Karenina,
mas de uma sessão que me deixou tão completamente estarrecida, tão completamente
maravilhada, impressionada, assombrada, pouco mais é o que conseguirei escrever.
Somente posso recomendar este filme a todo e qualquer espectador, a todo e
qualquer apaixonado por uma boa história de amor, a todo e qualquer aficcionado
por uma realização especial, a todo e qualquer corajoso que se ache capaz de
enfrentar uma Anna poderosíssima. Quanto ao final... o final deixou-me
totalmente pregada à cadeira, deixou-me de lágrimas nos olhos e tremeliques nas
mãos, deixou-me apaticamente comovida por aquela que somente desejava ser
feliz... Se toda a traição, se todas as suspeitas, se todos os receios, se
todos os motivos que levaram Anna ao seu culminar da rebeldia, do
impressionismo, eram reais, não sei. Mas espero muito breve descobrir com a
leitura do romance, agora, com a adição de toda uma série de rostos exímios para
me fazer companhia.
Antes de terminar,
quero somente deixar uma referência para três cenas em particular que me
marcaram cinematograficamente – a sublime sequência de dança entre Anna e
Vronsky, a corrida de cavalos que me roubou o fôlego, e o último debate
emocional de Anna, na estação de
comboio, antes do seu último acto. Mas em suma, adorei e... foi um filme que me deixou quase, quase, sem palavras.
2 comentários:
Este filme tenho que ver! Deve estar fenomenal! Eu gosto muito destes filmes históricos baseados em clássicos e nos últimos que mais gostei a actriz Keira Knightle está sempre neles ("Orgulho e Preconceito", "Atonement"...). Ela tem jeito para representar estes papéis e o director Joe Wright sabe disso, não fizesse ele todos os seus filmes desse género com ela como actriz principal. Estou muito curiosa pelo livro e pelo filme!
p.s. deixei.te um selinho no blog.
Bjs*
Oh, Crazy, este filme é de loucos! O Wright deu-lhe um toque tão especial, tão único, tão emotivo que é impossível despregar os olhos do ecrã! Sim, sem dúvida que a Keira é a escolha perfeita para qualquer papel que meta algo histórico, não é actriz que goste muito mas tem vindo a conquistar-me gradualmente. =)
Obrigada pelo selinho!
Beijinhos
Enviar um comentário