Eloisa James estreou-se
em terras lusas com Paixão Numa Noite de
Inverno, deixando a promessa vindoura de muitos mais romances históricos
recheados de humor e emoção. Autora de mais de vinte obras, James é também
professora universitária de Literatura Inglesa, deixando transparecer, assim, a
sua grande paixão por Shakespeare. Casada com um genuíno cavaleiro italiano,
Eloisa James divide o seu tempo entre a família e o grande amor que sente pela
escrita e pela leitura. Em Portugal, sob a tutela da apaixonante Quinta Essência,
a autora conta já com três romances publicados, estando o quarto a caminho.
Depois de Paixão Numa Noite de Inverno,
as leitores podem encontrar duas belíssimas histórias baseadas em contos de
fadas – O Beijo Encantado e, mais
recentemente, Milagre de Amor.
O Pedacinho
esteve à conversa com a escritora de modo a descobrir um pouco mais sobre a sua
vida literária e pessoal. Deixo-vos a entrevista traduzida, assim como o
original um pouco mais em baixo. Espero que gostem.
Na sua opinião, qual é o componente mais importante num romance? São as
personagens, o enredo, talvez um outro elemento?
Penso que seja o final
feliz. O romance tem um ritmo e uma promessa que me atrai. Sei que o mundo é um
lugar frio e duro; perdi a minha mãe e tenho um filho doente crónico. Mas – e este
é um grande mas – também sei que o amor e a alegria fazem toda a diferença. O romance
lembra-me que se existe um padrão no universo, é o de que tem uma forma redonda
e muito amor. De vez em quando, todos nós devemos lembrar-nos disso e os
romances oferecem-nos esse presente.
Milagre de Amor é muito dinâmico e divertido, e a Eloisa citou, de facto, que Piers possui
algumas das peculiaridades do Dr. Gregory House, da série House, por isso, a minha questão é a seguinte: deixa-se inspirar
pela sua vida pessoal e pelo mundo real? E quanto dessa inspiração se encontra
nos seus livros? Ou provém tudo da sua imaginação?
Encontro inspiração em
dois sítios; primeiro e mais importante, na minha própria vida, como sugeriste.
As emoções fortes encontradas nos romances têm de prover das emoções dos próprios
autores. E segundo, inspiro-me muito através das minhas leituras. Estou constantemente a ler –
dentro do meu género e fora da literatura, ficção e não-ficção. Penso que essa é
a forma mais valiosa que um autor tem de usar o seu tempo. Nunca se sabe quando
vamos estar a ler algo e, de repente, surge uma ideia para um livro. Até pode
acontecer enquanto se lê o jornal! Para o meu irritante doutor, inspirei-me num
episódio da série House que apanhei numa viagem de avião. Por isso,
nunca se sabe.
Como é que molda as suas personagens de forma a que elas encaixem na ideia
base do conto de fadas em que está a trabalhar? E esse processo difere, de
alguma forma, das suas outras séries históricas?
O processo difere
porque tenho de trabalhar com as ideias do conto de fadas ao mesmo tempo.
Deixa-me dar-te um exemplo do The Duke is
Mine, que será publicado em Portugal dentro em breve, se é que já não o
foi. Duke é o terceiro livro na minha
série de contos de fadas; este reescreve o conto de A Princesa e a Ervilha, a história de uma princesa que surge no
meio de uma noite chuvosa, e que é posta à prova para se saber se é, ou não,
uma princesa «verdadeira» - o mais famoso conto que envolve uma pilha de colchões
no topo de uma ervilha.
Em A Princesa e a Ervilha, a rapariga que chega a meio de uma
tempestade, acaba por ser uma princesa “perfeita”. Por isso, ao moldar as
minhas personagens, pensei muito sobre o que é que a “perfeição”. Olivia, a
minha heroína de The Duke is Mine, em
contraste, é bastante imperfeita; ela é impertinente, rude e cheiinha. A sua
irmã, Georgiana, em contrapartida, é “perfeita”. Num sentido profundo, The Duke is Mine é sobre a perfeição e o
que isso significa. Olivia encontra-se dividida entre o duque, que sofre de uma
inabilidade de expressar emoções, tipo Aspergers, e que se centra na lógica, e
o seu noivo, Rupert, que é todo emoções com quase nenhuma lógica.
O processo de criação das
personagens difere dos meus outros romances históricos, porque dispenso mais
tempo a pensar na premissa interna do conto de fadas, e isso é o que dita o
tipo de personagens que crio.
Desde e porque se tornou uma escritora publicada, qual foi a coisa mais
fantástica, estranha e inesperada que lhe aconteceu?
Tornei-me amiga de
outros escritores! Sabia que o mundo estava cheio de pessoas sentadas às suas
secretárias a ditar histórias mas nunca me imaginei, verdadeiramente, como
sendo uma delas até ao momento em que fui publicada e as comecei a conhecer.
Agora tenho uma rede de amigos fantástica que me contactam dia e noite. Falamos
sobre as nossas vidas, sobre os nossos romances, personagens, e carreiras. Tem
sido uma prenda fantástica (e inesperada)!
Pode dar alguns concelhos a jovens escritores que sonham um dia virem a ser
publicados?
Simplesmente atirem-se,
talvez com uma cena em mente, e trabalhem a partir daí. Os jovens escritores
gastam demasiado tempo a criar sinopses detalhadas e a mataram a sua
criatividade no processo. Grande parte do meu melhor trabalho, em termos de
enredo, ocorreu-me a meio de um livro. Deixa-te ser criativo e cria novas
ideias para personagens e enredos, mesmo que já tenhas escrito grande parte do
livro. A revisão é a ferramenta mais importante para um escritor.
Gostaria de deixar uma mensagem aos seus leitores portugueses?
Estou a soprar-vos
grandes beijos e espero poder conhecer-vos um dia!
Deixo um grande obrigado à autora, pela extrema simpatia e toda a disponibilidade prestada, assim como à Quinta Essência por trazer escritas tão belas e românticas ao nosso país.
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In your opinion, what’s the most important
component in a romance? Is it the characters, the plot, something else maybe?
I
think it’s the happy ending.
Romance has a rhythm and a promise to it that appeals to me. I know the world is a tough and cold
place; I’ve lost my mother and I have a child with a chronic illness. But—and this is a big but—I also know
that love and joy make all the difference. Romance reminds me that if there’s a pattern to the
universe, it’s one shaped around and by love. We can all use that reminder now and then, and romances give
us that gift.
When
Beauty Tamed the Beast is so incredibly funny and dynamic, and you’ve
actually stated that Piers has some of the peculiarity of Dr. Gregory House
from House M.D. series, so my question is: do you get a lot of
inspiration from your own personal life and from the real world? And how much
of that goes into your books? Or does everything come from your imagination?
I find inspiration in two places: first and foremost, from my
own life, as you suggest. Strong emotions in novels need to spring from an
author’s own emotions. Second I
get a lot of inspiration of reading.
I read all the time—in my genre and out of lit, fiction as well as
non-fiction. I think that's the most valuable use of an author’s time.
You never know when you'll be reading along and suddenly come up with an idea
for a plot. It even happens reading the newspaper! I got the inspiration for my cross
doctor when I caught an episode of House
M.D. on an airplane. So you
never know.
How do you shape your characters to fit in the
basic idea of the fairy tale you are working on? Does that process somehow
differ from your other historical series?
The process
differs because I have to work with the ideas of the fairy tale at the same
time. Let me give you an example
from The Duke is Mine, which will be
coming out in Portugal shortly, if it’s not already published. Duke
is the third in my series of fairy tales; this one rewrites the fairy tale “The Princess and the Pea,” the story of
a princess who arrives in the middle of the rainy night and is put through a
series of tests to see whether she is a “real” princess—the most famous of
which involved a pile of mattresses on top of a pea.
In The Princess and the Pea,
the girl who arrives in the middle of a rainstorm turns out to be a “perfect”
princess. So in shaping my
characters, I though a lot about what “perfection is. Olivia, my heroine from The
Duke is Mine, by contrast, is quite imperfect; she’s impudent, bawdy, and plump. Her sister Georgiana, by
contrast, is “perfect.” In a deep
sense, The Duke is Mine is about perfection, and what that means. Olivia is torn between a duke with an
Aspergers-like inability to express emotion, who relies on logic, and her fiancé Rupert, who is all emotion with almost
no logic.
The process of creating characters differs from my other
historicals, because I spend time thinking about the internal premise of the
fairy tale, and that dictates the kind of characters I make up.
What’s the most wonderful, odd and unexpected
thing that happened to you since and because you became a published author?
I made friends
with other writers! I knew the
world was full of people sitting at their desks spinning stories, but I didn’t
really picture myself as one of them until I was published myself and began
meeting them. Now I have a network
of wonderful friends who email me day and night. We talk about our lives, but also about our novels,
characters, and careers. It’s been
a great (and unexpected) gift!
Can you give some advice to young writers who
dream about getting published one day?
Just
jump in, perhaps with one scene in mind, and work from there. Young writers spend far too much time
making up detailed synopsis and killing off their own creativity in the
process. Most of the better stuff
I write, plotwise, has occurred to me half way through a book. Let yourself be creative and come up
with new ideas for characters and your plot, even if you’ve already written
most of the book. Revision is the
most important tool for a writer.
Would you like to leave a message to your
Portuguese readers?
I’m blowing you
all a big kiss and a hope to meet you some day!
Thank you so much
Eloisa, for all your kindness and sympathy.