Título Original: One Night for Love
Autoria: Mary Balogh
Editora: ASA
Nº. Páginas: 368
Sinopse:
Numa manhã perfeita de Maio...
Neville Wyatt, conde de Kilbourne,
aguarda a sua noiva no altar. Mas, para espanto geral, em vez da bela jovem que
todos conhecem aparece uma mendiga andrajosa. Perante a nata da aristocracia, o
perplexo conde olha para ela e declara que é Lily, a sua mulher! Ao olhar para
aquela que em tempos desposou, que amou e perdeu nos campos de batalha de
Portugal, ele compromete-se a honrar o seu compromisso… apesar do abismo que
agora os separa.
Até que Lily fala com franqueza...
E afirma
querer começar de novo… e que Neville a ame verdadeiramente. Para isso, sabe
que terá de estar à altura das expectativas dele, o que a leva a aceitar ser
dama de companhia da sua tia e aprender as boas maneiras. A determinada Lily
rapidamente conquista a admiração da alta sociedade, demonstrando ser uma
condessa à altura do seu conde. Por seu lado, Neville está disposto a tudo para
provar à sua formidável mulher que o que sentiu por ela no campo de batalha foi
muito mais que desejo, muito mais do que o arrebatamento de…
Opinião:
O amor é uma emoção que
mata, que corrói por dentro. É um sentimento que gera controvérsia, alegria e
desespero. É uma saudade inesgotável que se expande até ao possível reencontro
de duas almas que se cruzaram num caminho comum, num caminho difícil e marcado
pela violência e as mazelas da guerra, mas que em nada se deixaram abater, se
deixaram minimizar.
O amor é a vida que
brota de uma flor, é um beijo roubado que nos marca para sempre, é a companhia que
persiste ao nosso lado, a presença que nos guia em direcção à felicidade. Na
verdade, o amor é a loucura de se querer ter mais, de se querer ter tudo. E após
uma inesquecível noite de amor, Lily ousou desejar... o mundo.
Uma Noite de Amor trata-se de um romance deslumbrante, sobre uma das mais fascinantes épocas
da História onde as senhoras, mesmo não sendo vistas com os olhos mais liberais
da sociedade, detinham uma elegância e beleza extremas, agraciando os seus
maridos e amigos com as conversas mais delicadas e as suas presenças de enorme
encanto. Sendo a minha estreia com a autora, foi com grande entusiasmo que
parti para a leitura desta obra que antevê uma série maravilhosamente picante e
provocadora, mas foi ainda com maior alvoroço que virei a última página. Grácil,
suave e rico em conforto, pontuado por uma fogosidade e formosura muito
especiais, este é um romance indispensável a todo o leitor que encontrar na
vertente histórica da ficção uma boa fonte de entretenimento.
Mary Balogh é já uma
autora de reportório respeitável e abundante mas não é por isso que apresenta
uma escrita mais desleixada ou descuidada. Muito pelo contrário. Sejam obras
recentes ou antigas, o estilo inconfundível de Balogh e a afabilidade da sua
linguagem são notáveis em todos os sentidos, e é essa sensação de aconchego,
esse realismo e imaginário singulares que transformam esta autora numa das mais
conceituadas no seu género.
O universo ficcional
por Balogh criado em tudo grita um faustoso contraste de abundância e temor, de
serenidade e tirania. Tendo início nos longos períodos das guerras
peninsulares, onde um amor invulgar nasceu por entre as metáteses da morte, e
culminando num reencontro improvável, quase impossível e extremamente
perturbador, este é um enredo que em muito surpreende e cativa. A força
interior de Lily, qual leoa que luta pelo último pedaço de uma carcaça há muito
ansiada, é de uma magnitude estonteante e a sua vontade em se tornar uma
senhora respeitável, uma lady, é tal
que o próprio leitor, mero espectador externo, não consegue evitar
sensibilizar-se e, por ela, deixar gerar uma admiração profunda. Quanto a
Neville, é a sua perseverança e insistência numa relação cujas bases se viram
destruídas pelos «canhões» da guerra o factor que verdadeiramente apela à emoção
do leitor. E mesmo tendo esta personagem, na minha opinião, um papel (quase)
secundário face a destreza e obstáculos presentes na ascensão pessoal de Lily,
dúvidas não restam de que é um autêntico herói – um cavalheiro apaixonado,
paciente e carinhoso que de tudo fará para reconquistar aquela que lhe roubou o
coração em Portugal.
Este é um enredo feito
de pequenos pormenores. A subtileza que assiste todo o romance e os pontuais
momentos de paixão e prazer puro partilhados pelo casal principal são, somente,
alguns dos elementos mais interessantes desta obra e nos quais Balogh conseguiu
atingir a perfeição. Nota-se, claramente, a inteligência depositada nos diálogos,
a avidez das descrições, a entoação dos sentimentos em cada página, cada frase
de Uma Noite de Amor. Mas, também,
numa trama onde o elemento de maior importância é o amor, é a aventura de amar
e ser amado, a confiança que essa troca de confidências, de amizade e
companheirismo requer, que outro tipo de história se poderia esperar? E ainda
que seja palpável a desilusão, a raiva e a dor da traição, da sensação de
vermos o nosso mundo virar do avesso, a esperança mantém-se presente, mantém-se
firme e luta pela felicidade, e pelas novas oportunidades, que o futuro
certamente trará.
Quanto a mim, esta foi
uma estreia infinitamente arrepiante e deleitável – como se tal já não se
notasse na restante opinião. Venerei a essência subtil, e quente, com que a
autora preenche e constrói a sua trama. Apaixonei-me pela delicadeza das suas
personagens, pela tenacidade com que estas enfrentam um relacionamento à
partida condenado, pelo salto de fé, pelo risco que tomam perante uma sociedade
feita de costumes e regras. E deliciei-me, é um facto, com a voz única de
Balogh, o seu estilo soberano, o seu cuidado, a sua atenção para com os
pequenos detalhes que, no fundo, permitem ao leitor sentir, com realismo, a acção
assente nas páginas. Simplesmente, adorei.
Uma exímia aposta por
parte de uma das mais aclamadas editoras nacionais, ASA, numa autora
impecavelmente atenciosa e agradável, numa autora que merece ser apresentada
aos leitores portugueses. Um romance absolutamente maravilhoso e divinal que não
podem perder. Atrevam-se!
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