Carolyn Turgeon estreou-se em
território luso com A Sereia, uma
inovadora reinterpretação de um dos mais belos contos de fadas de todos os
tempos – A Pequena Sereia, de Hans
Christian Andersen. Licenciada em Literatura Inglesa e Italiana, Carolyn
rapidamente se viu apaixonada pela arte da escrita, centrando-se numa nova
abordagem às histórias de encantar já nossas conhecidas. Do seu reportório,
encontra-se disponível, embora na língua original, Rain Village, Godmother e The
Next Full Moon, estando The Fairest
of Them All com lançamento previsto para 2013.
O Pedacinho esteve à conversa com a autora, de modo a descobrir um pouco mais sobre si, enquanto escritora, os seus hábitos de escrita e, claro, sobre o seu romance A Sereia, publicado este ano sob a asa da Planeta Manuscrito. Aqui fica a entrevista, traduzida. Espero que gostem.
O Pedacinho esteve à conversa com a autora, de modo a descobrir um pouco mais sobre si, enquanto escritora, os seus hábitos de escrita e, claro, sobre o seu romance A Sereia, publicado este ano sob a asa da Planeta Manuscrito. Aqui fica a entrevista, traduzida. Espero que gostem.
Quem é Carolyn Turgeon? Conte-nos um pouco sobre si.
Bem, nasci no Michigan,
cresci em Illinois, no Texas, no Michigan e na Pensilvânia, e vivi muitos anos
em Los Angeles e em Nova Iorque. Licenciei-me na Universidade Penn State, em
Literatura Inglesa e Italiana, e mais tarde estudei Literatura Comparativa, com
especialidade em Poesia Medieval Italiana, na UCLA. Enquanto lutava por
terminar o meu primeiro romance e encontrar um agente e uma editora, trabalhei,
em regime de full time, em vários
meios da escrita, na cidade de Nova Iorque. E agora sou escritora a tempo
inteiro, com quatro romances editados (três adultos e um infantil), e com um
novo quase a sair, em 2013. Actualmente, resido na Pensilvânia, mas desde que
me tornei escritora que tenho viajado com frequência. Vivi alguns anos em
Berlim e, nos últimos dois, tenho ensinado escrita no Alaska, durante o verão.
Grande parte dos meus livros são reinterpretações de contos de fadas, e a minha
próxima obra, The Fairest of Them All,
é sobre a Rapuzel tornar-se na madrasta da Branca de Neve. Sou ainda responsável
por um blogue dedicada a sereias, I Am a Mermaid (iamamermaid.com) e posso,
muito bem, ser uma. Pelos menos um bocadinho.
Quando, porquê e como começou a escrever?
Escrevo desde que me
lembro. Sempre adorei livros e histórias, ler e sonhar acordada, e em pequena já
pensava que ser escritora era a coisa mais maravilhosa, fantástica e bonita de
se ser. Quando era mais nova, era obcecada com todo o tipo de livros mas
adorava, em especial, as histórias da Betsy-Tacy-Tibb,
de Maud Hart Lovelace. Nelas, a Betsy quer tornar-se escritora e, por isso, está
constantemente a sentar-se nas árvores, usando um longo vestido, a rabiscar em
blocos de notas. Se não tivesse já desejado ser escritora quando me apaixonei
por estas obras, de certo que o desejaria após as ler.
Escrevi o meu primeiro
livro quando tinha oito anos, The Mystery
at the Dallas Zoo. Nele, um grupo de crianças detectives tem de descobrir
quem roubou a anta do jardim zoológico. Resolvem o crime quando encontram uma
nota, de um guarda para outro, a discutir o roubo. Não é o livro mais
misterioso.
O que mais gosta do facto de ser escritora?
E o que gosta menos?
Provavelmente, o que
mais gosto de se ser escritor, é de se poder imaginar o que se quiser e depois
torná-lo real, nas páginas. Somente posso fantasiar como será ser-se uma sereia
nas profundezas do oceano, ou uma rainha num castelo medieval, ou uma
trapezista a viajar num circo antigo, e, assim, transportar o leitor para esses
lugares, fazê-lo sentir-se como se tivesse tido essa experiência, de facto. É também
o que mais gosto em se ser leitora – ser transportada para outros mundos e
corpos, ter experiências que talvez nunca venha a ter na vida real. É,
verdadeiramente, algo mágico.
Existe igualmente muita
coisa desagradável no mundo da edição e em toda a pressão sentida. Existe muita
incerteza. Tanto posso encontrar-me no início de uma longa e ilustre carreira,
como posso já ter alcançado os meus maiores feitos ou sucessos. Não podemos
contar com nada nem tomar, como certo, o que for.
Muitos escritores sentem a necessidade de ter uma rotina ou horário de
escrita. Acontece-lhe o mesmo?
Aspiro a ter uma rotina
a sério, em que me levanto todos os dias e escrevo x número de palavras ou páginas,
mas como tenho levado uma existência algo cigana e desorganizada nestes últimos
anos, escrevo sempre que posso, no computador, onde quer que esteja,
normalmente motivada por algum tipo de prazo. E quando me sento para escrever,
tento escrever o máximo possível.
Dois dos seus quatro livros publicados baseiam-se em contos de fadas. Como é
que escolhe o conto de fada «certo» para recontar?
O meu primeiro livro
baseado num conto de fadas foi Godmother,
que fala sobre a fada madrinha da história da Cinderella, a viver em Nova
Iorque nos dias de hoje. Enquanto crescia, fui atraída pelo lado mais obscuro
desta história e adorei a ideia de a contar na perspectiva de uma personagem
mais secundária. Depois, A Sereia
aconteceu quase por acidente, quando a minha editora inglesa comprou os
direitos de Godmother e me perguntou
em que mais obras me encontrava a trabalhar. Enviei-lhe uma lista de ideias,
incluindo duas narrativas não baseadas em contos de fadas, e ela comprou
precisamente a ideia que estava bem no fundo dessa lista, de um livro para
crianças sobre sereias. Adquiriu-o como sendo um romance para adultos, ao que a
minha agente me aconselhou a que me inspira-se na obra de Hans Christian
Andersen. Foi difícil até conseguir encontrar uma forma de o fazer, visto A Pequena Sereia ser, já de si, uma
narrativa muito negra e depressiva (e lindíssima!), mas depois criei a
personagem da princesa, aquela com quem o príncipe se casa, na história, quebrando
assim o coração da sereia. Gostei da ideia de me poder focar na relação tecida
entre duas personagens femininas, do mesmo modo que em Godmother (onde existe uma proeminência na ligação entre a fada
madrinha e a Cinderella). O meu livro infantil, The Next Full Moon, é baseado em velhos contos de jovens raparigas
cisnes; neste caso, adorei usar a transformação mágica como uma metáfora às
mudanças da puberdade. Foi só no meu livro seguinte, The Fairest of Them All, que tive mesmo de me sentar e decidir que
conto de fadas abordar a seguir, pois a minha editora tinha sido bastante clara
na sua vontade de publicar mais um romance. Assim, analisei todas as
personagens femininas de todos os contos clássicos, e apercebi-me de que todas
estas belas jovens heroínas, que foram abusadas e maltratadas, e todas as
bruxas e rainhas más que, pelo menos, fizeram parte desses danos, são,
praticamente, a mesma mulher. De que outra forma poderiam ser uma Rapunzel ou
uma Branca de Neve?
Christopher apaixona-se por duas mulheres. Diria que o seu amor por Lenia é
verdadeiro? Ou poderá ser fruto do magnetismo próprio da espécie retratada?
Eu diria que
Christopher tem uma grande afeição e adoração por Lenia, que é uma jovem tão frágil,
bonita e acolhedora, e sim, com um magnetismo muito atractivo (de facto, é a
mulher mais encantadora que ele alguma vez viu – como não o poderia ser, sendo
ela uma sereia?), mas talvez o amor de Christopher por Margrethe seja mais
profundo ou, pelo menos, mais baseado na comunicação e na mente. Contudo, e em última
instância, pretendi que a relação mais importante, no livro, fosse entre Lenia
e Margrethe que, sem assim o quererem, se acabaram por encontrar na posição de
rivais pelo amor de Christopher.
Margrethe é uma personagem muito romântica e adorável. Acredita que o último
sacrifício dela era inevitável? Acha que ela poderia, simplesmente, ter deixado
tudo terminar sem fazer algo que o impedisse ou mudasse?
Eu penso que sim, que o
último sacrifício era inevitável. Não vou dizer muito mais para não desvendar
tudo!
Iremos ler mais sobre Christina? Talvez como figura principal num outro
livro?
Escrevi A Sereia a pensar que, no futuro,
poderia haver um seguimento (a história de Christina) e uma prequela (a história
da bruxa do mar e de como tudo aconteceu antes da acção de A Sereia). Neste momento, é mais provável acontecer a prequela.
Houve alguma personagem particularmente mais complicada de desenvolver?
Suponho que a
personagem do príncipe foi a mais difícil de desenvolver, visto que, na maioria
das vezes, o foco parece recair nele mas, na verdade, pelo menos no meu
pensamento, não está nele. Quero que as minhas princesas sejam figuras
completas e carismáticas mas também desapontadas. Poderia ser de outra forma?
Nenhum príncipe encantado pode salvar uma princesa dos contos de fadas
exactamente como ela deseja ser salva.
A Fantasia é um género que sempre gostou e sobre o qual quis escrever?
Bem, adoro folclore,
contos de fadas, mitos, bruxas, isso tudo, mesmo que Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garzia Marquez, seja o meu livro
favorito. Tenho uma tatuagem, no meu braço esquerdo, da Daphne a transformar-se
num loureiro. Aprecio uma boa e saudável dose de magia, especialmente se
estiver misturada com elementos realistas, mas sou daquele tipo de pessos que
acredita que o mundo real está repleto de magia e de beleza, se ao menos
estivermos abertos a isso, a vê-lo. Mas nem tudo tem de ser mágico, para mim.
Adoro policiais e estou, neste preciso momento, a trabalhar num!
Se tivesse de descrever A Sereia
em três palavras, quais seriam?
Mágico.
Consistente.
Medieval.
De todos os seus romances, tem algum que, de certa forma, é especial? E
porquê?
Acredito que a minha
resposta a esta questão seria o romance em que estou actualmente a trabalhar,
que neste caso é The Fairest of Them All.
Tento sempre fazer melhor, mas também tenho um carinho especial pelo The Next Full Moon, pois mergulhei muito
profundamente na minha própria vida e experiências para o escrever. Quando
tinha doze anos, era muito alta e tive um crescimento muito rápido, era tímida
e insegura, constrangida, e apesar de tecnicamente não ter penas a crescerem-me
no corpo, bem que as podia ter! A Sereia
é-me igualmente muito querido por diversas razões, mas acima de tudo pelos
lugares a que me levou. Devido a ele, mergulhei neste fantástico mundo das
sereias que não sabia existir (se visitares o meu blogue iamamermaid.com,
perceberás o que quero dizer). E isso influenciou-me de tal maneira que,
inclusive, fui aprender mergulho na Nicarágua, no Outono passado, e, na próxima
semana, irei mergulhar nas Bahamas, numa viagem dedicada a este tema que tanto
gosto... e, no topo de tudo isso, já me levou, inclusive, a Portugal (apesar de
não fisicamente... ainda!)!
Li que A Sereia vai ser adaptado
ao cinema. Como se sente em relação a isso? É algo que sempre quis? Ficou surpreendida?
A Sereia foi indicado
para adaptação cinematográfica, pela Sony Pictures, há cerca de um ano, e
claro, achei maravilhoso. Mas também Godmother
o foi (duas vezes!) e nada aconteceu... Portanto, não existe uma garantia.
Contudo, já li um guião de A Sereia,
pelo menos era um primeiro rascunho, e posso dizer que achei estranhíssimo e,
ao mesmo tempo, interessante ver a minha própria reinterpretação pelos olhos de
outra pessoa – muito pareceu-me igual, mas também muito foi alterado. Como A Sereia, em si, é um reconto, são feitos
pequenos ajustes, mas, de qualquer das formas, adoraria ver esta história no
grande ecrã. É esperar!
Bem, provavelmente, o
meu conto de fadas favorito é A Branca de
Neve. Trata-se de um conto tão bonito, com todas aquelas imagens vítreas e
das maçãs, e com a floresta negra, mas é também incrivelmente estranho e
distorcido. Adoro essa combinação de escuridão e luz. Também gosto de A Pequena Sereia, de Hans Christian, é dos
contos mais sinistros, tristes e adoráveis que li.
Pode dar alguns concelhos a jovens escritores que sonham um dia serem
publicados?
Antes de mais, diria
para lerem e lerem muito. Prestem atenção ao que estão a ler e à forma como o
texto foi construído, o que te move e te afecta, o que o escritor fez que te
mantém a virar as páginas. Consegues obter uma sensação bastante real e da
linguagem e da história assim. E, em segundo lugar, diria para trabalharem
muito de modo a encontrarem a sua própria voz, o seu estilo, as histórias que
querem contar. Penetrem nas vossas próprias paixões e obsessões bizarras,
prestem atenção ao mundo que vos rodeia, às pessoas que vos rodeiam, a vocês
mesmos e às vossas peculiaridades.
Existem histórias em todo o lado! E depois,
escrevam, e aprendam que quanto mais escreverem melhor aprenderão a vossa arte,
melhores escritores serão. Também requer muita disciplina e esperança para
simplesmente se sentarem e, não somente começar mas terminar um livro, por isso
encontrem apoio onde puderem – em aulas, workshops, grupos de escrita... Se não
conseguirem encontrar um workshop ou grupo, iniciem um!
E, finalmente, gostaria de deixar uma mensagem aos seus leitores
portugueses?
Bem, sinto-me muito
entusiasmada por A Sereia ter sido
traduzido em português e em vir a ter,
de facto, leitores portugueses! Nunca estive em Portugal mas adorava
visitar-vos e aprender mais sobre o vosso lindíssimo país. Assim, a minha
mensagem para os meus leitores portugueses (!) é: Espero visitar o vosso país
um dia e conhecer-vos a todos! Entretanto, espero verdadeiramente que gostem de
A Sereia! =)
Antes de
terminar, quero deixar um muito obrigado à autora Carolyn Turgeon, por toda a
sua simpatia e disponibilidade, assim como à Planeta por ter decidido apostar
nesta escritora muito especial. Estou-lhes soberbamente agradecida. :)
2 comentários:
Adorei a entrevista :)
Obrigada, Patanisca! Fico muito contente. :)
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