Título Original: House Rules
Autoria: Jodi Picoult
Editora: Civilização Editora
Nº. Páginas: 622
Tradução: Ana Figueira
Sinopse:
Jacob Hunter é um adolescente: brilhante a Matemática, sentido de humor aguçado, extraordinariamente bem organizado, incapaz de seguir as regras sociais. Jacob tem síndrome de Asperger. Está preso no seu próprio mundo – consciente do mundo exterior e querendo relacionar-se com ele. Jacob tanta ser um rapaz como os outros mas não sabe como o conseguir.
Quando o seu tutor é encontrado morto, todos os sinais típicos da síndrome de Asperger – não olhar as pessoas nos olhos, movimentos descontrolados, acções inapropriadas – são identificados pela Polícia como sinais de culpa. E a mãe de Jacob tem de fazer a si própria a pergunta mais difícil do mundo: será o seu filho capaz de matar?
Opinião:
No seu mundo foi o primeiro contacto que tive com a escrita de Jodi Picoult e acreditem quando digo que não será o único. Não estava, de todo, à espera de uma obra com tamanha grandiosidade, tamanha destreza e profundidade. É com livros deste calibre que uma pessoa dita normal reflecte seriamente acerca do que a rodeia e sobre o que se passa no mundo, sobre o que outras pessoas, para nós desconhecidas, sofrem e lidam diariamente. É com livros destes que tomamos consciência da linha ténue que nos separa de uma eventualidade, uma casualidade, de algo inesperado como o que é descrito por Jodi Picoult em No seu mundo.
Nesta narrativa seguimos os passos de Jacob Hunter, um jovem de dezoito anos que sofre de síndrome de Asperger, uma espécie de autismo que o impossibilita de ter um comportamento social comum embora seja um rapaz de uma inteligência excepcional, quando é acusado de ter morto a sua professora de competências sociais. Ao longo de toda a história, que nos vai sendo apresentada através de vários pontos de vista (de Jacob, da sua mãe Emma, do seu irmão mais novo Theo, do advogado Oliver e do detective encarregue do caso, Rich), a dúvida encontra-se sempre presente sendo somente no final que ficamos a saber o que verdadeiramente se passou com Jess, a professora de Jacob, e apesar de se tratar de um livro bastante extenso, há qualquer coisa na escrita de Jodi Picoult que simplesmente agarra o leitor às suas páginas, devorando palavra após palavra, frase após frase, quase com uma necessidade incontrolável de chegar ao cerne da questão e, tal como Jacob ao assistir aos incontáveis episódios de “Crime Busters”, resolver o crime encontrando o seu culpado e encerrando assim o caso. Admito que o final surpreendeu-me muito pela positiva. Não estava, de todo, à espera de uma reviravolta emocional como a que é descrita por Jodi Picoult e o que mais me impressionou neste livro foi a simplicidade e a fácil associação à realidade com que estas pessoas nos são apresentadas. Emma é uma mulher de forças. Viver o que viveu, dedicando-se de corpo e alma ao seu filho doente, negligenciado o filho mais novo que acaba por se tornar numa espécie de voyeur, e apresentando-se sempre ao lado de Jacob, nos bons e nos maus momentos, nas crises e nos poucos agradecimentos e demonstrações de afecto, e depois ainda ter de lidar com a possibilidade de ele ter assassinado Jess, não permitindo que a dúvida crie raízes na sua mente, afastando ao máximo a cada vez mais plausível hipótese de culpabilidade de Jacob... é uma vida de fazer qualquer um suster o fôlego e o pior disto tudo é sentir, no final do livro, como pode tão facilmente ser verdade. Foi com um enorme prazer que recebi a oportunidade de seguir todo esse comportamento através do ponto de vista de várias pessoas envolvidas, lendo os seus pensamentos e vendo a maneira como cada uma lida com a situação, sendo-lhes, inclusive, atribuidos fontes de letra diferentes como que suportando ainda mais a tese de cada um; e saber que há pessoas no mundo com síndroma de Asperger que não conseguem comunicar, que se sentem pressionadas por uma luz mais forte ou por uma certa cor, que estabelecem a sua vida conforme um conjunto de regras e normas pré-estabelecidas, seguindo uma rotina que não pode ser alterada sem um longo aviso prévio e, pior do que isso, sem conseguir criar uma relação de reciprocidade é algo que vai muito além da compreensão e aceitação da maioria das pessoas.
No seu mundo será um livro que permanecerá na minha memória e no meu coração durante muito tempo e é, acima de tudo, uma leitura que recomendo a toda a comunidade de leitores para que, uma vez mais, alguns olhos sejam abertos para a dura realidade com que muitas pessoas se vêem subitamente confrontadas. Até porque trata-se do relato de uma história que pode acontecer a qualquer um de nós, a qualquer momento da nossa vida. E por isso mesmo, além de uma recomendação de leitura, deixo ainda aqui um profundo sentimento de simpatia e admiração por todas as famílias que, no seu dia-a-dia, lidam com crianças autistas de forma a proporcionar-lhes um melhor modo de vida e um afastamento dos seus próprios mundos.
Um livro que me deixou rendida desde a primeira página, uma autora que vou seguir e uma história que me aqueceu o coração e me abriu os olhos. Recomendo!
5 comentários:
olá
tenho o livro "Ilusão Perfeita" de Jodi e sinceramente já o tenho há algum tempo, ainda não me deu vontade de pegar nele. é pena não ter no seu blog uma opinião sobre esse livro, podeira ser que me motivasse a começar de lê-lo.
beijos
Olá, Daniela :)
Eu gostei imenso deste livro - ‹‹No Seu Mundo››. Foi a minha estreia com a autora e posso dizer que foi, simplesmente, divinal. ‹‹Ilusão Perfeita›› encontra-se, actualmente, na estante a aguardar vez… assim como o mais recente da autora, ‹‹Uma Melodia Inesperada››. É uma pena, realmente, mas não estou a contar lê-lo tão cedo. No entanto, pela experiência (ainda que escassa) que tenho da autora, aconselho-te a lê-lo.
Beijinhos
olá :)
pois, eu quando o comprei senti uma enorme curiosidade em lê-lo mas foram surgindo novos livros e este foi ficando para trás.
neste momento estou a começar de ler um livro que já leu, "corações sagrados" de Sarah Dunant, estou amar e ainda estou no começo, mas ao fim deste vou pegar nele e ver como corre, é que daqui a alguns meses já faz meio ano que o tenho na estante ...
Olá, Daniela :)
Gostei imenso do livro da Sarah Dunant mas é uma leitura extremamente complexa e até algo difícil, não concordas? Contudo, é uma autora com um estilo de escrita singular e uma presença, nas próprias páginas, espantosa.
Se calhar não te aconselho a ler, logo a seguir, o da Picoult, pelo simples motivo de se tratar, igualmente, de um livro pesado. Intercala os dois com uma leitura mais leve, para não ficares saturada. :)
Beijinho
P.S. – Trata-me por tu. ;)
olá :)
concordo CONTIGO :) os corações sagrados é um livro pesado mas a história é deliciosa e está a valer a pena...
obrigada pelo conselho e irei segui-lo.
beijinho
Enviar um comentário