Título Original: The secret of happy ever after
Autoria: Lucy Dillon
Editora: Porto Editora
Nº. Páginas: 464
Tradução: Cláudia Ramos
Sinopse:
Quando Michelle convida
Anna para gerir e fazer renascer a moribunda livraria de Longhampton, é como se
um sonho se tornasse realidade: para além de conquistar, finalmente, alguns
momentos de paz longe das enteadas problemáticas e do dálmata hiperativo, Anna é
uma sonhadora completamente apaixonada por livros.
Serão as histórias de
amor, aventuras, jardins secretos, cães perdidos, bruxas malvadas e pêssegos
gigantes a trazer nova vida à negligenciada loja. Anna e os seus
clientes/leitores vão deixar-se levar pela magia. E nem a melhor amiga de Anna –
a organizada e empreendedora Michelle, que diz categoricamente não acreditar no
amor verdadeiro nem em príncipes encantados – ficará imune ao espirito love is
in the air.
Mas quando alguns
segredos da infância de Michelle voltam para a atormentar e o fracasso familiar
paira sobre Anna, poderá a sabedoria das histórias de encantar ajudar as duas
amigas – e aqueles que elas amam – a encontrar os seus próprios finais felizes?
Opinião:
Gosto de um bom livro
aconchegante. De uma história que se destaque pela beleza da escrita e pelas
imensas voltas e reviravoltas do enredo, mas que, no final, me deixe com um
sorriso perpétuo nos lábios. Acima de tudo, gosto de percorrer vivências
incompletas que buscam, fervorosamente, aquele pedacinho de felicidade, de
aceitação, de conforto que, demasiadas vezes, vemos escapar-nos das mãos. Este
livro é assim... purificante, enternecedor, um autêntico bálsamo para a alma.
Segredos para um final feliz é, definitivamente, um romance de pormenores, de vidas que, embora não
perfeitas, nunca perfeitas, são
comuns, e, por isso, deixam uma marca, uma réstia de esperança, um consolo para
todos aqueles que desistem ao primeiro obstáculo, que se resignam com um «não»
e que, muitas vezes, se renunciam de procurar o que os faz feliz.
Lucy Dillon foi uma
estreia profundamente avassaladora. A sua escrita é pontuada por uma beleza e
ritmo incríveis, sustentando-se ora na essência dos problemas que as suas
protagonistas vivem e encontram, ora na complexidade que o próprio futuro, e
também o presente, acarreta. As suas descrições são de se louvar aos céus e a
magnitude que confere a cada personagem, aperfeiçoando os detalhes, esculpindo
as várias facetas, é absolutamente cativante.
O começo de cada capítulo,
em Segredos para um final feliz, é
como um novo despertar literário para todas aquelas narrativas que outrora
conhecemos, e todas aquelas figuras que, com certeza, viremos a descobrir mais
para a frente, numa compilação de pequenos cartões, pequenas recordações e pedaços
de memórias, sugestões, não só dos próprios intervenientes ficcionais do enredo
em si, como, e atrevo-me a dizer, do gosto pessoal da autora—algo que acho magnífico.
Mas uma verdadeira história de encantar, para leitores experientes, tem
obrigatoriamente de possuir um leque interessante de personagens, e este
romance, sem dúvida, transborda excelência também nesse aspecto.
Anna e Michelle
captaram por completo a minha atenção. Os constantes dilemas que a primeira
enfrenta, e o seu forte desejo de ser mãe, assim como o passado turbulento que
a segunda se esforça por esconder por detrás de uma personalidade mais rígida e
controladora, são situações, pessoas, que facilmente poderiam existir no meu círculo
de amigos. Presenciar o desenvolvimento e desabrochar de ambas, através das
suas paixões e medos, foi indiscutivelmente mágico, e ainda sentir a companhia
de outras presenças singulares como Pongo e Tavish—adorei a abordagem canina da
autora—, as irmãs Lily, Chloe e Becca—de feitios tão distintos—ou até o próprio
Owen, Rory ou Evelyn, foi como a cereja no topo de um bolo já incrivelmente
apetitoso.
Um livro especial,
construído de afectos, é como vejo Segredos
para um final feliz. Não estou certa de que contenha, por entre as suas
muitas páginas, e pelo menos não abertamente, a fórmula secreta para o eterno happy ending que todos nós buscamos, mas
acredito, e isso sim, que, com as várias mensagens que transmite e os diversos
ensinamentos que oferece, indica o princípio absolutamente necessário, a
abertura imprescindível, para a sobrevivência a uma vida que, nem sempre, é
justa ou fácil. Mas, estar-se vivo é isso mesmo, é chorar com os amigos, sorrir
com a família, descontrair com aquilo de que mais gostamos e, claro,
reconciliarmo-nos com a ajuda ao outro que, muitas vezes, demasiadas vezes,
fica esquecida.
Gostei particularmente
das existências paralelas ao enredo principal que a autora, Dillon, tão
sabiamente vai reproduzindo um pouco ao longo de toda a história. A
Butterfields, por exemplo, e tudo o que ela significa enquanto instituição,
marcou-me sobremaneira. É deveras poderoso assistir, ainda que
superficialmente, à solidão insistente sentida em idade mais avançada, quando a
nossa mente e o nosso corpo já não funcionam em uníssono, e quando a responsabilidade
que antes sabíamos ter por nós mesmos deixou, simplesmente de existir.
Enterneceu-me a percepção que Michelle acabou por retirar deste casulo
exteriormente belíssimo, e o modo como essa destreza de pensamento, com o tempo,
se foi materializando numa mudança (gradual) de atitude e confiança, que, por
sua vez, culminou numa renovada, e mais aberta, personalidade errante. Mas também
Anna aprendeu com as pessoas à sua volta, com as gravidezes constantes, com os
comportamentos indisciplinados e com as incontáveis sensações desconfortáveis por
se «estar a mais» ou «se ser dispensável»—e isso faz-me pensar: não foi bonita a forma como cada peça, no
final, acabou por encaixar no seu devido lugar?
Porém, de entre um
livro tão mágico e prestigioso quanto este, arrepiante na veracidade com que
aborda uma série de temáticas—como a reacção quase humana de um animal face a
morte do seu dono, ou a impossibilidade, não física mas familiar, social, de
ver realizado o sonho de se ser mãe, ou ainda, a angustia da solidão, o
desespero da incompreensão alheia e a surpresa de uma nova vida—seria de
esperar que lhe atribuísse nota máxima, mas, inacreditavelmente, tal não me é
possível fazer pois, para mim, este é, de facto, um livro extremamente
interessante e diferente, romântico, mas com a falha de, por vezes, se tornar
demasiado «grande», demasiado extenso. Não é que os seus acontecimentos não
estejam bem narrados ou se encontrem exprimidos ao máximo, não, mas, mais do
que uma vez, deparei comigo mesma, principalmente a caminho do final—que foi esplêndido!—com
o pensamento: mas o que será que mais
poderá acontecer? Que mais há a contar?
Ainda assim, esta foi
uma leitura que, de certo modo, me encheu as medidas e que me deixou curiosa
com o outro título da autora publicado por cá, também aposta da Porto
Editora, Corações sem Dono. Não
se trata de um romance perfeito, mas é, e isso sem dúvida, um dos que mais
gostei dentro do seu género—especial destaque para a capa, que é adorável!.
Dillon tem um toque muito especial, único, para contar histórias, e isso nota-se
em cada uma das suas páginas. Muito bom.
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