domingo, 30 de junho de 2013

As Cinquenta Baboseiras de Toni, Rossella Calabrò [Opinião]




Título Original: Cincuenta Sombras de Gregorio
Autoria: Rossella Calabrò
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 131
Tradução: Ana Maria Pinto da Silva


Sinopse:

O senhor Grey é lindo, rico, sensível, misterioso e sexy. E é o protagonista do fenómeno literário do ano: a trilogia As Cinquenta Sombras de Grey. Há só um problemazinho, este senhor Grey não existe. E o Toni? O Toni claro que existe. Onde o Grey conversa garbosamente com a amada, o Toni recita o alfabeto inteiro arrotando. Quando o senhor Grey assume o comando, o Toni pega no comando. Se o senhor Grey toca de forma magistral piano, o Toni fica escarrapachado no sofá. O Toni, em suma, é o nosso companheiro/marido/amante, com quem nos encontramos à frente no exacto momento em que paramos de sonhar acordadas com o fatal Grey literário. Menos fascinante, mas muito mais divertido e com pelo menos cinquenta razões narradas neste livro hilariante. O Toni esconde-se dentro de T-shirts decoradas a gordura (de carne assada), e em vez da leitura refinada, prefere o último número do jornal A Bola. Bem, há qualquer coisa que falta ao senhor Grey: ser amado por provocar um sorriso. Por isso, se depois de lermos de um só fôlego a trilogia de E. L. James, nos perguntarmos quem é o exemplar de homem que ressona alto ao nosso lado, este é o livro certo para descobrir. E o mais importante, para rir. Porque, afinal, o riso é a coisa mais erótica que existe.


Opinião:

Movida por uma curiosidade quase mórbida, não resisti a experimentar uma leitura que sabia, à partida, não só ser única e absolutamente diferente das demais que têm vindo a preencher, com avidez, as prateleiras hoje em dia, como, e em igual medida, futuro alvo de polémica, de ebulição por parte de (algumas) fãs—acérrimas, por sinal—da muito afamada trilogia As Cinquenta Sombras de Grey. É que mais do que um pequeno—grande—livro que satiriza muitos dos elementos e atitudes que personificam a personagem de Christian Grey, esta obra enfatiza (também) a ideia errónea que muitas mulheres construíram do seu príncipe encantado, confrontando-as, assim, com a personalidade—e, às vezes, a falta dela—de Toni, um homem do mundo real.

As Cinquenta Baboseiras de Toni trata-se de um misto de situações e reacções comuns que visam clarificar a ideia de que o companheiro perfeito, pura e simplesmente, não existe, e de que o Mr. Grey não passa, nem nunca passará, de um objecto de ficção—e de adulação—que muitas leitoras somente poderão guardar no seu íntimo, talvez até com uma certa saudade. Mas o mais hilariante deste romance é precisamente a sensatez e sentido mordaz com que a autora, Calabrò, encara cada momento importante e decisivo, e cada resposta tresloucada que Toni oferece a Tina, mesmo sendo ela (a autora), também, uma apreciadora do trabalho que James transformou num gigantesco êxito de vendas.
Rossella Calabrò foi, portanto, uma estreia que não só me proporcionou inúmeras ocasiões de diversão pura, como, e também, uma surpresa na medida em que, mesmo estando à espera de uma abordagem algo diferente ao tema encontrado, em nenhum aspecto o seu estilo, como escritora, o seu imaginário e/ou a sua linguagem representaram uma desilusão. Simples, directa e cáustica, Calabrò entrega, aqui, o que de melhor brinca com um tema que tem vindo a provocar, cada vez mais, respostas contraditórias por parte dos leitores.

Este livro é, sem sombra de dúvida, uma obra que tem—antes de mais—de ser folheada para, então, ser plenamente compreendida por quem a lê. É que palavras descritivas do que se poderá encontrar, no seu conteúdo, de pouco ou nada servirão pois, a meu ver, é praticamente impossível colocar em meras frases a hilaridade tangente e pulsante presente em cada uma das baboseiras enumeradas por Calabrò. E estas são, decididamente, do mais diversificadas possível. Desde as pancadinhas de amor que o Sr. Grey exerce na sua Ana (e o modo como Toni encara esta delicadeza insinuante), à forte insistência relativamente à alimentação, a autora não deixou escapar um único pormenor, um único detalhe, e é simplesmente bela a forma como tudo se encaixa com naturalidade, e realismo, fora de um campo ficcional tantas vezes enganador.

Gostei bastante deste livro de bolso pelo mote descontraído e simples que o rodeia, e pelo facto de me ter entretido durante pouco mais de uma hora, tendo-o folheado rapidamente e com avidez, sem nunca ter necessidade de despregar os olhos das suas páginas. O tom suave e divertido é o seu maior trunfo, e as comparações entre o Grey que conhecemos dos livros e o Toni com que lidamos na realidade são, absolutamente, geniais. Tenho pena de não poder escrever muito mais sobre As Cinquenta Baboseiras de Toni sem, dessa forma, divulgar todas as pequenas surpresas que transformam esta leitura num sucesso de sorrisos, pelo que me resta, somente, referir que esta tanto pode ser uma trama divertida como, para alguns, extremamente «repugnante», na medida em que, para aqueles que vêem em E. L. James e no seu Mr. Grey uma fonte de inspiração e desejo, este não será, certamente, livro que quererão ler, mas para todos os outros curiosos—como eu—no mínimo, será enredo que arrancará uma ou outra gargalhada.

Uma aposta bem diferente e original por parte da Planeta Manuscrito, numa autora até então, para mim, desconhecida, mas detentora de um sentido de humor revigorante e muito transparente, contagiante mesmo.  Gostei.

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