Título Original: Kiss of Shadows
Autoria: Laurell K. Hamilton
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 447
Tradução: Nanci Marcelino
Sinopse:
Os mais supremos seres sobrenaturais são fadas Sidhe, uma raça tão bela e poderosa que foi em tempos adorada como os deuses. Não são só luxuriosos, como incrivelmente bons amantes. Quanto têm sangue real... são literalmente viciantes. Fadas de sangue puro não toleram as cidades e raramente vivem entre os humanos. Mas Meredith Gentry não é de puro-sangue. Ela tem sangue humano e por isso é mortal. Talvez também por isso, sinta que não pertence a lugar nenhum.
Meredith Gentry, princesa da corte real das Fadas, faz-se passar por humana em Los Angeles, onde trabalha como detective privada. Mas, agora, o carrasco da rainha foi enviado para a levar de volta para casa – quer ela queira quer não. Subitamente, Meredith vê-se como um mero peão encurralado nos terríveis planos da sua tia. A tarefa que a aguarda: desfrutar da companhia constante dos homens imortais mais bonitos do mundo. A recompensa: a coroa – e a oportunidade de salvar a sua vida. O castigo por fracassar: a morte.
Opinião:
O Beijo das Sombras foi, em absoluto, uma muito agradável surpresa. Com um mundo intricado e tão imensamente desejado pelos humanos, Laurell K. Hamilton apresenta um primeiro volume de uma série cheio de luxúria, provocações, atentados de morte e muita, muita sensualidade. Claramente, um romance de fantasia que não deixará nenhum amante do género indiferente, incrível pela sua escrita belíssima e curiosa ao olho meramente mortal. Uma excelente nova aposta da Colecção BANG, pela Saída de Emergência, que, uma vez mais, entrega o que promete: uma história envolvente, com personagens muito bem trabalhadas e uma trama que mantém o leitor agarrado do principio ao fim.
Meredith Gentry é a princesa Sidhe há muito desaparecida e que agora tenta manter o seu disfarce de se passar por humana, trabalhando numa agência de detectives de seres feéricos, de modo a evitar ser encontrada por qualquer membro real da Corte. Há quem pense que ela fugiu por não mais aguentar a dor de um coração partido mas a verdade é que Merry abandonou, de um momento para o outro, a Corte Unseelie devido aos inúmeros duelos para os quais era constantemente convocada e de onde, dificilmente, continuaria a sair viva. Assim, deixou para trás a sua família e os seus amigos e partiu para Los Angeles onde acabou por se adaptar e encontrar novas alianças... até agora.
Este é um daqueles livros em que a força da personagem principal é avassaladora. Merry é destemida, aventureira e extremamente segura de si, porém, é o seu medo irracional de ser encontrada e morta por membros reais da Corte Unseelie que também a torna ponderada e incrivelmente astuta. Ela é fantástica, detentora de um poder raro e de uma mortalidade frágil que a transformam num alvo fácil mas nem assim ela é mulher para baixar armas, lutando do início ao fim. Ser guiado por uma personagem assim é como o mais doce aroma da primavera que insiste em nos atormentar com as mais deliciosas visões de um mundo mágico distanciado mas demasiado tentador. No entanto, e embora o livro esteja recheado de um entra e sai de personagens dos mais variados tipos e feitios, a grande maioria deles é, igualmente, fantástica, apelativa e bastante cativante. Como disse anteriormente, a própria Merry é estupenda, uma heroína mestiça do seu mundo, uma personagem de fazer o leitor apaixonar-se, mas também temos outras entradas como, por exemplar, Frost, o assassino gelado e segundo em comando da Guarda da Rainha, um homem de uma beleza estonteante e de uma calidez intrigante, ou então Andais, a rainha estupendamente cruel e arrogante. Se calhar, Sholto? O rei dos Sluagh e cuja aparência por mais perfeita que pareça esconde algo terrivelmente grotesco por baixo de refinadas vestimentas, ou até mesmo Barinthus, aquele homem incrivelmente alto e cuja sensação primária ao avistá-lo é um inalar profundo da brisa do mar. Não interessa quantos são nem quanto tempo permanecem no activo, toda a gama de seres Sidhe e feéricos é incrível, havendo de tudo um pouco, desde duendes a gigantes, passando por seres do mar como roane e indo até às pequenas fadas com asas de borboleta cuja forma de alimentação até faz arrepiar. A acrescentar a um fabuloso leque de intervenientes, temos um ambiente maravilhoso, onde a oportunidade de o leitor tanto apreciar a perspectiva real e humana dos locais de acção como a mágica, permite um melhor entendimento de todo o pensamento e movimento por parte dos seres feéricos. Apesar de muito poucos conviverem com humanos e estes últimos terem pleno conhecimento da existência dos primeiros, pessoalmente, gostei imenso da atmosfera real de Los Angeles em que, mesmo com artes mágicas, Merry tem de lidar com o humano comum. Porém, serão muitos desses conhecimentos que a manterão viva, o maior tempo possível, uma vez chegada à Corte Unseelie.
A escrita de Laurell K. Hamilton é simplesmente deliciosa. Atenta aos detalhes nas descrições dos sentimentos e sensações durante todos os actos e propensões sexuais mas também incrivelmente atraente e sedutora na descrição dos movimentos dentro da corte, na caracterização dos personagens (aspectos físicos de cada um) e no próprio ambiente envolvente. Igualmente tentadora é a sua criatividade. Laurell K. Hamilton apresenta, com o seu O Beijo das Sombras, uma abordagem feérica completamente inovadora. Esqueçam os vampiros e os anjos, os lobisomens e os mortos vivos, estas fadas, estes esplendorosos Sidhe, vieram para roubar o lugar a qualquer ser sobrenatural que se coloque nos seus caminhos. Já não estamos perante aquelas criaturas pequenas, belas e simpaticamente amorosas. As fadas tornaram-se excelentes homens e mulheres, poderosas na sua sexualidade, governadas por uma rainha cuja vontade fortemente roça o sadismo, e cada vez mais propensos a actos de pura vingança e crueldade.
Embora tenha uma conotação sexual, uma vez que o sexo é como uma moeda de troca, de estabelecer alianças, de ir de encontro ao verdadeiro poder entre os Sidhe, assim como um meio de reprodução, não achei O Beijo das Sombras excessivamente provocador. A linguagem não é tão crua, apresentando-se, inclusive, muitas vezes sensível e todas as cenas encontradas estão devidamente fundamentadas. A nível pessoal, gostei imenso deste livro. Foi uma leitura que me levou por mundos nunca antes explorados, por mim, e cujos pormenores dos vários tipos de poder, das hierarquias dentro da corte e dos inúmeros seres feéricos me fez, totalmente, as delícias.
Um livro intenso e inovador. Uma leitura extremamente agradável, aprazível, que deixará o leitor completamente encantado e viciado tanto nesta personagem principal magnifica como na escrita de Laurell K. Hamilton. Pessoalmente, mal posso esperar pela publicação do próximo volume!