quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Se eu Ficar [Opinião de Cinema]




Live for Love

Esta adaptação tocou-me particularmente, e é por isso que decidi escrever um pequeno apontamento sobre a mesma. Não é, de todo, minha intenção fazer disto uma crítica ou opinião cinematográfica, mas sim exprimir os muitos sentimentos que este filme despertou em mim — e, quem sabe, até fazer desaparecer as possíveis incertezas que tantos outros curiosos possam ter em relação a esta obra (da 7.ª arte).

Se eu Ficar, ou If I Stay no original, escrito por Gayle Forman, é, sem sombra de dúvida, um dos meus contemporâneos young adult favoritos. Há qualquer coisa de muito especial e transcendente na história que esta autora criou, e confesso que, por isso mesmo, estava algo receosa pela forma como essa essência iria ser transposta no grande ecrã. A verdade é que o resultado superou, em grande, todas as minhas expectativas e quer tivesse lido o livro ou não, este continuaria a ser, certamente, um filme que nutriria o mesmo tipo de efeito em mim.


Há quem pense que esta é uma história triste. Que estas imagens vão, somente, retratar um texto que descreveu o sofrimento de uma adolescente perante a perda de algo, ou alguém, insubstituível. Mas, para mim, esta é uma história de esperança. Esperança e amor. Dois valores que muitas vezes damos por certos ou imaginamos serem imbatíveis mas que nos mais delicados e impensados momentos arrebatem-nos com o poder e a força que podem conter. Nem tudo é feliz nesta história. Nem tudo é seguro. E se há algo que Se eu Ficar retrata de forma exímia, em ambos os seus formatos, é a surpresa do inesperado. Nunca sabemos quando a nossa vida pode sofrer uma viragem de 180º, nunca sabemos quando algo que está fora do nosso alcance, do nosso controlo, pode destruir todos os sonhos, todos os desejos e todo o futuro que julgamos estar-nos destinado. E é na quase ínfima réstia de esperança, esperança por algo melhor, esperança pela sobrevivência, esperança para que o amor seja suficiente que este filme é exemplar — assim como o seu livro. Uma história emocionante, sem dúvida, que arrebatará qualquer espectador.

Existem pequeno pormenores que já não me recordava. Ao fim e ao cabo, li este romance em meados de 2010 e com tantas outras páginas percorridas nos ‘entretantos’, por vezes torna-se complicado guardar tantas minuciosidades, tantos detalhes de tantas obras mesmo quando uma porção destas são nossas predilectas. Ainda assim, foi uma sensação única a de relembrar, quase em modo automático, tantos desses importantes e imprescindíveis instantes narrativos aquando do visionamento do filme, uma vez que este se encontra incrivelmente fiel à obra que serve de sua base. Admito que estava também algo renitente na escolha de actor para Adam — visto esta ser uma personagem com um tipo de substância e áurea únicas —, mas apercebo-me agora que não poderiam ter feito melhor selecção. Quanto a Mia — ou a Chloë Grace Moretz — nada já de errado a apontar, uma vez que esta actriz encarnou, com perfeição, este papel, dando-lhe uma forma humana como nenhuma outra, quando esta vivia, somente, na mente dos seus leitores. 


Se o cast se traduz numa componente extremamente forte deste filme, e as linhas que o compõem se mostram em concordância com as palavras que o descrevem, então que dizer do resto? O resto são lágrimas, sorrisos e suspiros. São arrufos interiores e debates solidários para com os acontecimentos vistos no ecrã, em prol de uma, por mais pequena e insignificante que seja, felicidade que parece não ter raiz e, por isso, não repousar no presente (narrativo). Suponho que simplesmente não hajam substantivos suficientes para expor o quão maravilhoso e o quão distinto este filme é na realidade. E, atrevo-me ainda a escrever, que se encontra com uma adaptação bastante mais digna e completa, no seu todo, que um seu antecessor dentro do género literário — falo de A Culpa é das Estrelas. Afinal de contas, existe uma maturidade, um cuidado impressionante com a performance dos actores, uma fotografia e um guião decididamente mais maduros, e crentes, e pensados em Se eu Ficar do que na adaptação da obra de John Green — que embora seja genial e capte o que de tão especial o livro apresenta, ainda assim não consegue atingir ‘aquele’ nível de perfeccionismo e atenção que seria esperado após um hype tão pronunciado e tão mundial. Creio que esteja bastante clara qual seria a minha escolha caso tivesse de decidir entre um e outro filme... 


Se tiverem oportunidade de ver este filme numa sala de cinema, então aproveitem. Prometo que se irão emocionar, que não ficarão indiferentes e que, quer tenham lido a obra ou nem sequer tenham ouvido falar da mesma, que sairão da sala satisfeitos, a sentirem-se completos e com a percepção de que valeu a pena o tempo gasto. Intercalando passado com presente, angústia com amor, vida com morte, esta é uma obra (seja em que formato for) que não vão querer perder. Por isso, deixem-se levar pela beleza da escrita de Forman, pela brilhante direcção de R. J. Cutler, pela genuidade de Moretz e Blackley (que faz o papel de Adam), assim como a de todas as restantes personagens secundárias, e sucumbam ao sofrimento de se ter de escolher entre viver uma existência incompleta, marcada por uma perda imensa, ou desistir em prol de algo mais fácil, mais suportável e menos... real. 


2 comentários:

Marilina Fernandes disse...

Olá,
Li o que escreves-te e se me permites, partilho da tua opinião. Só acrescentaria que acho extraordinário a autora ter escrito uma história que representa apenas um dia na ação. O Resto são as suas lembranças.
Não sei se já leste a continuação e o mesmo se passa no segundo livro. Apenas um dia.
;) Lina

Pedacinho Literário disse...

Olá, Lina
Sim, realmente esse foi um pormenor que não referi neste pequeno (grande) apontamento mas que penso ter referido na opinião do livro. É, sem dúvida, uma história extraordinária e uma das minhas favoritas dentro do género.
Também já li Where She Went — infelizmente, não gostei tanto quanto de If I Stay. Continua a ser uma história bonita e interessante, mas, a meu ver, não tem o mesmo impacto que o primeiro. =) *

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