Título Original: The Spectacular Now
Autoria: Tim Tharp
Editora: Editorial Presença
Colecção: Noites Claras, N.º 20
N.º Páginas: 344
Sinopse:
Aos dezassete anos, tudo o que Sutter Keely deseja é desfrutar do espectacular momento presente. É o tipo que anima qualquer festa, cheio de charme e humor, o herói em busca de si próprio, com um coração puro mas a fazer as escolhas erradas. De repente, Sutter tem a sensação de que todos os seus amigos estão a caminhar em direcção a futuros promissores... Mas para Sutter continua a bastar o espectacular momento presente. Uma típica história de passagem da adolescência para a idade adulta, com a mistura certa de tragédia e comédia, sobre um jovem que tenta encontrar o seu próprio caminho impulsionado por um misto de compaixão e recusa em relação à realidade da vida adulta.
Opinião:
Vive o presente.
Abraça o bizarro.
Estas são, muito possivelmente, as duas frases que ficam marcadas no leitor após terminar O Espectacular Momento Presente, e são, também, as que melhor o caracterizam. É verdade que por vezes nos esquecemos de olhar e experienciar ao máximo o momento que estamos a viver e, ao invés, nos deixamos dispersar pelo que poderá acontecer no futuro ou pelo que já ocorreu no passado. É igualmente verdade que o bizarro sofre da tendência de assustar a pessoa comum, mas que por vezes se transforma em algo extraordinário e absolutamente inesquecível. Tim Tharp mostra, com a história de Sutter Keely, que o momento presente é fascinante e deve ser levado a sério, e que o bizarro não pode ser afastado, ou apagado, pois é a particularidade que define cada um de nós.
Em certa medida, este é um livro sem uma história palpável — embora muitos dos acontecimentos descritos produzam fortes sensações de realismo e veracidade. Um livro que serve o propósito de expor a vivência de Sutter ao mesmo tempo que lida com uma série de problemas inerentes à adolescência. Um livro que não tem um final definido, que não oferece uma conclusão mas que permite dar asas à imaginação do leitor — e, principalmente, um livro que preenche pela voz cativante do seu protagonista. Sutter pode não ser uma pessoa perfeita, mas o seu carisma é contagiante e a sua atitude, ainda que muitas vezes moldada pelo álcool, mostra matizes de bondade e simpatia. Porém, os erros que comete e as oportunidades que perde transformam-no em alguém que somente quer viver o presente, e cujo presente se encontra fortemente toldado pela bebida.
Confesso que queria muito de ter gostado deste livro. Sutter trata-se de uma personagem que agarrou a minha atenção por breves momentos, mas cuja força e crescimento inexistentes fez com que a perdesse. A sua dependência alcoólica e o seu estilo de vida não conseguiram criar empatia em mim, e por mais brilhante e humorística que a sua personalidade seja, rapidamente os seus traços de esplendor e refulgência se viram apagados pela incompreensão e não vontade em querer fazer algo da sua vida. Ele diz-me para viver o presente, e eu digo-lhe que o presente não merece ser vivido se não existir o mínimo propósito de criar um futuro melhor. Ele diz-me para abraçar o bizarro, e eu digo-lhe que o bizarro não merece carinho e atenção se for para simplesmente existir, para simplesmente viver.
Quando um livro não tem a capacidade de me preencher, é-me difícil dissertar sobre ele. As palavras tornam-se insuficientes para assinalar tudo o que, numa perspectiva pessoal, de errado se encontra na história, e quando olho para O Espectacular Momento Presente, todas estas dificuldades adquirem um peso extra pois as temáticas embora sejam algumas e até mesmo interessantes — incompreensão, dependência, abandono parental, impopularidade —, aquilo que verdadeiramente define a personagem principal e a impede de crescer e tornar-se alguém é a única coisa que simplesmente me custa a aceitar — a perda de vontade, e a não aceitação de que se tem um problema grave. Cometer erros é uma atitude humana, mas é no aprender com eles que realmente reside a fórmula mágica, e se há algo que o capítulo final deste livro mostra, é que Sutter pura e simplesmente não tem salvação possível — porque não a quer.
Espero que por eu não ter gostado deste romance young adult que isso não seja motivo para que, pelo menos, se deixam levar pela curiosidade de saber se a vossa opinião está em concordância com a minha. O gosto é algo que não se define e que é diferente de pessoa para pessoa, por isso, se eu não gostar de algo não quer dizer que vocês não vão gostar. Penso que, pelas temáticas abordadas, este é um livro que merece atenção e uma oportunidade. Afinal de contas, trata-se de uma história curiosa e diferente contada por um protagonista sem igual — contudo, a mim não me convenceu. Admito que tenho pena, muita pena mesmo.
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