terça-feira, 21 de maio de 2013

Insurgente, Veronica Roth [Opinião]





Título Original: Insurgent
Autoria: Veronica Roth
Editora: Porto Editora
Nº. Páginas: 371
Tradução: Pedro Garcia Rosado


Sinopse:

A tua escolha pode transformar-te - ou destruir-te. Mas qualquer escolha implica consequências, e à medida que as várias fações começam a insurgir-se, Tris Prior precisa de continuar a lutar pelos que ama - e por ela própria. O dia da iniciação de Tris devia ter sido marcado pela celebração com a fação escolhida. No entanto, o dia termina da pior forma possível. À medida que o conflito entre as diferentes fações e as ideologias de cada uma se agita, a guerra parece ser inevitável. Escolher é cada vez mais incontornável... e fatal. Transformada pelas próprias decisões mas ainda assombrada pela dor e pela culpa, Tris terá de aceitar em pleno o seu estatuto de Divergente, mesmo que não compreenda completamente o que poderá vir a perder.
A muito esperada continuação da saga Divergente volta a impressionar os fãs, com um enredo pleno de reviravoltas, romance e desilusões amorosas, e uma maravilhosa reflexão sobre a natureza humana.


Opinião:

Admito, não sei como começar esta opinião. Insurgente será sempre um livro especial, que guardarei eternamente no coração, como uma das viagens literárias mais emocionantes e arrebatadoras que tive o prazer, o imenso deleite, de folhear. Após um Divergente que em tudo se mostrou viciante e exímio na exploração de um novo conceito de mundo distópico povoado por facções, nada em mim me poderia alguma vez ter preparado para a continuação que, surpreendentemente, veio a ser ainda mais magnífica. As expectativas eram muitas—e muito altas—mas as saudades sentidas por um casal de protagonistas absolutamente irrepreensível e por uma sociedade constantemente suportada pelo peso da surpresa e da curiosidade, eram ainda maiores. Todas estas páginas depois, é com um certo sentimento agridoce que guardo o livro na estante, desejosa pela publicação do terceiro e último volume da trilogia mas, ao mesmo tempo, algo irrequieta pela rápida aproximação do final de uma história simplesmente espectacular.

Insurgente é como um contínuo esfregar de sal numa ferida aberta—dói, magoa enquanto mói, mas quando o ardor passa, quando a sensibilidade volta, é o alívio mais extraordinário que se pode imaginar. O que quero dizer com isto é muito simples, esta obra roça admiravelmente a perfeição pela abordagem inovadora que faz à história. Enquanto leitores, somos muitas vezes levados, aquando da leitura, a fantasiar possíveis saídas, caminhos prováveis e escolhas decisivas, mas de toda a vez que julgamos saber o que vai acontecer a seguir, Roth destabiliza a narrativa e leva-nos por destinos ainda mais perigosos, inconsistentes e improváveis. E é esta beleza instável, que se alastra por uma quantidade imensa de situações enlouquecedoras, o que transforma Insurgente num livro tão único, e de tão intensa excelência e mestria.
Veronica Roth pode ser ainda uma escritora jovem, inexperiente no que diz respeito à indústria literária, mas na sua mente navegam já histórias espectaculares com mil e um contornos inesperados, e com personagens, sem dúvida alguma, inesquecíveis. A sua escrita singela e ritmada é uma característica por si só invulgar, mas são as pequenas surpresas no seu estilo bastante singular parte do encanto que torna as suas ideias, a sua criatividade descrita no papel, ainda mais apelativa para o leitor. Com diálogos extremamente inteligentes e um conceito narrativo muito próprio e profundo, esta é uma autora que rapidamente se tornou numa das minhas favoritas, e cujas obras, certamente, irei seguir com afinco.

Infelizmente, não há muito que possa ser «dito» sem, assim, divulgar demasiado da história, pelo que tentarei o meu melhor em somente abordar a essência das personagens/enredo e das várias temáticas, mensagens até, ricamente presentes no texto. É que este é um livro com uma alma muito forte e inebriante, e que só depois de lido, depois de reflectido, é permitido ao leitor verdadeiramente entender todas as pequenas e grandes nuances emocionais, todas as escolhas psicológicas, todos os instantes de medo e tortura, de morte e dor, de breves sorrisos e alegrias.
Em termos de trama, Insurgente segue a mesma linha de acção do seu precedente, mas, desta feita, as noções de sobrevivência, guerra e segurança são levadas a todo um outro extremo de significados. Tantos são os momentos de alto risco, de reflexos rápidos, de escolhas que nem sempre vão de encontro ao que realmente se quer, se deseja, e a conjunção dessas situações chave que conduzem a tantas outras de enorme tensão e sufoco, com a instabilidade emocional e psicológica de uma Tris marcada pela morte do seu melhor amigo, e de um Quatro que vê surgir uma sombra do seu passado, fazem com que esta história não só se limite a provocar as personagens e as suas vontades, como também a que o leitor se torne escravo desses mesmos elementos.
Foi francamente agradável conhecer um pouco mais das outras facções e da forma como estas se relacionam quando estão num espaço que é seu, e assim, igualmente perceber quão quebrada se encontra a sociedade que viu a faixa erudita da mesma erradicar—ou, pelo menos, tentar—uma das comunidades mais altruístas e simples, ao ponto de terem de tomar uma posição estratégica que, em alguns casos, vai inteiramente contra as suas «regras». Contudo, foi também bastante interessante percepcionar o impacto que toda essa instabilidade teve não só nas mentes individuais de Tris e Quatro como, e principalmente, na relação afectiva que ambos partilham.

O maior crescimento, ainda assim, continua presente nas personalidades deste casal embriagante, mas, e também, nos intelectos de tantos outros intervenientes mais secundários que, mesmo assim, visam enriquecer—de forma extraordinária—o enredo.
Gostei, particularmente, de Caleb—ainda que me tenha enganado bastante bem—, de Marcus—pela persistência em procurar o que é correcto—, e de Evelyn—que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. Mas, de forma idêntica, muitas outras figuras me fizeram as delicias, tais como Lynn—pela personalidade errática—, Uriah—que continua a fazer-me sorrir—, e Peter—que, aos meus olhos, se redimiu por completo! Porém, dúvidas não restam de que são Beatrice e Tobias os dois elementos que verdadeiramente impressionam, e o modo como foram desenvolvidos em Insurgente, mesmo com as falhas de comunicação, a falta de confiança, e a necessidade primitiva de conforto um do outro, mesmo com todos estes ínfimos pormenores que, momentaneamente, desgraçaram uma das relações mais bonitas que encontrei num romance do género, eles persistiram e, com eles, fica a esperança de um futuro—talvez—um pouco mais promissor. Não tenho qualquer aspecto negativo a apontar a estes dois, e penso que o modo como as coisas acabaram por correr não só foi o menos esperado, como o único que alguma vez poderia ter lugar. (aquele final ainda me deixa toda arrepiada!)

Não consigo expressar, por palavras, todas as emoções que senti ao longo da leitura—foram tantas e tão distintas, que ainda agora sou um turbilhão de sentimentos e pensamentos que não se conseguem ordenar. As mensagens de dor e sofrimento estão bem presentes na narrativa, mas também as de amizade e amor, as de carinho e entreajuda, e, principalmente, as de que nunca devemos ser mais do que aquilo que somos, e que devemos sempre, sempre confiar no nosso instinto, diga este o que disser. Arrependimento é algo que não existe, e viver o hoje, em detrimento do amanhã ou do ontem, é imprescindível.
Penso que está bastante palpável o quanto adorei este livro. Veronica Roth possui o dom inigualável de fazer as pessoas sentirem tudo o que as suas personagens sentem, e de, mesmo em tempos de guerra, quererem entrar no mundo de Divergente e de Insurgente e simplesmente viver lado a lado com todas aquelas vidas que tanto admiram. Possivelmente, a leitura de 2013 (a não ser que Allegiant, o último volume da trilogia, venha parar às minhas mãos antes do final do ano).

Uma aposta maravilhosa por parte da Porto Editora, numa das trilogias distópicas mais bem consigas da actualidade. Mal posso esperar por mais surpresas destas, recheadas de peculiaridades comportamentais geniais e de escritas absolutamente perfeitas. Adorei. E recomendo sem quaisquer reservas.

1 comentário:

Clarinda disse...

Eu quero tanto ler este!
Bjinhos

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