terça-feira, 26 de março de 2013

Cinder, Marissa Meyer [Opinião]




Título Original: Cinder
Autoria: Marissa Meyer
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 324
Tradução: Victor Antunes


Sinopse:

Com dezasseis anos, Cinder é considerada pela sociedade como um erro tecnológico. Para a madrasta, é um fardo. No entanto, ser cyborg também tem algumas vantagens: as suas ligações cerebrais conferem-lhe uma prodigiosa capacidade para reparar aparelhos (autómatos, planadores, as suas partes defeituosas) e fazem dela a melhor especialista em mecânica de Nova Pequim. É esta reputação que leva o príncipe Kai a abordá-la na oficina onde trabalha, para que lhe repare um andróide antes do baile anual.
Em tom de gracejo, o príncipe diz tratar-se de «um caso de segurança nacional», mas Cinder desconfia que o assunto é mais sério do que dá a entender.
Ansiosa por impressionar o príncipe, as intenções de Cinder são transtornadas quando a irmã mais nova, e sua única amiga humana, é contagiada pela peste fatal que há uma década devasta a Terra. A madrasta de Cinder atribui-lhe a culpa da doença da filha e oferece o corpo da enteada como cobaia para as investigações clínicas relacionadas com a praga, uma «honra» à qual ninguém até então sobreviveu. Mas os cientistas não tardam a descobrir que a nova cobaia apresenta características que a tornam única. Uma particularidade pela qual há quem esteja disposto a matar.


Opinião:

Quem não se lembra da pequena gata borralheira que um dia ousou sonhar ser princesa? E que num maravilhoso e idílico baile, envergando o mais belo dos vestidos, dançou com aquele que viria a ser o seu príncipe encantado? Só que Cinder não é a típica Cinderela que somente deseja algo que não pode ter, esta é uma personagem forte e pouco feminina, que vê no seu trabalho o refúgio que uma casa cheia não lhe pode dar, e que encara a sua diferença, o seu lado inumano, como algo natural e despretensioso, auxiliário até, mesmo quando é desagrado e repulsa os sentimentos que encontra estampados no rosto dos seus clientes—e não só.

Cinder é, provavelmente, dos melhores e mais encantadoramente fascinantes retellings que tive o prazer de ler. Não sendo um género que conheça bem, mas englobando um outro mundo literário do qual gosto imenso, esta acabou por ser uma leitura verdadeiramente surpreendente e que, de uma forma inesperada, me encheu, por completo, as medidas. Um dos melhores livros que li no ano passado, e, absolutamente, uma história a não perder.
Marissa Meyer é divinal com a palavra escrita. A inteligência com que perpetrou todo um universo distópico e extremista baseado num dos contos de fadas mais emblemáticos de sempre, ao mesmo tempo que criava personagens únicas e inteiramente especiais, é de se louvar e nada me poderia deixar mais expectante, mais ansiosa e perdidamente desesperada pela publicação de Scarlet, o segundo volume da sua tetralogia impar.

Apaixonei-me por Cinder logo ao primeiro instante. A sua personalidade vincada e o facto de lidar tão bem—ainda que por vezes somente exteriormente—com o seu lado cyborg e respectivas consequências sociais transformam-na num alvo muito difícil de abater, e numa protagonista indiscutivelmente corajosa e destemida. O seu lado mais vulnerável e os sentimentos puros que nutre por Iko e por Peony podem vir a ser o seu calcanhar de Aquiles, mas dúvidas não me restam de que Cinder é o tipo de personagem que rapidamente encontrará uma forma de dar a volta por cima e encarar o touro pela frente, sem medos e sem rodeios.
Kai deixou-me algo confusa quanto ao que pensar ou achar sobre si. As suas dúvidas e medos são compreensíveis visto estar prestes a assumir um cargo de elevada importância para o desenvolvimento e subsistência do seu país, da sua comunidade e povo, mas as várias atitudes dúbias que projecta em relação a Cinder e os receios envolventes às decisões a tomar, a ordenar para o futuro fazem com que não esteja completamente certa das suas motivações e interesses totais enquanto príncipe encantado e enquanto imperador. Ainda assim, fez-me soltar uns quantos suspiros e esboçar uns tantos outros sorrisos mas, embora a curiosidade esteja presente para ver o seu crescimento no futuro, as incertezas são, igualmente, uma constante no horizonte.
Iko e Peony foram duas outras intervenientes que me fizeram as delícias, enquanto leitor. Iko pelo seu lado divertido e inocente, e pelos diálogos extremamente originais e electrónicos que partilha com as várias figuras em seu redor—além dos sentimentos impulsivos que tem por Kai—, e Peony pelo lado bom e resistente que apresenta até ao fim, e que a tornam numa personagem acarinhada e que fará uma imensa falta a todo o enredo. Adorei ambas e penso que Meyer foi impressionantemente forte e ousada, enquanto escritora, por ter dado os finais que deu a estas duas personagens.

Ambientalmente, Cinder transmite um universo asiático fabuloso que, tendo em conta as directrizes gerais da história, combina na perfeição com os intentos da autora e com as influências indiscutíveis que se encontram um pouco por toda a trama. New Beijing é um mundo absolutamente novo, com um choque de culturas entre o que é moderno, o que é electrónico e avançado, e o que de melhor a história asiática pode oferecer em termos arquitectónicos e de costumes sociais. A oficina de Cinder é um dos locais mais interessantes de toda a trama, principalmente por ser palco de vários momentos importantes, mas também a cave onde guarda alguns dos seus segredos e o armazém para onde escapa em busca de uma vida que sente fugir-lhe por entre os dedos são, por sua vez, cenários de acção indubitavelmente fascinantes. Em suma, toda a ambiência instiga um toque muito especial e particular ao enredo, conjugando, em conformidade com este, uma das melhores obras de fantasia distópica que me passaram pelas mãos.

É visível e palpável o quanto este livro me impressionou, certo? E o quanto o adoro, de paixão? Porque esta foi, sem sombra para dúvidas, um dos enredos mais deslumbrantes, impulsivos e surpreendentes que tive o prazer de folhear. Divertido, mas com o seu quê de suspense, esta é a história dos contos de fadas que nunca pensou testemunhar no papel, e a qual não conseguirá, de todo, largar! Lembro-me que li este livro num único fôlego e se somente agora me encontro a escrever a sua opinião, tal é porque não tinha palavras suficientemente claras e precisas sobre o quanto adorei—e adoro—este livro.

Uma aposta brilhante, destemida e absolutamente impressionante por parte da Planeta Manuscrito que, espero eu, não demore muito mais tempo a publicar a continuação, que se encontra já disponível no original, sob o título Scarlet. Uma última nota para a capa portuguesa—embora a inglesa transmita melhor a sensação, a mistura de conto de fadas com cyborgs presente no texto, a nossa é indiscutivelmente bastante mais encantatória e, talvez, um melhor chamativo aos leitores graúdos e adultos que procuram algo diferente, algo singular e especial.

2 comentários:

p7 disse...

Quantos melhores, mais difícil é fazer a opinião, não é? Aiai, que história e que mundo fabulosos a autora criou aqui... cada vez estou mais bem impressionada com ela. :D

A capa em português é bem gira, é uma das poucas vezes em que mudaram e a capa é tão boa como a estrangeira... pergunto-me é se o título é chamativo. Para quem não sabe o significado da palavra em inglês, e sua a associação à Cinderela, vão perceber a ligação? :S

Pedacinho Literário disse...

Completamente! Uma pessoa nem sabe bem o que escrever porque parece que tudo o que sai não é suficiente para mostrar a quem nos está a ler o quanto o livro é especial.
Me too! *.* Acho que a Marissa está rapidamente a transformar-se numa das minhas autoras favoritas... mal posso esperar pelo Cress, nunca mais é 2014!
Bem... Penso que, tendo em conta o sapatinho e o vestido e tal, a associação de Cinder ser um diminutivo de Cinderela, por assim dizer, esteja mais ou menos visível. Quanto ao resto, já não tenho bem a certeza... mas espero que a Cinderela seja motivo suficiente para o pessoal se atirar a este livro, que vale bem a pena. xD

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