Título Original: Cinder
Autoria: Marissa Meyer
Editora: Planeta
Manuscrito
Nº. Páginas: 324
Tradução: Victor
Antunes
Sinopse:
Com dezasseis anos, Cinder é considerada pela sociedade
como um erro tecnológico. Para a madrasta, é um fardo. No entanto, ser cyborg
também tem algumas vantagens: as suas ligações cerebrais conferem-lhe uma
prodigiosa capacidade para reparar aparelhos (autómatos, planadores, as suas
partes defeituosas) e fazem dela a melhor especialista em mecânica de Nova
Pequim. É esta reputação que leva o príncipe Kai a abordá-la na oficina onde
trabalha, para que lhe repare um andróide antes do baile anual.
Em tom de gracejo, o príncipe diz tratar-se de «um caso
de segurança nacional», mas Cinder desconfia que o assunto é mais sério do que
dá a entender.
Ansiosa por impressionar o príncipe, as intenções de Cinder são transtornadas quando a irmã mais nova, e sua única amiga humana, é contagiada pela peste fatal que há uma década devasta a Terra. A madrasta de Cinder atribui-lhe a culpa da doença da filha e oferece o corpo da enteada como cobaia para as investigações clínicas relacionadas com a praga, uma «honra» à qual ninguém até então sobreviveu. Mas os cientistas não tardam a descobrir que a nova cobaia apresenta características que a tornam única. Uma particularidade pela qual há quem esteja disposto a matar.
Ansiosa por impressionar o príncipe, as intenções de Cinder são transtornadas quando a irmã mais nova, e sua única amiga humana, é contagiada pela peste fatal que há uma década devasta a Terra. A madrasta de Cinder atribui-lhe a culpa da doença da filha e oferece o corpo da enteada como cobaia para as investigações clínicas relacionadas com a praga, uma «honra» à qual ninguém até então sobreviveu. Mas os cientistas não tardam a descobrir que a nova cobaia apresenta características que a tornam única. Uma particularidade pela qual há quem esteja disposto a matar.
Opinião:
Quem não se lembra da
pequena gata borralheira que um dia ousou sonhar ser princesa? E que num
maravilhoso e idílico baile, envergando o mais belo dos vestidos, dançou com
aquele que viria a ser o seu príncipe encantado? Só que Cinder não é a típica
Cinderela que somente deseja algo que não pode ter, esta é uma personagem forte
e pouco feminina, que vê no seu trabalho o refúgio que uma casa cheia não lhe
pode dar, e que encara a sua diferença, o seu lado inumano, como algo natural e
despretensioso, auxiliário até, mesmo quando é desagrado e repulsa os
sentimentos que encontra estampados no rosto dos seus clientes—e não só.
Cinder é,
provavelmente, dos melhores e mais encantadoramente fascinantes retellings que tive o prazer de ler. Não
sendo um género que conheça bem, mas englobando um outro mundo literário do
qual gosto imenso, esta acabou por ser uma leitura verdadeiramente
surpreendente e que, de uma forma inesperada, me encheu, por completo, as
medidas. Um dos melhores livros que li no ano passado, e, absolutamente, uma
história a não perder.
Marissa Meyer é divinal
com a palavra escrita. A inteligência com que perpetrou todo um universo distópico
e extremista baseado num dos contos de fadas mais emblemáticos de sempre, ao
mesmo tempo que criava personagens únicas e inteiramente especiais, é de se
louvar e nada me poderia deixar mais expectante, mais ansiosa e perdidamente
desesperada pela publicação de Scarlet,
o segundo volume da sua tetralogia impar.
Apaixonei-me por Cinder
logo ao primeiro instante. A sua personalidade vincada e o facto de lidar tão
bem—ainda que por vezes somente exteriormente—com o seu lado cyborg e respectivas consequências
sociais transformam-na num alvo muito difícil de abater, e numa protagonista
indiscutivelmente corajosa e destemida. O seu lado mais vulnerável e os
sentimentos puros que nutre por Iko e por Peony podem vir a ser o seu calcanhar
de Aquiles, mas dúvidas não me restam de que Cinder é o tipo de personagem que
rapidamente encontrará uma forma de dar a volta por cima e encarar o touro pela
frente, sem medos e sem rodeios.
Kai deixou-me algo
confusa quanto ao que pensar ou achar sobre si. As suas dúvidas e medos são compreensíveis
visto estar prestes a assumir um cargo de elevada importância para o
desenvolvimento e subsistência do seu país, da sua comunidade e povo, mas as várias
atitudes dúbias que projecta em relação a Cinder e os receios envolventes às
decisões a tomar, a ordenar para o futuro fazem com que não esteja completamente
certa das suas motivações e interesses totais enquanto príncipe encantado e
enquanto imperador. Ainda assim, fez-me soltar uns quantos suspiros e esboçar
uns tantos outros sorrisos mas, embora a curiosidade esteja presente para ver o
seu crescimento no futuro, as incertezas são, igualmente, uma constante no
horizonte.
Iko e Peony foram duas
outras intervenientes que me fizeram as delícias, enquanto leitor. Iko pelo seu
lado divertido e inocente, e pelos diálogos extremamente originais e electrónicos
que partilha com as várias figuras em seu redor—além dos sentimentos impulsivos
que tem por Kai—, e Peony pelo lado bom e resistente que apresenta até ao fim,
e que a tornam numa personagem acarinhada e que fará uma imensa falta a todo o
enredo. Adorei ambas e penso que Meyer foi impressionantemente forte e ousada,
enquanto escritora, por ter dado os finais que deu a estas duas personagens.
Ambientalmente, Cinder transmite um universo asiático
fabuloso que, tendo em conta as directrizes gerais da história, combina na
perfeição com os intentos da autora e com as influências indiscutíveis que se encontram
um pouco por toda a trama. New Beijing é um mundo absolutamente novo, com um
choque de culturas entre o que é moderno, o que é electrónico e avançado, e o
que de melhor a história asiática pode oferecer em termos arquitectónicos e de
costumes sociais. A oficina de Cinder é um dos locais mais interessantes de
toda a trama, principalmente por ser palco de vários momentos importantes, mas também
a cave onde guarda alguns dos seus segredos e o armazém para onde escapa em
busca de uma vida que sente fugir-lhe por entre os dedos são, por sua vez, cenários
de acção indubitavelmente fascinantes. Em suma, toda a ambiência instiga um
toque muito especial e particular ao enredo, conjugando, em conformidade com
este, uma das melhores obras de fantasia distópica que me passaram pelas mãos.
É visível e palpável o
quanto este livro me impressionou, certo? E o quanto o adoro, de paixão? Porque
esta foi, sem sombra para dúvidas, um dos enredos mais deslumbrantes,
impulsivos e surpreendentes que tive o prazer de folhear. Divertido, mas com o
seu quê de suspense, esta é a história
dos contos de fadas que nunca pensou testemunhar no papel, e a qual não conseguirá,
de todo, largar! Lembro-me que li este livro num único fôlego e se somente
agora me encontro a escrever a sua opinião, tal é porque não tinha palavras
suficientemente claras e precisas sobre o quanto adorei—e adoro—este livro.
Uma aposta brilhante,
destemida e absolutamente impressionante por parte da Planeta Manuscrito
que, espero eu, não demore muito mais tempo a publicar a continuação, que se
encontra já disponível no original, sob o título Scarlet. Uma última nota para a capa portuguesa—embora a inglesa
transmita melhor a sensação, a mistura de conto de fadas com cyborgs presente no texto, a nossa é
indiscutivelmente bastante mais encantatória e, talvez, um melhor chamativo aos
leitores graúdos e adultos que procuram algo diferente, algo singular e
especial.
2 comentários:
Quantos melhores, mais difícil é fazer a opinião, não é? Aiai, que história e que mundo fabulosos a autora criou aqui... cada vez estou mais bem impressionada com ela. :D
A capa em português é bem gira, é uma das poucas vezes em que mudaram e a capa é tão boa como a estrangeira... pergunto-me é se o título é chamativo. Para quem não sabe o significado da palavra em inglês, e sua a associação à Cinderela, vão perceber a ligação? :S
Completamente! Uma pessoa nem sabe bem o que escrever porque parece que tudo o que sai não é suficiente para mostrar a quem nos está a ler o quanto o livro é especial.
Me too! *.* Acho que a Marissa está rapidamente a transformar-se numa das minhas autoras favoritas... mal posso esperar pelo Cress, nunca mais é 2014!
Bem... Penso que, tendo em conta o sapatinho e o vestido e tal, a associação de Cinder ser um diminutivo de Cinderela, por assim dizer, esteja mais ou menos visível. Quanto ao resto, já não tenho bem a certeza... mas espero que a Cinderela seja motivo suficiente para o pessoal se atirar a este livro, que vale bem a pena. xD
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