Título Original: S.E.C.R.E.T.
Autoria: L. Marie
Adeline
Editora: Planeta
Manuscrito
Nº. Páginas: 269
Tradução: Maria das
Mercês de Sousa
Sinopse:
A vida de Cassie
Robichaud está cheia de tristeza e solidão desde que o marido morreu. Cassie é
empregada de mesa no Café Rose, em Nova Orleães, e dorme todas as noites num
apartamento de um só quarto, na companhia de um gato. Porém, quando descobre um
diário deixado no café por uma mulher misteriosa, o seu mundo muda para sempre.
O diário, cheio de confissões explícitas, choca-a e fascina-a ao mesmo tempo e
acaba por levá-la ao S.E.C.R.E.T., uma sociedade secreta que se dedica a ajudar
mulheres a realizar as suas fantasias sexuais mais loucas e íntimas. Cassie
acaba por mergulhar numa electrizante jornada de Dez Passos, durante a qual tem
uma série de fantasias arrebatadoras com homens deslumbrantes, que a fazem
despertar e a saciam. Assim que se liberta das suas inibições, Cassie
descortina uma nova confiança e transforma-se, conseguindo a coragem necessária
para levar uma vida apaixonada. Ao mesmo tempo atraente, libertador e
emocionalmente poderoso, S.E.C.R.E.T. é um mundo onde a fantasia se torna
realidade.
Opinião:
Um segredo escondido
por entre as páginas de um diário secreto, são o chamativo certeiro para uma
explosão significativa numa vida que se via desprovida de qualquer cor ou
encanto há demasiado tempo. Mas bem perto da luxúria caminha também o amor,
aquele sentimento arrebatador que nos faz questionar o quanto de nós estamos
dispostos a entregar, e para Cassie nada será mais difícil do que oferecer o
seu corpo, a sua mente, e não o seu coração.
S.E.C.R.E.T. é o livro de
que toda a gente fala, a novidade que veio revolucionar a curiosidade dos
leitores mais ávidos por romances que sejam bastante mais do que estrelinhas
cor-de-rosa, e que retrate, de forma nua e crua, o poder do desejo e da
entrega. Muito foi já visto dentro deste género, mas pouco foi explorado para
além dos limites do comum, e por isso esta é uma obra que traz o seu quê de
especial, o seu quê de novo, num mundo onde a sexualidade bruta é o foco
central.
L. Marie Adeline não é
um nome verdadeiro, real. Trata-se de um pseudónimo que camufla, numa escrita
desprovida de preconceitos, o trabalho cuidado de uma das mais conceituadas
autoras canadianas da actualidade. E talvez tenha sido por isso, pelo sucesso
que precede esta escritora, um dos motivos que me levou a achar a escrita algo
supérflua, quase sem sentimentos, abordada muito ao de leve. Neste tipo de
romances, escritos na primeira pessoa, quero sentir tudo o que a personagem
debate, pensa, sente, e, infelizmente, isso não foi algo que aconteceu. Em
contrapartida, Adeline demonstra um estilo perspicaz, que se lê de forma fácil
e rápida, e que por isso contribui muito para que o livro seja devorado num
instante.
Cassie não é uma
protagonista espectacular, perfeita. As suas inseguranças e dúvidas residem à
flor da pele e encontram-se à distância de uma unha, e a ambiência de receio e
medo que impregna no desenrolar da narrativa é bastante palpável do início ao
fim, com excepção da atitude corajosa—a absolutamente certeira—com que pontua o
desfecho do livro. Contudo, e embora a sua evolução, como protagonista e mulher
enviuvada, seja atribulada, nota-se um certo crescimento suave que creio vir a
ser bastante mais pronunciado no segundo volume da trilogia. Já Jesse foi um
interveniente que me impressionou, pela sua impulsividade e naturalismo, e que,
de alguma forma, ficou gravado na minha memória. As suas aparições são breves
mas o impacto que provoca em Cassie—e no leitor—é muito profundo pelo que fica
o desejo de o voltar e encontrar no futuro. Em contrapartida, Will foi uma autêntica
confusão e Tracina uma vilã que o quis ser mas que não conseguiu. Talvez se
ambas as personagens tivessem tido mais espaço de crescimento a impressão
deixada fosse diferente, mas a verdade é que, por parte de Tracina, «aquela»
atitude final era já esperada mas quanto a Will, foi uma surpresa completa
assistir ao seu comportamento dúbio e incrivelmente desordenado.
A par com a escrita fácil,
o cenário, no seu geral, é outro dos grandes trunfos deste romance erótico. A
ambiência extravagante e artística de New Orleans proporciona ao Café Rose um
toque muito particular, humano e acolhedor, que contrasta, de modo exímio, com
a crueza e sensualidade das cenas lascivas, muitas vezes dirigidas a locais
mais elegantes e luxuosos, de um certo requinte.
E se o controlo é um
dos temas abordados nesta obra, ou aquele que mais se destaca pela inovação
dado este residir, desta feita, nas mãos das mulheres, pessoalmente, não creio
que a ideia trespassada seja a mais acertada, tendo em conta a história em si. É
que embora seja a mulher a dizer «sim» ou «não» à consensualidade e
aprofundamento do acto em si, ela não tem o poder de pedir, de exigir, mais do
que a satisfação sexual momentânea, e ainda que este seja o foco central de
toda a obra, fica a sensação de que se está perante um controlo frágil e algo
ganancioso, na perspectiva de que quem verdadeiramente o detém é a sociedade
S.E.C.R.E.T. que organiza os encontros pelos quais Cassie passa e adquire novas
percepções de si mesma.
Os acontecimentos que
marcaram as cenas finais foram, infelizmente, demasiado velozes e muito pouco
aprofundados. Penso que a autora quis deixar várias portas abertas para a
continuação, criando uma maldade pouco ou nada esperada numa personagem
masculina que poderá vir a originar um triângulo amoroso, e, no geral, as emoções
que fluíram das páginas foram, no seu todo, muito, muito confusas. Apressado,
foi a palavra que me surgiu na mente quando pensei sobre o «fim antes do fim».
Houveram ainda algumas
incongruências ao longo do texto narrativo que me deixaram perplexa e admirada,
obrigando-me a voltar atrás e a ler algumas passagens novamente, mas penso que,
ainda assim, esta acabou por ser uma leitura que me entreteve pela rapidez com
que a folheei. As expectativas com que parto para a continuação não estão tão
altas quanto estavam para este livro—e sim, pretendo ler o segundo livro nem
que seja para confirmar, ou não, as suspeitas que tenho relativamente às ideias
que a autora pretende explorar—mas ainda assim consigo aperceber-me que esta
pode ser uma leitura bem mais frutífera e proveitosa para leitores que apreciem
o género de outra forma e que estejam à procura de algo diferente do comum «dominador/submissa».
Uma aposta diferente—também
na abordagem—por parte da Planeta Manuscrito, que recebe os parabéns pela
iniciativa de marketing que criou em torno deste romance e pela capa
absolutamente fantástica. Não correspondeu inteiramente às expectativas, ainda assim foi uma leitura que me agradou—mas, infelizmente, sem me deslumbrar.
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