Título Original: Du findest mich am ende der welt
Autoria: Nicolas
Barreau
Editora: Quinta Essência
Nº. Páginas: 210
Tradução: Bárbara
Villalobos
Sinopse:
Jean-Luc Champollion é aquilo
a que os franceses chamam um homme à
femmes. O encantador proprietário de uma galeria bem-sucedida ama a arte e
a vida, é muito sensível ao encanto das mulheres, que de bom grado lho
retribuem, e vive num dos bairros da moda de Paris, em perfeita harmonia com o
seu fiel dálmata Cézanne. Tudo corre
bem até que, uma da manhã, Jean-Luc encontra no correio um envelope azul, e a
sua vida muda para sempre. A missiva é uma carta de amor, ou melhor, uma das
declarações de amor mais apaixonadas que o galerista já viu, mas não vem
assinada: a misteriosa autora decidiu esconder-se e convida-o a descobrir quem é.
Jean-Luc fica inicialmente confuso, mas decide alinhar. A remetente anónima
forneceu-lhe um endereço de e-mail e
desafia-o a responder. Mas a tarefa não é fácil. Em breve, Jean-Luc tem apenas
um objectivo: descobrir a identidade da caprichosa desconhecida, que parece
conhecer muito bem os seus hábitos e gosta de o provocar incessantemente. Assombrado
pelas suas palavras, Jean-Luc segue as pistas dispersas na correspondência,
cada vez mais incapaz de resistir à mais doce das armadilhas. O objecto da sua
paixão existe apenas no papel e na sua imaginação, mas ele sente conhecer
melhor esta mulher do que os quadros expostos na sua galeria, mesmo que nunca
tenha visto o seu rosto. Ou será que viu?
Opinião:
Gosto de leituras que
me arrebatam, que me fazem suster o fôlego em busca da próxima surpresa, que me
destituem de qualquer tipo de racionalidade e que, simplesmente, me fazem
sentir, me fazem querer sonhar, querer desejar mais. Não sei precisar bem o
porquê, mas Nicolas Barreau tem uma profundidade, um carinho e uma escrita que
me provoca tudo isto e muito mais, que me comove, que me emociona, que me
permite viajar por uma Paris diferente, boémia na sua arte, no seu calor, na
sua beleza. E por isso, não poderia ter terminado este seu novo romance de
forma mais satisfeita.
Encontras-me no Fim do Mundo trata-se da segunda obra do autor que folheio entre mãos, e que, mais uma
vez, soube como me surpreender e cativar. Só o título por si, bastante
sugestivo, consente a que o leitor deixe a sua imaginação voar por um romance
parisiense único, onde a cidade da luz e do amor, como pano de fundo,
proporciona o mais idílico dos cenários a um casal que se conhece sem se
conhecer, e que, entre si, partilharão as mais belas cartas de amor dos tempos
modernos.
Nicolas Barreau é um
excelente contador de histórias, e isso nota-se particularmente no seu estilo
de escrita, ora algo descritivo ora algo sentimental e actual, mas sempre
oferecendo ao leitor uma visão completa do passado e presente do protagonista.
Aqui, o autor decidiu inserir, no enredo, uma série de missivas românticas que
visam engrandecer o conteúdo narrativo e que, a meu ver, excelentemente bem
serviram o seu propósito visto se tratarem, de facto, de bilhetes electrónicos—e
ocasionalmente físicos—bastante curiosos e tocantes, libertadores.
Se antes foi Aurélie
Bredin o rosto apaixonado que me deslumbrou por completo, neste romance foi
Jean-Luc “Le Duc” aquele que se tornou nos olhos e voz que torna este livro tão
especial. O seu lado despreocupado e altamente artístico são elementos
fundamentais à curiosidade do leitor, mas tantas outras pequenas personagens
foram, igualmente, fruto de belas coincidências e arrufos, proporcionando ao
leitor uma visão completa da diversidade de personalidades que uma trama
simples pode englobar. La Principessa
é, com certeza, uma das figuras de maior destaque e importância, tanto pelo
mistério que envolve a sua identidade, como pela beleza com que escreve os seus
sentimentos e fulgores numa folha de papel. Porém, também Cézanne é digno de nota, pois dálmata mais endiabrado nunca vi,
assim como Aristide, pela extravagância e cultura que o preenchem. Um leque de
intervenientes singular e muito, muito especial, que divertem, enternecem e
entretém o leitor.
O cenário, a par com a
atmosfera puramente criativa que assoma o enredo, é das componentes mais apreciáveis
e galantes deste romance. Paris sempre foi—e sempre será—uma cidade de
estonteante beleza, e isso nota-se na escrita do autor, na forma como ele ama a
cidade, as ruas, os pequenos e extremamente significativos pormenores que a
tornam o local exclusiva que é, e é verdadeiramente especial denotar essa paixão
nas palavras de Barreau, sentir esse deslumbre e magnetismo, e perceber o quão
presente tudo isso igualmente se encontra nas suas personagens.
A arte é, claramente,
outro dos motivos pelo qual gostei tanto desta leitura. As cores vibrantes em
pincéis solitários, as dúvidas presentes na carência e valor de uma obra, o entusiasmo
e nervosismo que é a inauguração de uma nova exposição, tudo isto e muito mais
são sentimentos que, de alguma forma, conheço e que revejo aqui como uma lembrança
solta e tão inteiramente única. De uma ambiência fantástica, o galerista que é
Jean-Luc, os artistas plásticos que são Soleil e Julien, e o literatista que é
Aristide, abrem as portes a um mundo tão peculiarmente distinto repleto de luz,
beleza e cor.
Quanto a mim, penso
estar claro o quanto gostei deste romance. Adorei os pequenos ensejos
originados pelo mistério da Principessa,
e achei particularmente genial a forma como o autor foi divulgando, através de ínfimas
pistas, a identidade da mesma, mas sempre instigando o leitor a pensar em várias
personagens. Houve um momento chave na história que me fez pensar saber de quem
se tratava, e embora Barreau me tenha feito duvidar uma ou duas vezes, foi com
bastante agrado que constatei que estava certa—além de que o encontro dos dois,
o modo como foi escrito e engendrado, está absolutamente fenomenal.
Este é um autor que
gosto particularmente, pela facilidade e realismo das suas histórias, e pelo
estilo de escrita muito, muito particular. Espero ler um pouco mais do seu
trabalho em breve.
Uma aposta que
considero fantástica por parte da Quinta Essência, num tipo de
literatura romântica mais simples e modesta, pura, perfeita para acompanhar
numa destas próximas tardes que se apresentam mais solarengas. Gostei muito.
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