domingo, 18 de novembro de 2012

Anjo Sombrio, Cynthia Hand [Opinião]




Título Original: Hallowed
Autoria: Cynthia Hand
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 270
Tradução: Maria João Trindade


Sinopse:

Durante meses, Clara Gardner treinou para enfrentar o incêndio das suas visões, mas nada a preparou para a escolha que teria de fazer nesse dia. E no rescaldo do incêndio, descobriu que ao contrário do que pensava, nada é o que parece quando se tem sangue de anjo.
Agora, está dividida entre o amor que sente por Tucker e as dúvidas que Christian lhe desperta, pelos papéis que ambos parecem estar destinados a assumir num mundo que tem tanto de belo como de perigoso. Clara debate-se ainda com uma revelação chocante: alguém que ama vai morrer dentro de meses. Perante um futuro incerto, a única certeza que Clara possui é a de que o incêndio foi apenas o início.


Opinião:

O que é, verdadeiramente, um propósito? Será um desígnio Superior? Visões que ajudam a alcançar, a enfrentar situações vindouras? Vislumbres de algo que se deseja fortemente que aconteça? Ou serão somente momentos imaginários?
Sejam originados por nós ou criados por algo maior, algo transcendente, é verídico que existe um objectivo, um intento na vida de cada ser humano... e seja essa vida visitada por cenários sobrenaturais, angelicais até, ou simplesmente construída à base da intuição diária, dúvidas não restam de que a nossa passagem por planos terrenos tem muito mais que se lhe diga, ao invés de unicamente se caracterizar por algo rudimentar, insubstancial.

 Anjo Sombrio trata-se da calorosa, compassiva e arrebatadora continuação de uma das estreias juvenis que maior encanto e fascínio me suscitou. Protagonizando uma sangue de anjo cuja singularidade se encontra patente em cada poro, cada acto ou pensamento, esta é uma obra que vem elucidar algumas questões deixadas em aberto aquando de Celestial, ao mesmo tempo que visa surpreender e entusiasmar com novas experiências, revelações e conflitos.
Cynthia Hand mantém a sua leveza narrativa bem presente ao longo da trama, permitindo, aliás, induzindo a um folhear rápido e impulsivo. O magnetismo da personagem principal é maravilhoso, sendo a sua voz tanto jovem como madura, é magnífica a forma como os seus medos, os seus receios e sentimentos velozmente encontram o interior do leitor, impressionando-o sobremaneira. Repleta de descrições emotivas e magnetizantes diálogos, esta foi uma leitura que fruiu naturalmente e que me deixou imensamente curiosa com o que ainda está para vir.

Num universo adolescente pontuado pelo desabrochar de uma essência única e celestial, Clara é uma portadora do Dom que tem de aprender a lidar tanto com o lado humano da sua existência, como com a sua parte anjo que, cada vez mais, se sobrepõe aos desejos que o coração dita. A incessante batalha que se atravessa no seu caminho, uma luta indescritível pelo bem dos que ama, pela segurança do homem que preenche o seu coração com um calor extraordinário, Tucker, será somente uma das dificuldades que terá de enfrentar. Pois a par com uma morte misteriosa e sofredora que assombra as suas noites mal dormidas e um irmão que em tudo aparenta esconder um segredo de enorme perigo, Clara terá ainda de defrontar a cumplicidade e desenvolvimento inconsciente, interno, da relação que tem vindo a tecer com Christian.

Também algumas personagens mais secundárias adquirem neste volume uma importância extremamente relevante. Samjeeza, por exemplo, é o eterno demónio que implanta a dúvida, que deixa no ar uma ambiência misteriosa quanto ao seu passado com Meg, a mãe de Clara, e que, por isso, rapidamente se transforma não só numa presença assídua como, e igualmente, numa figura de grande curiosidade. Angela, por seu lado, é uma sangue de anjo incessável, que busca todas as respostas possíveis, em todas as fontes de conhecimento imagináveis, e que, desse modo, acaba por surtir uma certa hilaridade a certos momentos e reacções por si tomados face intervenientes de maior calibre divino. Porém, também paira sobre si uma aura de mistério, de fortes enigmas, que mantém o leitor cativado e sequioso por mais.

Outro dos grandes trunfos de Anjo Sombrio reside, particularmente, na atmosfera brumosa e dolorosa sentida a cada folhear de página. Seja a dor que advém da dúvida, da constante aproximação do momento em que se terá de fazer a escolha final, seja do sofrimento proveniente de uma morte vislumbrada, aguardada, mas que em nada poderá ser preparada, a mágoa é um sentimento que não desvanece, um sentimento que pontua todo o enredo e que fortemente se manifesta no leitor, condoído pelos obstáculos que Clara, uma personagem que se lhe tornou tão querida, terá de lidar. Essa variedade de emoções, de questões que assolam o íntimo, descritas de modo tão intenso e verosímil, sentido mesmo, é um dos alicerces que sustenta o leitor ao longo desta narrativa, também ele visualizando cada medo, também ele combatendo cada luta, também ele vivendo cada dor.

Quanto a mim, esta foi uma leitura que me encheu as medidas, num mundo juvenil ao qual há muito ansiava regressar. Adorei reencontrar o lado angelical de Clara, sofrer os seus receios quanto a Christian, viver os seus medos por Tucker, chorar a sua mágoa por uma perda inesquecível. Mas também os bons momentos foram agradáveis, as novas descobertas, as novas amizades, o novo rumo que se estende pela frente...
Uma aposta encantadoramente refrescante por parte da Saída de Emergência, num universo adolescente peculiar e agraciado pelas asas iridescentes de anjos que em tudo podem oferecer o seu lado bom... e o seu lado mais negro. Gostei imenso!

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