Título Original: Ostatnie życzenie
Autoria: Andrzej Sapkowski
Editora: Editorial Presença
Colecção: Via Láctea, N.º 97
Nº. Páginas: 275
Tradução: Carlos Correia Monteiro de Oliveira
Sinopse:
Geralt de Rivia não é um homem velho, mas os seus cabelos são brancos. Lacónico, o olhar penetrante revela aquele cinismo próprio dos que não se deixam impressionar facilmente. É um bruxo, num universo medieval, o seu ofício é o de um guerreiro treinado para caçar e destruir monstros sobrenaturais. Apesar da sua fama de impiedoso assassino, a experiência ensinou-lhe quanto as aparências são enganadoras, como o mal e o bem podem coexistir na mesma entidade e como tudo isso pode ser manipulado por interesses mundanos. Desde os anos 90 que este personagem se tornou um dos heróis de culto da Europa de Leste, onde o público segue avidamente as suas aventuras em obras literárias, no cinema, na televisão e até em jogos electrónicos. Sapkowski escreve com um realismo irreverente e é um admirável inovador na linguagem. O facto de se ter imposto num mercado onde domina a literatura fantástica anglo-saxónica é por si só uma proeza, mas o maior feito de Sapkowski foi romper com os estereótipos de um género que tendia a estagnar. Como o próprio afirma, para ele o normal é serem as princesas a assaltar os caminhos...
Opinião:
Para muitos Geralt de Rivia é bastante mais que um simples (embora também complexo e misterioso) bruxo presente na obra literária de um autor irreverente; para muitos, a personagem é um ícone e um marco de outras plataformas como, por exemplo e de modo mais evidenciado, os jogos electrónicos, o que permite ao seu espectador/leitor/público passar por uma experiência mais real e intricada, completa e oportunista. Andrzej Sapkowski criou assim uma trama inteligente, cuidadosa e diferente na sua abordagem, onde os pormenores e focos de interesse recaem não na narrativa em si como fio condutor mas nos contos, pequenas short-stories que constituem o livro. Logo pela abordagem pouco comum dentro do género fantástico, o autor marca pontos, e isso permanece ao oferecer uma primeira narrativa introdutória que, apesar de não expor todas as suas potencialidades e conhecimentos, é profundamente marcada por uma onda de interesse e atenção por parte do leitor. Este sente-se indubitavelmente motivado a percorrer as incontáveis aventuras de um bruxo sem idade mas particularmente dotado e cuja missão, quando contratado, é eliminar os monstros que lhe aparecem à frente.
Em termos narrativos, as possibilidades são muitas. Constituída por vários contos, como anteriormente referido, esta obra destaca-se pela envolvência dos mesmos e pelas descobertas, por parte do leitor, quando ao intelecto, destreza e personalidade de Geralt de Rivia através das suas acções enquanto protagonista desta história. É igualmente louvável a forma como o autor descompõe e deturpa alguns mitos e contos de fadas conhecidos do leitor em benefício do desenvolvimento criativo e singular do enredo. Com um começo e um fim, estes contos destacam-se face a história principal, uma vez que esta última rapidamente se vê destituída para segundo plano visto não presentear o leitor com grande informação ou pormenores importantes para o desenrolar da acção. Porém, fica a ideia final de que muito está ainda por desvendar e que, sem dúvida, muitas surpresas virão num futuro próximo.
Quanto às personagens, destaco o Geralt de Rivia pela sua personalidade vincada e misteriosa e as criaturas que habitam os vários momentos narrativos. Estas despertam real curiosidade no leitor e transmitem um certo charme e medo que não passa despercebidos. No entanto, gostaria de ter visto mais espécies, um pouco mais da diversidade que é inicialmente apresentada.
Essencialmente, O Último Desejo é uma leitura que se destaca por uma escrita fluida e por um enredo agradável. Não creio que seja uma obra-prima até porque vários dos seus pontos não são totalmente desconhecidos ao leitor mas, sem dúvida, de que se trata de um livro introdutório bastante apelativo e cativante. Atingindo as expectativas, Sapkowski brinda o leitor com uma narrativa que não só deixa muito em aberto como mantém a curiosidade em alta. Uma agradável e empolgante surpresa.
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