Título Original: The Hound of Rowan – Book 1 of The Tapestry
Autoria: Henry H. Neff
Editora: Editorial Presença
Colecção: Via Láctea, N.º 81
Nº. Páginas: 350
Tradução: Jorge Freire
Sinopse:
A vida sossegada de Max McDaniels está prestes a nunca mais voltar a ser como dantes. Durante uma visita com o pai ao Instituto de Arte de Chicago, uma velha tapeçaria celta ganha vida à sua frente e, pouco depois, Max recebe um enigmático convite para ingressar na Academia de Rowan. Aí aguardam-no criaturas fantásticas, um currículo exigente, colegas com capacidades extraordinárias – e também uma batalha ancestral entre as forças da luz e das trevas. Para sobreviver, Max terá de contar com o poder incomensurável que se agita dentro de si... Neste romance de estreia, o autor e ilustrador Henry H. Neff combina elementos de fantasia, ficção científica e mitologia para criar uma historia emocionante que nos conquista do início ao fim.
Opinião:
Henry H. Neff foi uma surpresa inesperada, para não dizer uma desilusão. Com uma sinopse incrivelmente apelativa à ambiência mágica e acolhedora que percorre as páginas de uma das mais aclamadas sagas de fantasia académica até então escritas – quem não ficou encantado e tocado com o fantástico mundo de Harry Potter? – foi com uma profunda tristeza que terminei a leitura deste primeiro volume de A Tapeçaria. Para além de me ter consumido incontáveis horas de leitura, prolongando-se por um período de tempo bem mais longo do que o esperado, O Guardião de Rowan não só não cumpriu as expectativas como se estendeu por uma série de acontecimentos e situações perfeitamente dispensáveis. Se tivesse metade do tamanho e, consequentemente, metade da informação de certo que não se perderia nada. O essencial continuaria lá e o leitor deixaria de se sentir algo extenuado capítulo após capítulo. Talvez tenha sido por o protagonista ter apenas doze anos e eu ter mais dez que ele ou, talvez, pelas imensas descrições e atenção dispensada aos pormenores mas a verdade é que, se inicialmente me senti curiosa e com o caminho que a narrativa estava a percorrer, rapidamente esse entusiasmo se desvaneceu... e embora, perto do final, o suspense e o mistério tenham voltado a captar a minha atenção a verdade é que muito se perdeu pelo meio e, por isso, não fui capaz de agraciar um desfecho agradável e propício a muita aventura por acontecer, com um sorriso de satisfação nos lábios.
Em primeiro lugar, penso que a minha insatisfação relativamente a este livro se deve, em grande parte, à forte semelhança que O Guardião de Rowan e a saga de Harry Potter partilham – e por mais que me tente afastar do escandalosamente emotivo e energético mundo de Potter, que não só marcou a minha adolescência como ainda permanece uma das minhas sagas favoritas de fantasia juvenil, é-me impossível não o fazer uma vez que é passível de se encontrar um pouco de Hogwarts, de Hogsmeade, de Dumbledore e de McGonagall e até mesmo de Harry Potter por todo o universo criativo de A Tapeçaria. O próprio começo e posterior ingresso de Max McDaniels em Rowan é escandalosamente parecida com a descoberta do feiticeiro em Harry Potter e ainda que a parecença não se dê em termos concretos de narração, a contradição de sentimentos, desejos e vontades estão lá. Outro exemplo incrivelmente perceptivo recai nas atitudes da Directora da Academia de Rowan, Gabrielle Richter onde, pessoalmente, encontrei uma mistura bastante apreciada entre Dumbledore e a Professora McGonagall. A protecção e atenção prestadas a Max não passam despercebidas e o facto de este mesmo ser, ao longo da história, caracterizado como um menino especial faz com que o sentimento de deja vu persista.
Concretamente exterior à perspectiva de Hogwarts presente em O Guardião de Rowan, foram igualmente encontrados outros detalhes que, a nível pessoal, me deixaram decepcionada. Destaco duas situações – a personagem da Mãe e as habilidades comunicativas dos animais. Relativamente à primeira, desagradou-me a sua personalidade por se tornar, aos poucos, não só cansativa como, em parte, ridícula uma vez que está constantemente a choramingar face a tudo e a nada e a tentar manipular os humanos a tornarem-se a sua refeição. A juntar a um todo leque de seres sobrenaturais, como um ogre reformado e um duende irritante, achei que estas espécies irreais foram levadas ao sentido mais lato e extremo das suas supostas características.
Quanto à segunda, apesar de o leitor estar perante um livro firmemente virado para a fantasia e, como tal, apresentando um universo onde tudo pode acontecer, confesso que não encaixei muito bem o factor extremamente humano associado à socialização por parte da grande maioria das espécies animais. Os raciocínios lógicos e postura independente tornaram-nos, aos meus olhos, um mero escape por forma a adicionar uma componente sobrenatural a algo verdadeiramente... normal. Porém, e felizmente, O Guardião de Rowan não despertou unicamente sentimentos negativos.
Quanto à segunda, apesar de o leitor estar perante um livro firmemente virado para a fantasia e, como tal, apresentando um universo onde tudo pode acontecer, confesso que não encaixei muito bem o factor extremamente humano associado à socialização por parte da grande maioria das espécies animais. Os raciocínios lógicos e postura independente tornaram-nos, aos meus olhos, um mero escape por forma a adicionar uma componente sobrenatural a algo verdadeiramente... normal. Porém, e felizmente, O Guardião de Rowan não despertou unicamente sentimentos negativos.
A configuração e o Circuito foram dos pormenores que mais gostei de descobrir. Em modo elucidativo, a configuração é o aspecto que cada aluno confere, misticamente, ao seu respectivo quarto. Visto um quarto ser dividido por mais do que um aluno do mesmo ano, por vezes, acontecem alguns desastres... e isso foi muito divertido de descobrir, juntamente com os próprios visuais dos quartos em si. Destaque para o aposento que Max partilha com David. Quanto ao Circuito, este apresenta-se de forma inovadora e importante para o desenvolvimento estratégico e físico dos estudantes de Rowan mas também como algo imprevisível e secreto. Confesso que fiquei impressionada com os desafios e o método de avaliação e correcção dos mesmos. Gostei, também, de todo o conceito de vida e morte envolvente das árvores de turma e, claro, das ilustrações que percorrem as várias páginas do livro. Interessantes e incrivelmente bem elaboradas, elas enquadram-se na perfeição com uma determinada acção ou acontecimento da história conferindo assim uma perspectiva mais visual a um texto indubitavelmente descritivo.
Relativamente à escrita, esta é fácil e muito acessível, estando também direccionada para um público mais jovem. Contudo, consegue, por vezes, tornar-se deveras exaustiva com as descrições minuciosas e pormenores soltos o que dificulta um pouco a concentração a um leitor mais velho que quer presenciar mais acção. Infelizmente, para quem leu Harry Potter esta será, sem dúvida, uma versão mais pobre e fraca de um ambiente mágico altamente explorado e glorificado na saga de Rowling. Em última instância, falta-lhe um pouco do entusiasmo, da adrenalina, da carga emocional e da tenacidade deste último. Isso também se reverte nas próprias personagens que, particularmente no caso de Max e, por arrasto, no de David, acabam por criar um desfasamento em relação aos restantes alunos – principalmente dos primeiro e segundo anos – visto estes dois deterem uma destreza física e intelectual ligeiramente abrasiva e elevada para a idade que representam (doze, treze anos).
A título conclusivo, O Guardião de Rowan é um começo algo tremido e conturbado de uma série que, no final de contas, deixa ainda muito em aberto e por descobrir. Inúmeras questões foram levantadas acerca do Inimigo e de David – uma personagem dúbia – e que ficaram por resolver. Por isso mesmo estou algo curiosa com a continuação, O Segundo Cerco, e no qual me debruçarei em breve, no entanto, deixarei as expectativas um pouco menos altas. Ainda assim, O Guardião de Rowan não deixa de ser uma obra interessante para iniciar um leitor mais jovem no processo de leitura. Mesmo com alguns momentos menos positivos – e, refiro novamente, tal pode ter-se dado devido à discrepância de idade e mentalidade entre mim e o protagonista –, não deixa de conter umas quantas iniciativas inteligentemente criativas e persuasivas. Afinal de contas... não há nada como experimentar em primeira mão!
Para mais informações sobre a obra, consulte aqui!
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