quarta-feira, 23 de julho de 2014

A Revelação, Lissa Price [Opinião]




Título Original: Enders
Autoria: Lissa Price
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 278
Tradução: Catarina F. Almeida

Sinopse:

Com o fim da Destinos Primordiais, Callie já não tem de alugar o seu corpo a sinistros Terminantes. Mas o neurochip que lhe implantaram no cérebro torna-a vulnerável a todos os que quiserem entrar dentro da sua cabeça e obrigá-la a fazer coisas contra a sua vontade. Os Iniciantes que contêm este chip tornam-se cobaias nas mãos dos mais poderosos Terminantes, e alguém anda a fazer explodir os dispositivos, transformando-os em bombas humanas. Determinada a vencer o medo e dar uma vida normal ao irmão, Callie decide ripostar. Encontrar o Velho e travá-lo talvez seja uma sentença de morte, mas ela está disposta a tudo para descobrir a verdade.


Opinião:
É obrigatório — vou começar esta opinião por escrever que me é bastante difícil falar sobre este livro. E isto porque, inevitavelmente, foi uma experiência entre páginas que me agradou sobremaneira mas que, no seu todo, deixou um vestígio um tanto ou quanto agridoce no coração desta vossa leitora. Não se tratando de uma obra perfeita, A Revelação ainda assim possui todos os ingredientes chave de modo a encantar qualquer leitor de distopias young adult, principalmente todos aqueles que aguardam, com ansiedade, o desfecho desta duologia de carácter impressionante. Contudo, esta é, e em igual medida, uma narrativa que, ora por vezes se deixa focar no dispensável, ora se enlaça na rapidez do momento, da acção, oferecendo assim um desfecho que, a meu ver, foi um pouco precipitado e que, a nível geral, tanto pode ser considerado positivo e satisfatório quanto negativo e inaceitável — numa perspectiva pessoal, tendo mais para a primeira hipótese caso seja o desejo da autora voltar, um dia, a este universo disforme.

A recta final de Destinos Interrompidos deixou mil e uma possibilidades em aberto, assim como uma mão cheia de futuros incertos — sendo um deles o de Callie, a nossa protagonista. Usufruir de um estilo de vida saudável por entre uma população crescente de Iniciantes sem-abrigo é um privilégio, um anseio pelo qual Callie lutou de modo a proporcionar uma melhor existência ao seu irmão, Tyler. Porém, o chip que lhe foi implantado traz um preço, e esse preço desmembra-se na presença assídua d’O Velho, alguém que Callie nunca antes temeu tanto. Adrenalina, decisões precipitadas, planos falhados e um domínio dotado de uma força nunca antes sentida, é o que Lissa Price oferece aos seus leitores com A Revelação, apresentado um segundo e último volume interessante, com o seu quê de surpreendente e que visa colmatar algumas das questões deixadas em aberto com Destinos Interrompidos — particularmente a identidade de tão vil personagem, O Velho.

Em termos de processo descritivo, creio que esta continuação oferece mais energia e um desenrolar mais emocionante, mais activo que premeia a obra com um sentimento constante de vivência e audácia, fervor até. Sempre no limiar da corda bamba, o leitor é levado, desde muito cedo, a levantar hipóteses quanto ao que se esconde por detrás da máscara electrónica d’O Velho, um interveniente que mantém o mesmo sentido de malvadez e mistério, de ameaça e sombra, vindo já da obra anterior. Quanto a Callie, a sua personalidade mostra-se mais focada, mais expandida na captação de possíveis soluções para as suas adversidades, e isso torna-a alguém mais completo, mais forte e muito mais empático. Michael, por sua vez, recebe um pouco mais de destaque ao juntar-se a Callie e Hyden, uma nova personagem que proporciona um pouco mais de vida ao enredo, na demanda em se libertarem dos chips explosivos que pontuam, avidamente, os seus espíritos.

Enquanto desfecho de uma duologia que desde o seu começo prometeu levantar bastantes questões éticas — muito próprias de distopias —, A Revelação apresenta alguns pontos inovadores que visam premiar com entusiasmo a sua leitura. Porém, a sua conclusão deixa demasiado em aberto o que pode não agradar a muitos leitores. Quanto a mim, com uma escrita simples e atractiva precisamente pela sua característica aberta e fluida, um leque de personagens interessante e uma base criativa decididamente sólida e intensa, somente me resta dizer que, enquanto leitora, me sinto satisfeita. Pode não ter sido descrito o que inicialmente imaginei, mas como um todo, Destinos Interrompidos e A Revelação formam uma duologia que, de certo, proporcionará várias horas de entretenimento aos apreciadores do género. Confesso-me curiosa em saber que mais mundos fantásticos sairão da mente de Lissa Price.

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