Título Original: The Final Empire
Autoria: Brandon Sanderson
Série: Mistborn, #1
Editora: Saída de Emergência
N.º Páginas: 624
Sinopse
Num mundo onde as cinzas caem do céu e as brumas dominam a noite, o povo dos Skaa vive escravizado e na absoluta miséria. Durante mais de mil anos, o Senhor Soberano governou com um poder divino inquestionável e pela força do terror. Mas quando a esperança parecia perdida, um sobrevivente de nome Kelsier escapa do mais terrível cativeiro graças à estanha magia dos metais - a Alomancia - que o transforma num "nascido nas brumas", alguém capaz de invocar o poder de todos os metais. Kelsier foi outrora um famoso ladrão e um líder carismático no submundo. A experiência agonizante que atravessou tornou-o obcecado em derrubar o Senhor Soberano com um plano audacioso. Após reunir um grupo de elite, é então que descobre Vin, uma órfã skaa com talento para a magia dos metais e que vive nas ruas. Perante os incríveis poderes latentes de Vin, Kelsier começa a acreditar que talvez consiga cumprir os seus sonhos de transformar para sempre o Império Final...
Opinião
Nem sei bem por onde começar...
Há leituras que nos preenchem. Que nos tiram o fôlego e nos fazem sonhar. Que nos inundam com uma série de emoções e nos mantém em suspenso. Que nos fazem sorrir e nos fazem chorar. Há leituras que são tão perfeitas, tão ricas em pormenores, que quase parecem reais e nos deixam com aquela sensação do sufoco, e plenitude, de se ter vivido uma grande aventura. O Império Final, de Brandon Sanderson, foi uma dessas leituras – para mim. Não sou adepta de fantasia épica pois, na minha inocência, acredito tratarem-se de histórias que requerem altos níveis de atenção por parte do leitor e que estão repletas de complexidade – no entanto, não resisti à oportunidade de entrar no mundo da alomância e digo-vos que não consigo deixar de me questionar sobre o porquê de ter demorado tanto tempo a conhecer esta trilogia e este escritor.
As cinzas caem do céu. As brumas abarcam a noite e invocam o medo naqueles que não as conhecem, que não nasceram delas. No Império Final, o Senhor Soberano governa há mais de mil anos com mão de ferro, mas tudo está prestes a mudar...
Dentro deste novo mundo do fantástico, duas classes sobressaem-se: os skaa, que existem em maioria e são vistos como os escravos de todo o tipo de serviço, que vivem em pobreza extrema, com fome e com frio; e os nobres, que mesmo em menor número detém um imenso poder face o Império, com os seus bailes e politiquices, com os seus chicotes e superioridade. Mas alguns nobres destacam-se dos seus demais ao possuírem um dom que os permite ‘queimar’ metais e, assim, elevarem a sua magnificência ao poder sobrenatural ganhando, então, um boost de força, velocidade sobre-humana ou amplificação dos sentidos. E por entre estes seres especiais, existem ainda os nascidos das brumas que, ao contrário dos alomantes que só podem controlar um único metal, podem invocar o poder de todos os metais. Kelsier, um dos nossos protagonistas, é um nascido das brumas, e o seu objectivo é nada mais nada menos que derrubar o Império Final.
Tudo neste romance do fantástico é único e tão, tão sublime. As personagens são do mais espectacular que se pode imaginar, a atmosfera de fundo criada pelo autor é dominadora e absolutamente inesquecível, o elemento sobrenatural inserido na história é original e inovador e a construção narrativa, a escrita, tudo é simplesmente magnífico.
Kelsier, um dos nossos protagonista, é tão carismático quanto enigmático. A sua personalidade de líder faz com que seja muito fácil seguir os seus passos e decisões com a crença absoluta de que tudo se irá desenrolar como ele planeou. A sua atitude aberta para com o mundo, com os seus sorrisos misteriosos e cheios de significado, permitem ao leitor embrenhar-se na sua pessoa de tal maneira que ele ou ela própria sentirá que faz parte do bando, que faz parte do círculo de confiança de Kelsier.
Vin, por seu lado, é uma jovem martirizada por um passado de violência e um futuro de incerteza. Com Kelsier e os restantes membros do grupo do submundo ela encontra algo raro, algo que Reen, o seu irmão, sempre a preparou para desconfiar, mas talvez com a convivência e apoio contínuo ela possa mudar, e possa amadurecer num ‘alguém’ melhor e menos traumatizado pelo abandono.
Adorei tanto Vin como Kelsier mas também me vi rapidamente apaixonada pelas picardias entre Breeze e Ham, pela eloquência e inteligência de Elend, pela lealdade de Sazed, pelos resmungos de Clubs, pelo lado racional e calculado de Dox, pela descoberta surpreendente e inesperada em relação a Reen, pela loucura de Marsh, pela singularidade de Renoux, pela simplicidade de Spooks, pela excelência do Senhor Soberano, pelo terror dos Inquisidores, pela solidariedade e bravura dos Skaa, pela beleza dos nobres...
Em igual medida vi-me siderada por Luthadel com as suas ruas estreitas, o seu submundo perigoso e a sua nobreza autoritária, pelas brumas que acolhe ao anoitecer do dia e pelas cinzas que recebe perante a luz vermelha do Sol. As descrições acerca da cidade são de um brilhantismo gigantesco, as fortalezas pulsam com vida, a noite aterroriza com o seu nevoeiro, Kendrik Shaw ergue-se com soberania... mas também toda a componente da alomância é uma lufada de ar fresco. Nunca antes tinha lido nada que envolvesse metais e a excelência que estes podem proporcionar e por isso foi uma surpresa deveras agradável a que Sanderson ofereceu com este seu primeiro volume da trilogia Mistborn – Nascido nas Brumas.
Para finalizar que, embora haja tanto mais por dizer esta opinião começa a ficar longa, tenho apenas de referir a escrita do autor. Parte do facto de ter levado tanto tempo a pegar em O Império Final deveu-se ao meu medo face a escrita do autor, receosa de que esta pudesse ser ultra intricada e repleta de floreados – mas não, Brandon Sanderson tem, possivelmente, um dos estilos mais fluidos e líricos que tive o prazer de ler. A envolvência para com o leitor é de tão maneira forte, e automática, que rapidamente me vi em Luthadel a lutar ao lado de Kelsier e o seu bando. Tudo se conjuga de forma exímia neste livro e o melhor de tudo é que o arco narrativo quase que se mostra completo num único volume – com isto quero dizer que demasiadas vezes o primeiro romance de uma trilogia deste calibre serve, primeiramente, como fio introdutório ao mundo e às personagens mas não com O Império Final. Sanderson conta uma história com principio, meio e quase fim satisfazendo um leitor que procure algo mais num primeiro tomo de uma trilogia ou série ao mesmo tempo que deixa questões e problemas suficientes para a continuação que se segue.
É-me impossível não recomendar O Império Final a todo e qualquer leitor que goste de fantasia, assim como a todos os outros que devoram uma série de géneros mas gostariam de ler algo diferente e absolutamente fabuloso. Estou mais do que ansiosa por me debruçar em O Poço da Ascensão, pois com o desfecho de O Império Final, que muita revolta, angústia e sofrimento instigou, não há como não partir, o quanto antes, para o próximo volume. Apostem nesta trilogia, apostem neste escritor – ambos valem bem a pena.
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