quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A Sereia, Carolyn Turgeon [Opinião]




Título Original: Mermaid
Autoria: Carolyn Turgeon
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 235
Tradução: Irene Daun e Lorena & Nuno Daun e Lorena


Sinopse:

A princesa Margrethe está escondida num convento porque o seu reino está em guerra e um dia, no jardim que dá para o mar gelado, testemunha um milagre: uma sereia emerge das ondas com um homem nos braços, moribundo. Quando chega à praia, a princesa descobre que a sereia desapareceu no mar e enquanto trata do belo estranho, descobre que é um príncipe e também o filho do grande rival do pai. Certa de que a sereia lhe entregou aquele homem por uma razão, Margrethe engendra um plano para acabar com a guerra no seu reino.
Entretanto, a princesa Lenia anseia voltar para o homem que transportou para terra e não se importa de trocar o seu mundo, a sua voz e até a sua saúde por umas pernas e a possibilidade de lhe conquistar o coração...


Opinião:

Quando o mar é o nosso mundo, a nossa casa, ultrapassar a ânsia e o desejo acumulado de explorar a superfície, de descobrir o que foi escrito nas estrelas, torna-se algo extremamente complicado de alcançar. Porém, assim que o amor verdadeiro entra na equação, mostrando nuances nunca antes vividas, nunca antes sentidas, talvez a curiosidade do desconhecido seja forte o suficiente para a dor do abandono, da fuga e do sacrifício tomar conta de uma sereia que somente pretende ser aceite e... ser amada.

A Sereia trata-se de uma maravilhosa reinterpretação de uma das mais aclamadas e apaixonantes histórias infantis – A Pequena Sereia. Adquirindo contornos bem mais obscuros e funestos, este é um romance que rapidamente capta a atenção do leitor adulto, ao se centrar, não unicamente no relacionamento interdito e incompleto entre uma princesa do mar e um futuro rei terrestre como, e também, na ligação inquebrável e inexplicável que pode unir duas mulheres que partilham um sentimento comum de entreajuda mas que, inesperadamente, se acabam por tornar temíveis rivais.  
Carolyn Turgeon estreia-se em território português com uma escrita deliciosamente aprazível e um enredo que apela, em força, à sua leitura extrema. Mantendo-se fiel ao núcleo caracterizante da temática que aborda, Turgeon surpreende pela qualidade e beleza do seu texto narrativo, pela carga emotiva sentida ao longo de cada página e, sem esquecer, pelo novo fôlego criativo atribuído a uma história que todos nós, em algum ponto da nossa infância, escutámos ao deitar.

Avivada por um leque de personagens supremamente bem construído e, sem dúvida alguma, singular, esta é uma trama que apela às emoções do leitor quando este se vê confrontado com a impossibilidade de dois amores perfeitos.
Se, por um lado, Lenia oferece o que de mais magnífico o seu corpo contém em troca de um par de pernas e de uma oportunidade sem igual, por outro Margrethe age em prol de uma comunidade sem ninguém que lute por si, sem a presença de um único salvador. Contudo, a grande saliência manifesta-se na teia de conhecimento e amizade intuitivas que agarra estas duas excelentes figuras, mantendo-as unidas na dor, na alegria e na vida, em detrimento de mais uma qualquer batalha, física e emocional, onde nenhuma delas alguma vez conseguiria escapar impune.

O reino de Lenia é, decididamente, do mais belo que pode existir. A forma como a autora descreve toda a presença marítima, desde as várias espécies animais que partilham o seu espaço com tão encantadoras sereias, à própria natureza circundante e palaciana é, deveras, magnetizante. Mas também as passagens em terra firme, sob um sol escaldante ou junto às muralhas do mais extraordinário dos castelos são, à sua maneira, sublimes. A par com diálogos esclarecedores e atitudes maduras, adultas, este é um enredo com todos os ingredientes certos para triunfar, mesmo quando a presença do fantástico se cinge às peculiaridades envolventes da personagem de Lenia, e às provações por esta decididas.

Um livro onde o amor e a amizade detém o papel principal, e onde é importante aprender que, mesmo quando o destino que sempre sonhámos e pelo qual lutámos nos pareça fugir por entre os dedos, a experiência, o pequeno tempo partilhado, são memórias, recordações triunfantes que nos marcarão para sempre. Para quê desistir, para quê pensar, quando a vida é tão curta e tão cheia de mistérios?
Mais uma incrível aposta por parte da Planeta Manuscrito, numa obra que não só apela ao olhar através de uma capa extraordinariamente magnífica, como, e em igual medida, alicia a ler, com uma autora que, certamente, ainda irá dar muito que falar. Gostei.

2 comentários:

Anónimo disse...

Estou muito curiosa com este livro! Parece ser uma leitura interessante :)

bjs*

Pedacinho Literário disse...

É uma leitura muito interessante, Crazy. Uma versão moderna, embora, ao mesmo tempo, antiga, de um dos mais belos contos infantis. Se tiveres oportunidade, é um livro breve e leve. :) Beijinhos*

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