Título Original: Mermaid
Autoria: Carolyn
Turgeon
Editora: Planeta
Manuscrito
Nº. Páginas: 235
Tradução: Irene Daun e
Lorena & Nuno Daun e Lorena
Sinopse:
A
princesa Margrethe está escondida num convento porque o seu reino está em
guerra e um dia, no jardim que dá para o mar gelado, testemunha um milagre: uma
sereia emerge das ondas com um homem nos braços, moribundo. Quando chega à
praia, a princesa descobre que a sereia desapareceu no mar e enquanto trata do
belo estranho, descobre que é um príncipe e também o filho do grande rival do
pai. Certa de que a sereia lhe entregou aquele homem por uma razão, Margrethe
engendra um plano para acabar com a guerra no seu reino.
Entretanto,
a princesa Lenia anseia voltar para o homem que transportou para terra e não se
importa de trocar o seu mundo, a sua voz e até a sua saúde por umas pernas e a
possibilidade de lhe conquistar o coração...
Opinião:
Quando o mar é o nosso
mundo, a nossa casa, ultrapassar a ânsia e o desejo acumulado de explorar a
superfície, de descobrir o que foi escrito nas estrelas, torna-se algo
extremamente complicado de alcançar. Porém, assim que o amor verdadeiro entra
na equação, mostrando nuances nunca antes vividas, nunca antes sentidas, talvez
a curiosidade do desconhecido seja forte o suficiente para a dor do abandono,
da fuga e do sacrifício tomar conta de uma sereia que somente pretende ser
aceite e... ser amada.
A Sereia trata-se de uma
maravilhosa reinterpretação de uma das mais aclamadas e apaixonantes histórias
infantis – A Pequena Sereia.
Adquirindo contornos bem mais obscuros e funestos, este é um romance que
rapidamente capta a atenção do leitor adulto, ao se centrar, não unicamente no
relacionamento interdito e incompleto entre uma princesa do mar e um futuro rei
terrestre como, e também, na ligação inquebrável e inexplicável que pode unir
duas mulheres que partilham um sentimento comum de entreajuda mas que, inesperadamente,
se acabam por tornar temíveis rivais.
Carolyn Turgeon
estreia-se em território português com uma escrita deliciosamente aprazível e
um enredo que apela, em força, à sua leitura extrema. Mantendo-se fiel ao núcleo
caracterizante da temática que aborda, Turgeon surpreende pela qualidade e
beleza do seu texto narrativo, pela carga emotiva sentida ao longo de cada página
e, sem esquecer, pelo novo fôlego criativo atribuído a uma história que todos nós,
em algum ponto da nossa infância, escutámos ao deitar.
Avivada por um leque de
personagens supremamente bem construído e, sem dúvida alguma, singular, esta é
uma trama que apela às emoções do leitor quando este se vê confrontado com a
impossibilidade de dois amores perfeitos.
Se, por um lado, Lenia
oferece o que de mais magnífico o seu corpo contém em troca de um par de pernas
e de uma oportunidade sem igual, por outro Margrethe age em prol de uma
comunidade sem ninguém que lute por si, sem a presença de um único salvador.
Contudo, a grande saliência manifesta-se na teia de conhecimento e amizade
intuitivas que agarra estas duas excelentes figuras, mantendo-as unidas na dor,
na alegria e na vida, em detrimento de mais uma qualquer batalha, física e emocional,
onde nenhuma delas alguma vez conseguiria escapar impune.
O reino de Lenia é,
decididamente, do mais belo que pode existir. A forma como a autora descreve
toda a presença marítima, desde as várias espécies animais que partilham o seu
espaço com tão encantadoras sereias, à própria natureza circundante e palaciana
é, deveras, magnetizante. Mas também as passagens em terra firme, sob um sol
escaldante ou junto às muralhas do mais extraordinário dos castelos são, à sua
maneira, sublimes. A par com diálogos esclarecedores e atitudes maduras,
adultas, este é um enredo com todos os ingredientes certos para triunfar, mesmo
quando a presença do fantástico se cinge às peculiaridades envolventes da
personagem de Lenia, e às provações por esta decididas.
Um livro onde o amor e
a amizade detém o papel principal, e onde é importante aprender que, mesmo
quando o destino que sempre sonhámos e pelo qual lutámos nos pareça fugir por
entre os dedos, a experiência, o pequeno tempo partilhado, são memórias,
recordações triunfantes que nos marcarão para sempre. Para quê desistir, para
quê pensar, quando a vida é tão curta e tão cheia de mistérios?
Mais uma incrível aposta
por parte da Planeta Manuscrito, numa obra que não só apela ao olhar através de uma capa extraordinariamente magnífica, como, e em igual medida, alicia a ler,
com uma autora que, certamente, ainda irá dar muito que falar. Gostei.
2 comentários:
Estou muito curiosa com este livro! Parece ser uma leitura interessante :)
bjs*
É uma leitura muito interessante, Crazy. Uma versão moderna, embora, ao mesmo tempo, antiga, de um dos mais belos contos infantis. Se tiveres oportunidade, é um livro breve e leve. :) Beijinhos*
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