Título Original: The Fault in Our Stars
Autoria: John Green
Editora: ASA
Nº. Páginas: 253
Tradução: Ana Beatriz
Manso
Sinopse:
Apesar do
milagre da medicina que fez diminuir o tumor que a atacara há alguns anos,
Hazel nunca tinha conhecido outra situação que não a de doente terminal, sendo
o capítulo final da sua vida parte integrante do seu diagnóstico. Mas com a
chegada repentina ao Grupo de Apoio dos Miúdos com Cancro de uma atraente
reviravolta de seu nome Augustus Waters, a história de Hazel vê-se agora
prestes a ser completamente rescrita.
Opinião:
Este não é um livro fácil,
simples.
Não é um livro onde o
mundo é pintado a cor de rosa, onde as barreiras da comunicação, da clareza e
da vivência são transponíveis, são destruídas num piscar de olhos. No entanto, é,
certamente, um livro marcante. Um livro que nos suspende o fôlego, que nos
aperta o coração, que nos faz derramar mil e uma lágrimas rebeldes de compaixão,
de dor e agonia, de revolta. Esta é uma leitura incrível, extremamente
emocional, extremamente carismática na sua abordagem crua a um tema tão real, tão
complexo, tão pouco falado desta forma.
Uma leitura que ficará... para sempre.
A Culpa é das Estrelas trata-se de uma narrativa transcendente sobre um pequeno grupo de
personagens peculiares, invulgares em coragem e determinação, que batalham,
diariamente, contra o alastrar de um mal real, de um mal perceptível,
corrosivo. Pungente, emotiva e primorosa, esta é uma obra audaz no que diz
respeito à perspectiva oferecida ao leitor, por parte de um autor ousado e
supremamente inteligente, e sensitiva pela carga emocional que transmite, que
perdura ao longo de todo o folhear das páginas, umas vezes camuflada por
atitudes destemidas, outras bem à frente dos olhos em acções compassivas, mas
sempre, sempre presente.
John Green, atrevo-me a
dizer, escreve com o coração, mexe com os sentimentos e brinca com a ironia das
situações mais críticas, dos momentos mais graves, instantes ténues, que se
atravessam no longo – embora, por vezes, algo curto – caminho que é a vida.
Green não simplifica, Green não esconde, somente opta por outras vias, percorre
outras estradas, outras linhas de pensamento, de descrição, de diálogo para ir
de encontro, isso sim, a um final comum que se mostra absolutamente extraordinário.
As mais insólitas
surpresas são aquelas que se encontram mesmo ao virar da esquina ou, neste caso
em particular, no interior de um Grupo de Apoio aos Miúdos com Cancro. E a única
forma de nos passarem ao lado, de as perdermos, a essas oportunidades sem
igual, é se nos recusarmos a olhar. Se insistirmos em não sentir, se
acreditarmos imperiosamente de que não somos merecedores delas. Durante parte
da leitura, foi assim que encarei Hazel – uma jovem excepcional, de uma
inteligência apaixonante, que não se deixava abrir, que não deixava ninguém
entrar com medo de se tornar um estorvo emocional. Mas Augustus é de uma beleza
intelectual incrível, e os seus encantos, o seu dom de excelência com a
palavra, foram a ruptura no casulo de Hazel, de onde emergiu a mais bela,
generosa e nobre das borboletas. Nunca antes percepcionei um amor assim, tão
intenso e acolhedor, tão comovente e frágil, e essa, essa sim é a essência de
todo este livro.
Há que sorrir face as
enfermidades da vida. Persistir nos sonhos que escondemos dos outros. Acreditar
que podemos ser melhor, que podemos ter esperança. Amar como se o amanhã não
existisse, como se fosse o último instante no tempo e... viver. Principalmente,
viver, mesmo quando a dor é demasiado forte, mesmo quando a doença leva de
arrasto o que mais nos completa, mesmo quando continuar parece impossível...
A persistência de
Hazel, a revolta de Isaac, a explosão de estrelas que é Augustus, em conjunto
com o desespero dos pais, o abandono dos amigos, são somente alguns dos
elementos que ficarão gravados no meu coração e, com certeza, também nos
daqueles que se atreverem a dar uma oportunidade a este romance. Não pensem que
este é um livro sobre cancro... acreditem que esta é uma história sobre
sobreviventes, sobre um amor estelar, sobre amizades inestimáveis, sobre vidas
cujo propósito é persistir, aceitar e amar.
Não consegui evitar
chorar no decorrer desta leitura, assim como não consegui evitar sorrir,
gargalhar. John Green é, verdadeiramente, um escritor especial, um escritor
abrasivo, inteligente, perspicaz, e com um sentido de oportunidade e de humor tão
«no ponto» que quase, quase, se torna
irrisório ler o que seja após uma obra sua. À
Procura de Alaska fez-me apaixonar e valorizar o conceito de amizade, A Culpa é das Estrelas deixou-me,
simplesmente, de rastos. E, confesso ainda, que pela primeira vez fui assolada
por uma vontade irresistível de voltar a percorrer as páginas e os contornos de
um livro, deste livro... algo que nunca antes aconteceu.
Uma aposta sublime, inesquecível,
enternecedora por parte da Livros com Sentido, num autor que não só é um
fenómeno, como escreve sobre temas importantes, temas profundos sobre e para
pessoas. Para mim, um dos melhores romances do ano... num livro deveras
impressionante e que, dificilmente, irei esquecer. Brilhante.