domingo, 29 de abril de 2012

Trocada, Amanda Hocking [Opinião]



Título Original: Switched
Autoria: Amanda Hocking
Editora: ASA
Nº. Páginas: 261
Tradução: Elsa T. S. Vieira


Sinopse:

Com apenas seis anos, Wendy escapa à morte quase por milagre – e quem a tenta matar é a própria mãe, que está convencia de que a filha não é sua, mas antes uma intrusa, trocada à nascença no hospital. Onze anos mais tarde, a estranha adolescente, de cabelos negros revoltos, começa a suspeitar de que a mãe, se calhar, até tinha razão. Na nova escola, mais uma entre tantas, ela sente-se posta à parte por todos. Menos por Finn Holmes, um rapaz silencioso e sombrio que se limita a olhá-la fixamente – e lhe desperta sentimentos contraditórios: um medo enorme, e uma irresistível atracção.
Finn é um Achador, que a procura há anos. E agora, que finalmente a encontrou, quer levá-la para casa, para o reino dos Trylle, onde Wendy vai descobrir o que sempre suspeitou – ela é mesmo diferente, e tem poderes muito mais poderosos do que alguma vez tinha imaginado...


Opinião:

Não existe nada como a família.
São eles quem nos apoia, quem nos ama apesar de tudo, e quem, desde o nosso primeiro passo, primeiro sorriso, primeira palavra, se transforma no pilar que nos sustenta enquanto seres humanos. E numa escala ainda mais importante do que a família, encontra-se a nossa mãe. Aquela que nos mostrou o mundo, que nos ensinou tudo o que de bom e de mau iremos decifrar e, acima de tudo, aquela por quem nutrimos um carinho e amor muito especial... sentimentos esses que, com naturalidade, nos são retribuídos. Ou não.
Acontece que, às vezes, o que elas mais querem no universo, as mães, é matar-nos, a nós, os seus filhos. E ocasionalmente, quase que o conseguem. Quase.

Trocada trata-se de um romance inovador dentro do seu género, que se evidenciada pela criatividade demonstrada para com uma espécie do sobrenatural que se encontra, actualmente, pouco explorada e que, como tal, acaba por se apresentar de forma original e totalmente inesperada.
Amanda Hocking, por sua vez, e dotada de um estilo simplista, subtil e atento ao detalhe, faz as delicias do leitor mais jovem ao conferir uma certa descontracção e, ao mesmo tempo, mistério a um enredo que, logo de início, se mostra bastante prometedor.

Os intervenientes desta trama, no seu geral, não poderiam ser mais diferentes entre si. Enquanto, por um lado, nos deparamos com uma camada extremamente real e humana de uma faixa etária que todos sabemos não ser nada fácil de superar, por outro temos um povo estranho, com normas e regras em muito semelhantes às monarquias de antigamente onde o que o rei dita é lei, e onde é possível encontrar-se de tudo um pouco, desde poderes extravagantemente inconcebíveis e extraordinários a caricatas personalidades tão normais quanto esquivas. Ainda assim, algumas personagens acabam por se destacar, seja pelas particularidades especiais que possuem ou pela singeleza com que se movimentam.

Wendy, a protagonista, trata-se de uma jovem pela qual, e com relativa rapidez, se nutre um certo fascínio e compaixão. O horror que preenche o seu passado de menina criança é algo que tem vindo a abeirar-se do seu pensamento e talvez por isso, ou devido à falta de uma figura materna real, Wendy dá por si a ponderar se todas as desconfianças e razões que levaram a sua mãe a agir da forma como agiu não estavam, efectivamente, correctas. Essa dúvida, essa inconstância e vazio que a acometem a um presente de solidão e bizzaria, somente servem de catapulto para um futuro que se assemelha grandioso e... muito mais natural para si e para a criatura excepcional que vive por baixo da sua pele.
A esta personagem rebelde e curiosa, juntam-se tantas outras personalidades igualmente confiantes e excêntricas, bonitas e assustadoras que, no seu conjunto, perfazem um grupo de intervenientes bastante criativo e singular e que, facilmente, impulsionam à leitura desta trama.

Vários são os pormenores que agraciam este romance assim como os elementos que surtiram simpatia e encanto em mim, contudo, nem tudo se mostrou de forma positiva e, como primeiro livro, algumas falhas e pressas foram cometidas.
Embora tenha apreciado as diversas semelhanças que este livro contém com a realidade, esteja ela no passado ou nos nossos dias, a verdade é que alguns momentos transmitiram-me uma certa celeridade. Os caminhos escolhidos por Hocking são interessantes, por inúmeras vezes me deixaram em suspenso mas, parte das decisões tomadas, e talvez por a autora querer tal situação originasse uma determinada consequência, pareceram-me algo forçadas. Penso que mais algumas páginas de história, de desenvolvimento, não teriam feito mal nenhum. Ou, quem sabe, estas sensações tenham sido propositadas de modo a criar no leitor uma dada expectativa e vontade em ler o livro seguinte.
Outro dos factores que não me convenceu por completo recai na quantidade de fantasia albergada nas páginas deste romance. Por vezes, admito ter-me sentido dentro de um romance de época aprimorado com um pouco de actualidade mas, mais do que isso, o que realmente gostava era de ter lido mais sobre poderes, sobre esta magia pulsante, e de ter descoberto mais segredos, mais sobre as características únicas dos Trylle.

Mas, apesar de tudo, houveram situações engraçadas e detalhes que me surpreenderam. Como, por exemplo, as personagens de Tove e Rhys. A primeira, admito, talvez por ser das criaturas mais poderosas da sua comunidade, a nível mágico, foi a que maior curiosidade e interesse me suscitou. Além de que também todo o mistério e secretismo que o circunda, tal como a respectiva fragilidade mental e emocional, são bastante apelativos. Quanto ao segundo, Rhys trata-se de uma personagem de merecido destaque pelo facto de, em última instância, ser um renegado. Ao encontrar-se a viver numa sociedade que vai em muito para além da sua normalidade de rapaz, é-lhe permitido ser mais resoluto e divertido. E não há dúvidas de que o seu sentido de humor – e de oportunidade – é fenomenal, o que se traduz numa certa liberdade contraditória aos nativos de Förening.
Num registo igualmente positivo, está o pormenor de o próprio leitor ir descobrindo toda a informação envolvente deste mundo, de forma gradual, ou seja, em simultâneo com a protagonista, Wendy. Desse modo, a curiosidade vê-se intensificada ao máximo assim como as emoções e afinidades partilhadas entre leitor e personagem. Finalmente, deixo nota dez à escolha da capa – que, por acaso, é igual à versão original. Esta é bastante apelativa e quente, o que a torna simplesmente deslumbrante.

Numa aposta diferente e bem mais jovem, Trocada trata-se de uma obra interessante e de uma escolha curiosa por parte de uma editora, ASA, que nos tem vindo a seduzir com obras complexas e emocionalmente dominadoras. Assim sendo, este acaba por ser um livro fresco, mais leve e suave, e que com certeza agradará a qualquer jovem apaixonado por fantasia, ainda que seja numa nota menos assertiva e profunda. 

1 comentário:

Mafi disse...

Eu também gostei muito do livro foi uma autêntica surpresa :) Aguardo pelo próximo volume que como já apresenta capa neste, espero que esteja para sair brevemente :)

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