sábado, 7 de abril de 2012

Há Sempre Um Amanhã, Anita Notaro [Opinião]



Título Original: Take a look at me
Autoria: Anita Notaro
Editora: Quinta Essência
Nº. Páginas: 463
Tradução: Maria Correia


Sinopse:

A maior parte das pessoas consegue lembrar-se de um momento decisivo na sua vida. Uma fracção de segundo quando o tempo parou e a vida mudou para sempre.
Para Lily Ormond, esse momento chegou ao fim de um dia, quando foi abrir a porta e descobriu que, enquanto estava a esmagar alho e alecrim e assistir a telenovelas, a sua irmã gémea Alison se tinha afogado. Foi difícil conciliar-se com a perda da única irmã e melhor amiga, e mais ainda tornar-se mãe de Charlie, o filho de Ali com três anos de idade, mas descobrir que a sua irmã gémea levava uma vida secreta havia anos quase destruiu Lily... E assim começa uma viagem relacionada com quatro homens que tinham feito parte de uma vida que nem ela sabia existir. Uma viagem que obriga Lily a reconciliar-se com a memória do pai que nunca se importou realmente com ela, com uma criança que precisa muito de si e com uma irmã que não era o que parecia.


Opinião:

Quando julgamos verdadeiramente conhecer alguém, há sempre algo surpreendente que aparece no caminho e nos remete à solidão de nos sentirmos enganados, de não conseguirmos compreender ou aceitar, de querermos saber o que nos escapou. Mas por vezes, quando tal acontece, não mais é possível voltar a encarar a pessoa de frente, pedir-lhe explicações, conversar durante horas... pois essa pessoa, que tanto amamos, que tanto nos é querida e de quem tanto dependemos, deixou de existir no mesmo plano que nós. E quando assim é... que mais podemos fazer?

Há Sempre Um Amanhã trata-se de um romance belíssimo sobre esperança, amizades improváveis e destinos não concretos. Com uma linguagem fluida e livre, este livro é um encanto na medida em que mostra como um acontecimento aparentemente arrepiante e insuportável pode dar origem ao florescer de uma pessoa, ao crescimento e autonomia de um ser que, talvez por conforto ou falta de jeito, antes se havia encostado à segurança de alguém que decidisse tudo por si.
Anita Notaro tornou-se, assim, uma estreia absolutamente viciante. Gostei imenso da forma como a autora conduziu a história, oferecendo ao leitor alguns pormenores importantes mas mantendo sempre a curiosidade e o à-vontade enquanto a protagonista, Lily, se ia descobrindo a si mesma e ao passado escondido da irmã. O estilo irlandês, sempre sincero e agradável, pontua esta narrativa de forma perfeita, conferindo ao leitor a dose certa de humor, alegria, dor e secretismo, ao mesmo tempo que este se vai deixando apaixonar por uma criança rebeldemente hilariante e uma protagonista honesta, por vezes confusa, mas extremamente bondosa e real.

O leque de personagens encontrado nesta obra é excelente e, sem dúvida, que está muito bem caracterizado. Desde um casal que luta, mundos e fundos, por gerar um bebé, passando pelo médico egocêntrico que não suporta a fidelidade, até ao proprietário de um café que não quer assentar ou à mulher que se vê, subitamente, à beira do precipício com um filho para criar e uma irmã que a abandonou, este conjunto de intervenientes é escandalosamente magistral e um dos pontos mais atractivos de todo o enredo.
Lily arrecadou um lugar especial no meu coração, pela sua força e frontalidade, e pelo facto de querer descobrir o lado que Alison, a sua irmã gémea, tanto se esforçou por esconder. E será essa sua viagem ao passado desconhecido da única familiar que não só era irmã, mas também mãe e melhor amiga, que levará o leitor a deleitar-se com toda uma série de pormenores gastronómicos deliciosos e segredos conjugais desastrosos. Pelo caminho, fica o desenvolvimento pessoal de Lily, que passa de simples rapariga a mulher de negócios, a mãe babada e a amiga incondicional e apaixonada. Claramente, uma personagem que agradará com facilidade e que será a razão de muitos sorrisos aquando da leitura deste romance.
Charlie e Daniel foram também duas personagens divertidas e singulares. O primeiro é um autêntico doce, puro na sua inocência e com uma personalidade espectacular, esta criança é o brilho dos olhos de Lily e o traquinas que me deixou deleitada e embriagada de riso. O segundo, uma surpresa do princípio ao fim, e mesmo não tendo uma participação tão activa como outros homens da vida de Alison, esta personagem é fantástica na forma como ajuda, apoia e acarinha uma mulher que, independentemente do tempo que passou, ainda luta por encontrar o rumo certo na sua vida.

A par com o realismo das personagens – principalmente as masculinas –, os temas que Anita Notaro aborda ao longo das páginas são outro dos muitos prazeres desta narrativa. Sendo a perda um dos sentimentos mais angustiantes e sufocantes possível, a autora deu um passo mais à frente ao conjugar este desgaste emocional com a impossibilidade de se ter um filho, a instabilidade psicológica de uma mulher, a infidelidade por parte de um marido, o medo do compromisso, o receio de arriscar por algo que desesperadamente se quer, o amor que se pode sentir por duas mulheres diferentes e até aquela pequena e incontrolável dúvida que persiste desde criança de que não somos suficientemente bons, suficientemente fortes, suficientemente... tudo.

Também a escrita da autora é soberba. Sem entraves ou complicações, Notaro deixa a sua história fluir ao mesmo tempo que as suas personagens vão descobrindo os vários caminhos que as suas vidas podem tomar. Não sendo totalmente imprevisível, este romance foi uma delicia não só na forma como está escrito como também no modo em como deixa no ar a sensação de que, por mais negro que o futuro possa parecer, haverá sempre uma luz presente e pronta para nos guiar. Tal como o próprio título indica, há sempre um amanhã... um amanhã mais alegre, mais descontraído, mais feliz. E é essa mensagem de esperança que fica ao fim desta leitura, e que, de certo, persistirá por muito tempo. Talvez por isso goste tanto deste género de livros, ou talvez pela simplicidade com que se apresentam, mesmo com todas as adversidades encontradas no caminho. Quem sabe...

Um romance forte e muito positivo, Haverá Sempre Um Amanhã é a estreia de uma autora que chegou para ficar. Encantador em todos os sentidos, este livro de personagens primorosas, enredo interessante e mensagem especial, é mais uma excelente aposta por parte de uma editora que tem vindo a deslumbrar muitas das minhas horas de leitura – Quinta Essência. Um livro leve e agradável, que aconselho a todas as mulheres românticas.

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