domingo, 15 de abril de 2012

Ao Encontro do Nosso Amor, Michael Baron [Opinião]



Título Original: The Journey Home
Autoria: Michael Baron
Editora: Quinta Essência
Nº. Páginas: 190
Tradução: Maria Filomena Duarte


Sinopse:

Joseph, um homem à beira dos quarenta anos, acorda desorientado e constrangido num local que não reconhece. Parte numa viagem para encontrar a sua casa, sem saber para onde vai, orientado apenas pela visão preciosa e indelével da mulher que ama.
Antoinette é uma mulher de idade, que vive numa residência para séniores e que se refugiou no seu mundo interior. Aí, o corpo e a mente não a atraiçoaram. Aí, é uma jovem recém-casada com um marido que a idolatra e uma vida inteira de sonhos para viver. Aí, ela está verdadeiramente em casa.
Warren, filho de Antoinette, é um quarentão anos que atravessa uma das fases mais difíceis da sua vida. Com tempo a mais, resolve tentar recriar as recordações de casa confeccionando os melhores pratos da mãe e saboreá-los com ela.
Joseph, Antoinette e Warren são três pessoas que andam à procura de casa, cada uma à sua maneira. No modo como se ligam umas às outras nesta fase crítica das suas vidas reside o fundamento do tipo de história profunda e comovente que nos habituámos a esperar de Michael Baron.


Opinião:

O amor, quando verdadeiro, é uma emoção eterna. Imutável. Extremamente consciente. E mesmo quando é a morte aquela que impede duas almas gémeas de continuarem a sua vivência em conjunto, o sentimento persiste, bem lá no fundo, sempre pulsante, sempre inebriante, sempre incontestável.

Ao Encontro do Nosso Amor trata-se de um romance suave e bastante subtil, que envereda pelos caminhos sinuosos e tortuosos do amor, quando este nos é retirado pelo tempo que se esgotou ou pelo sentimento que se extinguiu. Ensina, assim, que nem sempre se deve perder a esperança de, um dia, voltar a reencontrar aquele ou aquela que nos fará feliz, incondicional e perpetuamente, muito para além da finitude dos nossos dias.
Esta foi a minha estreia em Michael Baron, uma escrita que me apelou de imediato e que me embalou e guiou numa viagem emocional e intrigante pela busca e compleição de um dos sentimentos mais importantes – o amor. Mas também a amizade se encontra presente, a força familiar, o querer ser-se algo melhor, alguém mais saudável e talvez pela magnitude das emoções retratadas, e pela forma simples como estão descritas, este foi um livro que me deixou com uma imensa vontade em descobrir mais sobre outras histórias «reais» do autor.

Com um enredo pontuado pela surpresa da descoberta gradual, as personagens acabaram por se tornar um elemento essencial para a criação de uma certa afinidade entre leitor e história. Assim, e mesmo não sendo grande este leque principal de intervenientes, certamente que é interessante, cada um à sua maneira, cada um com o seu mistério a desvendar.
Joseph foi, sem sombra de dúvida, uma personagem de inúmeros segredos. Desde a sua profunda amnésia, passando pelas pequenas pistas que lhe vão surgindo no caminho e a intensa busca por aquela que o chama, esta foi uma figura interessante e curiosa, apaixonada e desesperadamente perdida, que dirigiu o leitor a um final surpreendentemente emotivo.

Antoinette, por sua vez, conectou-se com o leitor ao mostrar-lhe uma série de lembranças acarinhadas e enamoradas de um casal jovem que se viu diluído pela acção da morte. Essas recordações, esses instantes tão especiais no tempo, são o que a fazem, mais do que tudo, querer juntar-se ao homem que sabe estar a aguardar a sua chegada.
Warren foi, no entanto, aquele que me aqueceu o coração. O seu crescimento enquanto homem e filho estimado representam afinidades verdadeiramente enternecedoras que todos nós, em algum ponto da nossa vida, experienciámos ou iremos viver. A sua força em prosseguir caminho, em lutar por ter a sua adorada mãe por mais uns sorrisos, por mais uns gestos foi algo que adorei ler e a forma como a personagem chega ao cerne da questão, fazendo uso das inúmeras delícias gastronómicas que Antoinette criou ao longo da vida é sensacional.

O enredo que perfaz este romance é muito simples e estimulante, especialmente tendo em conta que temos uma personagem que nada sabe sobre o seu passado ou futuro, e uma outra protagonista que somente deseja poder fundir-se na sua própria memória. Desse modo, um dos aspectos que mais me cativou cinge-se ao facto de o próprio leitor acompanhar o desenvolvimento da história, ao mesmo tempo das personagens. E é essa realidade, esse desconhecido que faz com que o leitor não consiga interromper a leitura.
Outro dos aspectos agradáveis de Ao Encontro do Nosso Amor reside nas descrições espantosamente inebriantes de pratos confeccionados por Antoinette e que agora, no presente, Warren faz por recriar. Estas delicias gastronómicas são tão emotivas que eu própria, por diversas vezes, me vi a cheirar o doce perfume do assado que está no forno... ou a saborear os legumes salteados com verdadeiro amor e carinho.

Infelizmente, não se trata de um livro sobre o qual se possa desvendar muito, tendo em conta a simplicidade que o constitui e a surpresa em que acaba por se transformar. Levantar um pouco o véu seria quebrar parte do forte sentimento que se encontra perpetrado nestas páginas, que se lêem de um só fôlego.
Uma interessante aposta Quinta Essência, num autor que possui uma escrita incrivelmente livre e conexa, que agarra o leitor logo na primeira linha e que não o deixa fugir até o voltar da última página. Um romance leve, descontraído e agradável. 

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