quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sombras Radiantes, Melissa Marr [Opinião]



Título Original: Radiant Shadows
Autoria: Melissa Marr
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 255
Tradução: Maria João Trindade


Sinopse:

Sendo metade humana e metade fada, Ani deixa-se levar pelos seus apetites.
Esses mesmos apetites também atraem inimigos poderosos e aliados incertos, incluindo Devlin. Este foi criado para ser um assassino e é irmão da fria e lógica Rainha Suprema das fadas, e da sua gémea caótica, a encarnação da Guerra. Devlin sabe que é o único que pode manter Ani a salvo das suas irmãs. E se falhar, será o único responsável pela sua morte.
Mas Ani não é de se deixar proteger enquanto os outros lutam as suas batalhas por si. Tem a coragem de se defender e a capacidade de alterar os planos de Devlin – bem como a sua vida. Ambos se temem. E temem também pela segurança um do outro. Mas, à medida que se tornam mais íntimos, uma ameaça maior coloca em perigo todo o Mundo das Fadas.
Será que ao salvarem o reino feérico vão perder-se um ao outro?


Opinião:

Quando o mundo que conhecemos – e ao qual pertencemos – é regido por uma fonte de magia, ser-se diferente, ser-se especial e desejada por duas frentes opostas em poder pode ser um pau de dois gumes. Se por um lado é-nos oferecida protecção, por outro temos a realidade do conflito, da perseguição e do sangue. Mas nem tudo está perdido... e quando aquele que foi enviado para nos matar sucumbe às amarras do amor, dos sentimentos e da vida, talvez seja possível sair-se ilesa de toda a confusão. Talvez.

Sombras Radiantes trata-se de um livro preparativo para o culminar máximo de uma série que, sem dúvida, tem vindo a surpreender pela positiva. Agarrando no povo feérico e conferindo-lhes todo um conjunto de características, desejos e atitudes pouco próprias das criaturas elegantes e benévolas que encontramos na maioria dos «contos de fadas», Melissa Marr permitiu ao leitor deslumbrar-se com quatro cortes poderosas e distintas que, em conjunto, albergam um povo que não se move somente pela beleza e que, em separado, são capazes dos mais atrozes actos. Juntamente com uma escrita suave e madura, certeira nas descrições do ambiente que rodeia as personagens e atractiva no desenrolar dos diálogos que são um dos pontos fortes deste livro, Sombras Radiantes apresenta-se assim como uma obra obrigatória para quem gosta do reportório de Marr e para quem, como eu, está desejoso de descobrir como é que tudo se vai resolver agora que um quinto pilar de poder nasceu do desequilíbrio do Mundo das Fadas.

Devlin sempre foi uma personagem que soube exactamente como deixar o leitor curioso e sequioso por saber mais sobre o que o move enquanto Mãos Ensanguentadas da Rainha Suprema e o que o impede de florescer, na sua plenitude, enquanto homem de uma corte. Talvez por isso tenha sido uma surpresa presenciar uma faceta bem mais emocional e inconstante de uma personalidade que sempre se apresentou no seu melhor, no seu mais cuidadoso controlo, ou talvez esse fascínio instantâneo provenha daquela peculiar mistura de sedução e medo que Devlin tão facilmente transmite. A verdade é que esta personagem acabou por ser uma autêntica surpresa, daquelas que absorve o leitor a cada página voltada, e que o deixa louco face as indecisões, as dúvidas e os conflitos internos por que tão maravilhoso elemento da Corte Suprema – e será que o é mesmo? – passa. Como companheira de viagem, Ani transforma-se numa presença forte e destemida, que vai evoluindo ao mesmo tempo que o seu sangue humano vai sendo consumido pela parte feérica tornando-a, assim, mais impulsiva, mais protectora e, como Canídea que é, mais desafiadora. Foi um crescimento – o desta personagem – bastante interessante de ler, e que foi desabar numa explosão final de momentos decisivos e relações inseguras.
Enquanto personagem etérea feminina, Rae foi igualmente fantástica na medida em que, transpondo-se para o mundo dos sonhos e das possessões, conduziu dois intervenientes essências para o desfecho final desta série de forma precisa ainda que, por vezes, muito conturbada. Uma personagem que adorei conhecer e que, logo no início, soube captar a atenção do leitor, mantendo-a bem perto de si.

Quanto a intervenções um pouco mais secundárias, é sempre um prazer voltar a reencontrar elementos viciantes que fizeram as delicias nos volumes anteriores, como é o caso de Irial, Niall e Seth. O primeiro, em concreto, é uma das personagens de que mais gosto e vai ser particularmente stressante e emocional perceber como será o seu desfecho, tendo em conta os recentes desenvolvimentos em Sombras Radiantes. Em relação a Niall, foi bom presenciar uma certa tomada de posse por parte de um rei que de governante pouco vinha a desempenhar. É possível que esse pormenor venha a ter uma importância extrema no próximo – e último – volume da série. Seth infelizmente, e para mim, foi uma desilusão. Após um Frágil Eternidade tão envolvente e decisivo, seria de esperar que Seth apresentasse uma arrogância e superioridade própria da Corte Suprema e, mesmo desempenhando um papel essencial para a sobrevivência da sua «nova e adquirida» condição – espécie –, gostava de ter visto algo mais vindo dele, mais palpável, mais substancial. Em contrapartida, fica a saudade relativamente a Keenan e Aislinn, e também a Don.

Em termos do desenrolar da história, Sombras Radiantes trata-se de uma continuação interessante na medida em que aborda vários temas e questões deixadas em aberto ou que se vinham a manter escondidas no poço da curiosidade. Principalmente em relação às personagens – que foi o elemento que mais desenvolvimento sofreu –, tudo o resto evoluiu de forma inesperada e bastante sentimental. Este aspecto – o sentimento – é algo muito presente ao longo de todas as páginas, ramificando-se em várias formas – seja pelo amor que uma mãe tem por um filho ausente, a atracção e impossibilidade de afastamento que uma criatura supostamente «oca» tem por uma Canídea que sobrevive das emoções e do toque... ou pelo simples sentimento de fraternidade, de amizade, de protecção que, uns pelos outros, todas as personagens sentem.

Este é, decididamente, um livro que vem elevar a fasquia da expectativa e da ansiedade em relação ao seu tão aguardado final. Uma obra que, uma vez mais, mostra os vários planos tecidos, os destinos que se encontram invisíveis, a imprevisibilidade de duas personagens fortes – Sorcha e Bananach – que não podem viver uma sem a outra. Um enredo que mexe com as emoções, que estimula à sua leitura e que deixa toda uma infinidade de portas abertas e possibilidades relativamente ao seu desfecho. Mais uma aposta jovem e feérica, pelas mãos da Saída de Emergência. Gostei!

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