segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Cadáver Trocista, Laurell K. Hamilton




Título Original: The Laughing Corpse
Autoria: Laurell K. Hamilton
Editora: 1001 Mundos
Nº. Páginas: 381
Tradução: Leonor Bizarro Marques


Sinopse:

Algum tempo depois estava numa plataforma elevada, de frente para um semi-círculo quase perfeito de espelhos. Com sapatos de salto alto cor-de-rosa a condizer, o vestido de dama de honor tinha o comprimento ideal. Tinha também pequenas mangas tufadas e era descaído nos ombros, revelando quase todas as minhas cicatrizes.
Um vampiro partira-me a clavícula e o braço esquerdo, ao morder-me. Tinha também a marca de uma queimadura em forma de cruz, no antebraço esquerdo. Parecia a noiva de Frankenstein num baile de finalistas. Catherine, a noiva propriamente dita, não concordava. Achava que eu merecia estar no casamento por sermos boas amigas e eu estava a gastar uma boa maquia para sofrer uma humilhação pública. De facto, devíamos ser boas amigas...


Opinião:

Que agradável surpresa!
Laurell K. Hamilton é uma das poucas autoras que tem vindo a “crescer em mim”, ou seja, o seu estilo inconfundível de combinar fabulosas heroínas com espectaculares e agressivos seres do sobrenatural não me passou despercebido tornando-se, inclusive, num tipo de escrita que me dá real prazer ler.
O Cadáver Trocista não podia ter sido mais empolgante e inesperado! Depois de um começo lento e algo comprometedor, dotado de um imenso espaço de crescimento e desenvolvimento, Hamilton soube voltar a captar as atenções com um segundo volume sedento de sangue e dominado por uma perigosa atmosfera capaz de induzir os mais tenebrosos e assustadores pesadelos.

Vagueando solitária pelas ruas de St. Louis, uma criatura ávida por destruição percorre os casebres mais escondidos gerando o completo caos por onde passa. Sem ninguém apto a descobrir o motivo de tão horrendos cenários, origem de tamanha barbaridade ou localização de tão complexo animal, resta a Anita Blake reunir os seus conhecimentos e fazer um pouco da sua magia... talvez assim consiga revelar o monstro que se esconde durante o dia e violentamente ataca durante a noite. Juntamente com a desagradável notícia de que o novo Mestre da Cidade exige uma reunião com ela e dos confrontos gerados em torno de um humano que a quer forçar a animar algo que deveria de continuar enterrado para todo o sempre, está bastante claro que, para Anita Blake, apresenta-se mais uma semana difícil, com poucas horas de sono e muitas, muitas nódoas negras...

Para além de um enredo bastante mais consciente, conciso e delineado, Laurell K. Hamilton tomou a decisão correcta ao não preencher as páginas de O Cadáver Trocista com um incontável número de intervenientes e pequenas participações que, ou não trariam nada de novo à história ou simplesmente iriam desaparecer no futuro – por exemplo, algumas personagens de Prazeres Inconfessos não são sequer referidas nesta continuação da série. Assim, não só a própria trama se apresenta mais limpa como igualmente possibilita tanto à autora como ao leitor concentrar-se nas personagens de maior relevo e nos seus respectivos desenvolvimentos, desejos e vontades. Em adição, até o “problema” principal que tece as teias de toda a parafernália de acontecimentos que assistem estas páginas acaba por deter um pouco mais de destaque e consistência, tornando a narrativa incrivelmente mais viva e entusiasmante.

Relativamente às personalidades importantes que dão voz a esta série, não posso deixar de voltar a referir Anita Blake que, de uma forma maravilhosa, continua a ser a alma do livro. Ela é tudo o que uma heroína poderia alguma vez sonhar ou aspirar a ser, e um pouco mais, com uma humanidade espantosa e uma fragilidade muito apropriada presentes na mesma equação. Sem dúvida uma mistura explosiva de violência, adoração por peluches fofos, ironia e feminilidade. A meu ver, uma protagonista cinco estrelas e simplesmente fenomenal.
Também igualmente cativante mas com uma menor margem participativa está Jean-Claude que persiste em manter uma atitude misteriosa – embora imensamente poderosa – e até persuasiva e sedutora tanto para com Anita como para com o leitor. Pessoalmente, gostava de o ter lido com uma maior frequência neste romance mas, visto ser unicamente uma perspectiva pessoal e não de proporcionar algo mais à história, finita a sua leitura chega-se à conclusão de que tudo foi entregue em igual e necessária medida, criando desse modo um muito bom conjunto de situações, resoluções e viragens inesperadas.
Dominga Salvador é, também ela, uma personagem por demais determinada, enigmática e repleta de duplicidade. Se por um lado aparenta a instabilidade da idade que carrega, por outro guarda toda uma quantidade exorbitante de malevolência e mesquinhez, num espírito vingativo que ninguém quereria despertar.

Para o futuro, fica o desejo de querer ler mais sobre Anita Blake e a sua extremamente atribulada vida assim como a vontade de conhecer mais e melhor todas as personagens que perfazem de O Cadáver Trocista uma excelente leitura para aquecer nestas noites particularmente frias. Uma aposta que espero continuar a acompanhar pela mão da 1001 Mundos

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