Título Original: Blood Magic
Autoria: Tessa Gratton
Editora: 1001 Mundos
Nº. Páginas: 396
Tradução: Marta Nazaré
Sinopse:
Nick é um rapaz da cidade, revoltado por ter sido forçado a regressar à perdida Yaleylah, no Missouri, onde cresceu. Não consegue deixar de recordar a sua mãe e a Magia de Sangue que ela praticava, memórias a que tenta escapar há já cinco anos. Silla, no entanto, não quer esquecer o aparente homicídio/suicídio dos pais que a deixou perdida e a necessitar de respostas. Quando um livro de feitiços com a caligrafia do par surge à porta de casa, Silla vê nele uma oportunidade de desvendar o mistério daquelas mortes.
Nick e Silla mergulham, juntos, num mundo de magia negra. Mas, quando uma bruxa de sangue com mais de cem anos aparece em busca dos ossos dos pais de Silla e do livro de feitiços, os dois serão obrigados a esquecer tudo o que acreditam ser, a natureza da vida e da morte e os segredos mortais que se escondem no sangue.
Opinião:
Um amor que roça os contornos da eternidade, uma magia pulsante que transporta a marca da morte, um sofrimento que se estende perpetuamente, dormente e oculto, em Magia de Sangue nada é o que aparenta ser... e tudo é possível.
Numa estreia surpreendente, Tessa Gratton agarra num tema por si só aliciante e transforma-o num enredo provocador, sombrio e extremamente sangrento. Não sendo uma história com um desenlace alegre ou um final propriamente feliz, a forte camada dramática e lúgubre que a sustém apresenta-se logo nas primeiras páginas, estabelecendo o ritmo e o ambiente exactos, e que persistirão até ao último parágrafo.
Drusilla e Nicholas são dois jovens adolescentes unidos pela dor de um passado negro pontuado pelo abandono e pelo amor que nutrem um pelo outro, no presente. Quanto ao futuro? Esse é incerto, pois quando se apercebem da real magia que lhes corre no sangue e de todas as coisas que conseguem alcançar através dela, uma presença malévola toma conta de Yaleylah e promete não descansar enquanto não lhe for entregue um livro muito especial que Silla recebeu aquando da perda do pai, e os ossos de um Kennicot. Com o perigo sempre à espreita e nas mais variadas formas de um observador, Silla e Nick terão de ter cuidado e tomar as decisões certas... ou arriscam-se a não sobreviver.
A componente fantástica deste romance encontra-se na magia e nos feitiços que as personagens vão experimentando e descobrindo ao longo da trama, na ligação e sentimento que os dois protagonistas instintivamente partilham entre si, e no relato de um diário muito particular que foi parar às mãos erradas. Neste aspecto sedutor do imaginário, Tessa Gratton foi exemplar. Com uma ideia base sólida e profundamente mágica, a autora consegue cativar o leitor ao mesmo tempo que o insere numa atmosfera algo pesada e fúnebre. Este, rapidamente se apercebe de que algo de errado vai acontecer, mas somente lhe resta aguardar e, com a leitura contínua, ir juntando as várias peças de um intricado puzzle que a autora vai largando aqui e ali. Pessoalmente, embora não me tenha sido complicado “adivinhar” aquele que, no final, personifica o mal, não tenho dúvidas de que muitas são as surpresas que se encontram pelo caminho e que, claramente, deixarão o leitor a vibrar com um enredo tão maduro e diferente como, à mesma, tão juvenil.
Outro dos pontos fortes desta narrativa centra-se na aproximação ao real com que certos assuntos tabu são abordados pelas personagens, como por exemplo, o abuso de drogas – ou consequente uso para deixar de “sentir” –, a auto-mutilação e a vida dupla. Talvez por se tratar de uma obra em que a autora não se preocupou em transmitir uma certa sensação de segurança e felicidade muito comum neste tipo de enredos, estes temas que hoje ainda continuam a afectar milhares de adolescentes (e não só) acabam por se enquadrar na perfeição tendo em conta o desenrolar da trama e a construção das personagens e de tudo o que as rodeia.
Também por se tratar de uma história com três narradores – não creio que o interveniente final seja considerado um quarto narrador –, é impossível impedir o crescimento do interesse por parte do leitor. Tessa Gratton, com uma habilidade espantosa, conseguiu criar um enredo onde o leitor tem a oportunidade de encarar os factos da vida das personagens através de três vozes totalmente distintas sem uma única vez sentir-se confuso ou desconexo. E o melhor é que todas essas vozes têm uma personalidade própria, mostrando assim três pessoas com atitudes, objectivos e humores muito diferentes.
Para uma camada mais juvenil e ávida por este género de romances, Magia de Sangue é o livro perfeito que conjuga, de forma inovadora, sobrenatural com muito amor sensual e umas quantas pitadas de drama familiar e “escolar”. A nível pessoal, esta foi uma obra que me deu prazer folhear, principalmente tendo em conta as várias “novidades” que apresenta, ainda que, por vezes, tenha achado que a autora se prolongou, um pouco em demasia, em certas situações descritivas e amorosas em detrimento de outras que poderiam ter recebido um pouco mais de atenção. Contudo, é, decididamente, um título interessante e diferente para quem gosta do estilo – como eu – e procura um mundo novo com personagens tanto curiosas como místicas e que venha acrescentar algo mais ao já publicado dentro do género de fantasia juvenil. Uma aposta intensa – marcada pela cor do sangue – e deveras singular, da 1001 Mundos.
5 comentários:
Deixaste-me curiosa!
Mas penso que passará algum tempo sem que o leia.. Veremos!
Beijocas
Eu gostei muito deste.
É um livro interessante no aspecto em que vai buscar um tema que ainda não está "batido" dentro do género. A situação da magia do sangue está muito bem retratada. Foi um livro que gostei de ler.
Beijinhos
Gostei imenso deste.. pois mesmo sendo um tema "batido", conseguiu ser imprevisivel e inovador :)
Concordo, miga. Aliás, não creio que seja um tema assim tão batido. Não me lembro de ler muitos livros com magia mesmo, :), mas, tal como tu, gostei imenso.
Enviar um comentário