sábado, 21 de janeiro de 2012

Magia de Sangue, Tessa Gratton



Título Original: Blood Magic
Autoria: Tessa Gratton
Editora: 1001 Mundos
Nº. Páginas: 396
Tradução: Marta Nazaré


Sinopse:

Nick é um rapaz da cidade, revoltado por ter sido forçado a regressar à perdida Yaleylah, no Missouri, onde cresceu. Não consegue deixar de recordar a sua mãe e a Magia de Sangue que ela praticava, memórias a que tenta escapar há já cinco anos. Silla, no entanto, não quer esquecer o aparente homicídio/suicídio dos pais que a deixou perdida e a necessitar de respostas. Quando um livro de feitiços com a caligrafia do par surge à porta de casa, Silla vê nele uma oportunidade de desvendar o mistério daquelas mortes.
Nick e Silla mergulham, juntos, num mundo de magia negra. Mas, quando uma bruxa de sangue com mais de cem anos aparece em busca dos ossos dos pais de Silla e do livro de feitiços, os dois serão obrigados a esquecer tudo o que acreditam ser, a natureza da vida e da morte e os segredos mortais que se escondem no sangue.


Opinião:

Um amor que roça os contornos da eternidade, uma magia pulsante que transporta a marca da morte, um sofrimento que se estende perpetuamente, dormente e oculto, em Magia de Sangue nada é o que aparenta ser... e tudo é possível.
Numa estreia surpreendente, Tessa Gratton agarra num tema por si só aliciante e transforma-o num enredo provocador, sombrio e extremamente sangrento. Não sendo uma história com um desenlace alegre ou um final propriamente feliz, a forte camada dramática e lúgubre que a sustém apresenta-se logo nas primeiras páginas, estabelecendo o ritmo e o ambiente exactos, e que persistirão até ao último parágrafo.

Drusilla e Nicholas são dois jovens adolescentes unidos pela dor de um passado negro pontuado pelo abandono e pelo amor que nutrem um pelo outro, no presente. Quanto ao futuro? Esse é incerto, pois quando se apercebem da real magia que lhes corre no sangue e de todas as coisas que conseguem alcançar através dela, uma presença malévola toma conta de Yaleylah e promete não descansar enquanto não lhe for entregue um livro muito especial que Silla recebeu aquando da perda do pai, e os ossos de um Kennicot. Com o perigo sempre à espreita e nas mais variadas formas de um observador, Silla e Nick terão de ter cuidado e tomar as decisões certas... ou arriscam-se a não sobreviver.

A componente fantástica deste romance encontra-se na magia e nos feitiços que as personagens vão experimentando e descobrindo ao longo da trama, na ligação e sentimento que os dois protagonistas instintivamente partilham entre si, e no relato de um diário muito particular que foi parar às mãos erradas. Neste aspecto sedutor do imaginário, Tessa Gratton foi exemplar. Com uma ideia base sólida e profundamente mágica, a autora consegue cativar o leitor ao mesmo tempo que o insere numa atmosfera algo pesada e fúnebre. Este, rapidamente se apercebe de que algo de errado vai acontecer, mas somente lhe resta aguardar e, com a leitura contínua, ir juntando as várias peças de um intricado puzzle que a autora vai largando aqui e ali. Pessoalmente, embora não me tenha sido complicado “adivinhar” aquele que, no final, personifica o mal, não tenho dúvidas de que muitas são as surpresas que se encontram pelo caminho e que, claramente, deixarão o leitor a vibrar com um enredo tão maduro e diferente como, à mesma, tão juvenil.

Outro dos pontos fortes desta narrativa centra-se na aproximação ao real com que certos assuntos tabu são abordados pelas personagens, como por exemplo, o abuso de drogas – ou consequente uso para deixar de “sentir” –, a auto-mutilação e a vida dupla. Talvez por se tratar de uma obra em que a autora não se preocupou em transmitir uma certa sensação de segurança e felicidade muito comum neste tipo de enredos, estes temas que hoje ainda continuam a afectar milhares de adolescentes (e não só) acabam por se enquadrar na perfeição tendo em conta o desenrolar da trama e a construção das personagens e de tudo o que as rodeia.

Também por se tratar de uma história com três narradores – não creio que o interveniente final seja considerado um quarto narrador –, é impossível impedir o crescimento do interesse por parte do leitor. Tessa Gratton, com uma habilidade espantosa, conseguiu criar um enredo onde o leitor tem a oportunidade de encarar os factos da vida das personagens através de três vozes totalmente distintas sem uma única vez sentir-se confuso ou desconexo. E o melhor é que todas essas vozes têm uma personalidade própria, mostrando assim três pessoas com atitudes, objectivos e humores muito diferentes.

Para uma camada mais juvenil e ávida por este género de romances, Magia de Sangue é o livro perfeito que conjuga, de forma inovadora, sobrenatural com muito amor sensual e umas quantas pitadas de drama familiar e “escolar”. A nível pessoal, esta foi uma obra que me deu prazer folhear, principalmente tendo em conta as várias “novidades” que apresenta, ainda que, por vezes, tenha achado que a autora se prolongou, um pouco em demasia, em certas situações descritivas e amorosas em detrimento de outras que poderiam ter recebido um pouco mais de atenção. Contudo, é, decididamente, um título interessante e diferente para quem gosta do estilo – como eu – e procura um mundo novo com personagens tanto curiosas como místicas e que venha acrescentar algo mais ao já publicado dentro do género de fantasia juvenil. Uma aposta intensa – marcada pela cor do sangue – e deveras singular, da 1001 Mundos

5 comentários:

Morrighan disse...

Deixaste-me curiosa!

Mas penso que passará algum tempo sem que o leia.. Veremos!

Beijocas

Elphaba disse...

Eu gostei muito deste.

Pedacinho Literário disse...

É um livro interessante no aspecto em que vai buscar um tema que ainda não está "batido" dentro do género. A situação da magia do sangue está muito bem retratada. Foi um livro que gostei de ler.

Beijinhos

Leitura Não Ocupa Espaço disse...

Gostei imenso deste.. pois mesmo sendo um tema "batido", conseguiu ser imprevisivel e inovador :)

Pedacinho Literário disse...

Concordo, miga. Aliás, não creio que seja um tema assim tão batido. Não me lembro de ler muitos livros com magia mesmo, :), mas, tal como tu, gostei imenso.

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