segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Linger - Um Amor Adiado, Maggie Stiefvater [Opinião]





Título Original: Linger
Autoria: Maggie Stiefvater
Editora: Editorial Presença
Colecção: Noites Claras, N.º 13
Nº. Páginas: 405
Tradução: Maria do Carmo Figueira


Sinopse:

Linger é o segundo volume da trilogia fantástica de Maggie Stiefvater, e nele reencontramos a mesma elegância narrativa, a mesma qualidade poética da prosa, que se mantém isenta dos clichés do género literário a que pertence. Reencontramos também os protagonistas, Sam e Grace, que lutam desesperadamente pelo seu amor, sujeito às permanentes ameaças da natureza e da humanidade. Sam ainda se está a habituar à ideia de viver para sempre como ser humano e Grace guarda segredos que poderão vir a revolucionar as suas vidas. Com toda a carga dramática e romântica de Shiver, esta sequela ganha uma nova urgência à medida que os níveis de tensão se elevam até se tornarem quase insustentáveis.
Quando tudo à sua volta parece prestes a desmoronar-se só o amor permanece, mas será ele suficiente para os manter juntos?


Opinião:

Existem livros que são autênticos mimos—e este é, sem sombra de dúvida, um deles. Do formato pequeno, de bolso, à escrita encantatória, que roça muito levemente o poético, passando pela história que mistura lobos sensíveis e humanos desejosos, Linger – Um Amor Adiado é o tipo de romance sobrenatural perfeito para todo o jovem-adulto que pretenda embrenhar-se num belíssimo conto onde o lobisomem é caracterizado de forma romantizada e menos, muito menos, cruel.

Seguindo as passadas do seu antecedente Shiver – Um Amor Impossível, com todas as matizes e incertezas de uma existência humana que ainda se acredita ser muito limiar, este, que é o segundo volume de uma trilogia que não só promete agradar a um público vasto e diversificado como, e também, pressagia encantá-lo, interioriza ainda mais os confrontos internos de um Sam que anda à deriva dada a sua faceta lobo ser ainda algo incógnita, ao mesmo tempo que foca as sensações, os sufocos e as transformações interiores de uma Grace diferente, que se vê a par com algo que, embora o desejasse, embora a deixasse curiosa, não mais é o que realmente anseia.
Maggie Stiefvater é um dos mais admiráveis talentos da literatura actual, não há como refutar esta afirmação, mas é igualmente verdade que o seu estilo, de tão peculiar, de tão único, por vezes peca pela atenção excessiva aos pormenores em detrimento da continuidade da história em si. Ainda que tal aparente ser, à primeira vista, uma total desvantagem, isso também não é inteiramente correcto. Gosto quando estou perante uma narrativa que me mostre algo, que me incite a descobrir mais sobre as suas singularidades e que desvende, de quando em vez, uns quantos segredos inesperados, mas autoras deste calibre, vozes como a de Stiefvater, que se preocupam maioritariamente em estruturar e naturalizar uma boa história, mostram um lado que muitas vezes, nos romances mais comuns, nos passa ao lado – a construção de uma personagem.

Deambular pelos enigmas pessoais tanto do casal principal como, e um pouco mais tarde, de intervenientes como Isabel e Cole é algo pelo qual o leitor começa a ansiar à medida que vai avançando no texto. E cada uma destas figuras é tão única e ímpar à sua maneira, que mesmo sem olhar para o topo do capítulo onde se encontra expresso a personagem em qual vamos mergulhar, ao fim de meia dúzia de linhas sabemos, automaticamente, sobre quem estamos a ler. E isso é absolutamente maravilhoso.
Sam Roth é uma força da natureza—literalmente!—, mas o seu renovado estado de humano não é sinónimo de normalidade. Dentro de si sente ainda resquícios do lobo que foi outrora, saudades da liberdade que antes viveu, e por isso é-lhe impossível apagar, por completo, a sensação de que um futuro com Grace não passe de uma miragem, e de que os seus distintos olhos dourados sejam, novamente, a única familiaridade que esta encontrará por entre as árvores no Inverno.
Grace Brisbane sabe que algo dentro de si não está bem, que existe uma alma, uma segunda essência, que luta por se libertar, por tomar o controlo do seu corpo. Mas agora que Sam ultrapassou, finalmente, o estigma lupino que assombrava os dois e os impedia de estarem juntos, Grace está decidida a que nada se intrometa entre eles, em que nada os separe... até que a morte lhe bate à porta e decisões difíceis, impossíveis, terão de ser tomadas.

Sam e Grace são, por si já, um conjunto intricado merecedor de uma atenção e cuidado extraordinários, mas existem outras personagens de cariz mais secundário que são, em igual medida, um verdadeiro jubilo.
Isabel Culpeper, por exemplo, é do mais enigmática e extrovertida que pode existir. Marcada pela ausência de um irmão que acarinhava, e atormentada pelo remorso, pela culpa que acarreta às costas, esta é uma figura que se refugia no sarcasmo e na ironia, proporcionando, em inúmeras ocasiões, momentos de real divertimento e solidariedade. No outro lado, Cole St. Clair, um lobo aparecido do nada, arrecada o mesmo tipo de sentimentos e reacções por parte do leitor, ainda que a atmosfera que o circunda seja não só ambígua e um pouco duvidosa como, e também, misteriosa. Talvez venha, daí mesmo, o seu encanto...

Em termos de enredo, Linger – Um Amor Adiado mantém-se extremamente fiel ao que o seu antecessor mostrou, equilibrando um relacionamento amoroso em bases irregulares, ao mesmo tempo que vai criando pequenos conflitos, pequenos problemas e complicações que vão gerando interesse no leitor. Gostei, particularmente, da reviravolta final e do que foi preciso fazer para que uma vida fosse salva, ainda que muito tivesse de ser dado em troca. Este pequeno grande twist deixa imenso em aberto para o terceiro livro que, com certeza, virá colmatar muitas questões que ficaram por responder. Estou especialmente curiosa em saber como irá Sam reagir, a longo prazo, com o que teve de prescindir...

Quanto a mim, claramente este foi um romance que me encheu as medidas e que, impressionantemente, mesmo sendo lento no desenrolar de vários acontecimentos, ainda assim me manteve cativa e rendida à história. É impressionante como Stiefvater, ao relatar acontecimentos regulares e descrições de emoções e pensamentos pessoais, embala o leitor de tal maneira que este nem dá pelo percorrer da páginas.
Uma leitura imperdível para todos os amantes de um sobrenatural leve e algo romântico, que joga em prol do amor e da amizade, nesta que é uma aposta Editorial Presença.

Saiba mais sobre Linger – Um Amor Adiado, aqui.

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