domingo, 14 de julho de 2013

A Submissa, Tara Sue Me [Opinião]





Título Original: The Submissive
Autoria: Tara Sue Me
Editora: Lua de Papel
Nº. Páginas: 280
Tradução: Carla Melo


Sinopse:

Até onde irias para viver uma fantasia? Abby tem uma fantasia secreta. Em Nova Iorque toda a gente sabe quem é Nathaniel West, o sedutor milionário que controla as West Industries. Mas poucos conhecem o seu segredo: ele é um dominador terrivelmente sexy, extremamente exigente. E procura uma nova submissa. Abby é uma bibliotecária, tem uma vida cinzenta, anseia por mais - todo um mundo de prazeres de que ouviu falar mas que nunca ousou experimentar. E tem uma dívida antiga para com Nathaniel, que ele próprio desconhece. Ela oferece-se a medo, promete satisfazer-lhe os mais recônditos desejos. E após um tórrido fim-de-semana a dois, Abby não tem dúvidas: quer mais, muito mais, nem que para isso tenha de se submeter às condições impostas pelo seu novo Mestre... Mas até onde será capaz de ir? Num jogo de paixão e poder, onde aos poucos o amor se insinua, Abby vê-se perante um dilema: face à frieza e distância de Nat, ela teme que o coração dele esteja fora do seu alcance - ou que o seu próprio coração esteja para sempre perdido.


Opinião:

Quem conhece os meus gostos literários e/ou segue este espaço, sabe que não sou grande apreciadora do género erótico do romance. Desde a trilogia As Cinquenta Sombras de Grey, da qual só consegui ler o primeiro volume—dado vários elementos irritantes da narrativa—, que tenho descoberto, nos livros entretanto publicados, um estilo demasiado análogo, com estruturas idênticas de enredo, de ideias e de clichés. Porém, encontrei em A Submissa a surpresa que há muito aguardava, ao folhear tantas outras histórias sensuais, e que me deixou, completa e totalmente, amarrada às voluptuosas nuances que a traçam.

A Submissa é como uma brisa quente numa ainda mais acalorada tarde de verão—trata-se de um romance inovador, extremamente refrescante, com personagens fortes e bem delineadas, e uma robusta componente física contrabalançada com uma muito interessante perspectiva psicológica. Sobre vontades e desejos, sobre aceitação e persistência, esta é uma história que conta muito mais do que o desenvolver de uma relação entre dominador e submissa, entrando por campos do íntimo, do pensamento, pouco ou superficialmente explorados noutros textos vizinhos.
Tara Sue Me é bem capaz de possuir uma das escritas mais embaladoras, mais conquistadoras, que conheço. Ela leva o seu leitor por todo um universo místico de prazer e sedução, de dor e paixão, sem que este, alguma vez, pense, sequer, em descurar os olhos das suas páginas. Com descrições ora pormenorizadas quando necessárias, ora mais leves, Sue Me retrata uma das relações mais intensas que li num romance, ao mesmo tempo que cuida em dar essência aos diálogos, aos sentimentos de Abigail—a protagonista e olhos deste A Submissa—e aos pequenos pormenores narrativos, em termos de história, que se encontram por trás do que é mostrado.

Sendo esta uma trama que dá primazia à ligação texturada através do domínio e da rendição entre o casal em destaque, e tendo em conta o historial literário que me passou pelas mãos, seria de esperar uma Abby ingénua, deveras inocente e altamente medrosa, ao mesmo tempo que, no outro lado, se encontraria um Nathaniel arrogante, poderoso e de punho forte. Não é que o segundo caso esteja inteiramente errado, mas, no que diz respeito a Abby, a natureza que a define, enquanto personagem, não poderia estar mais longe da realidade.
Ela, Abigail King, é uma mulher adulta que procura submeter-se à influência de um homem dominador, de modo a ter alguma da satisfação sexual que não tem conseguido encontrar em parceiros ditos «normais». De intelecto forte, ainda que com algumas dúvidas ocasionais, e vontade de ferro, Abby é uma personagem absolutamente aconchegante na medida em que sabe impor limites a si própria e, mais importante, está disposta a segui-los.
Ele, Nathaniel West, é um homem na casa dos trinta que há mais de dez anos encara as suas relações íntimas e pessoais com um cariz mais requintado de... dominador nato. Com um passado sofredor e um futuro cada vez mais brilhante, Nathaniel é uma personagem que cativa pela sua intensidade pulsante e pelo jogo mental que constrói a par com Abigail, numa dança perfeita de dar e receber prazer.

Existem ainda outros intervenientes secundários que visam abrilhantar o enredo com alguns momentos de humor e verdadeira amizade. Felicia, por exemplo, é o apoio que nunca deixou Abby na mão, um contacto de socorro, de ajuda, caso venha a ser necessário e uma amiga que, no final de contas, se tornará quase família. Elaina, por outro lado, é o escape que Abby nunca imaginou encontrar, e a ligação—mais profunda, mais linear—ao homem que ela espera, um dia, poder vir a amar em pleno. Entre outras figuras ocasionais, estas são as que mais se destacam, mas, no seu conjunto, embora não seja um leque de interferência ou importância regular, não deixa de ter o seu quê de interessante e apelativo ao núcleo central da narrativa.
Os cenários descritos ao longo do enredo são algo reduzidos, mas cada um representa um ponto de salvação, uma cedência ou uma descoberta, por parte de um deles ou, em alguns casos, por parte de ambos, o que lhes confere um significado completamente diferente e novo, mais sentido. Mas não sendo esta uma história sobre lugares e sim sobre sentimentos, emoções, explorações, foi com uma muito agradável expectativa que avancei página a página, ciente de que iria encontrar, sempre, um romance virado para o aspecto físico da relação dos protagonistas, mas com a surpresa de que a componente mental, psicológica, acabou por tecer linhas decididamente mais robustas e inquebráveis do que, previamente, esperado.

Quanto a mim, gostei particularmente deste livro, mesmo não estando nada à espera que tal acontecesse. Assim que li os primeiros capítulos, dei por mim completamente embrenhada na história, envolvida na vontade de Abby em querer ser submissa de um só homem, estarrecida com o poder mental de Nathaniel e com os seus jogos de dar e receber, e maravilhada com os demasiado curtos fins de semana a que ambos tinham direito, juntos. Senti-me satisfeita com as personalidades de ambos, sem algumas das lamechices a que outros romances do género dão ênfase, e, principalmente, sem a deusa interior presente no mundo de Mr. Grey. Não achei que as explorações da relação dominador submissa de Abby e Nathaniel tenham sido demasiado susceptíveis ou irreais, dando preferência ao amor ao invés de se focar na essência desse estilo de vida, e fiquei bastante agradada com a quantidade de páginas do livro em si—não sendo nem muito curto, nem muito longo, tem, para mim, o tamanho ideal de modo a não cansar o leitor.
Agora, ao descobrir que esta começou por ser, também, uma fan fiction do Twilight, escrita ainda antes de As Cinquenta Sombras de Grey, fica a sensação de uma certa semelhança entre os dois romances, sendo que A Submissa é, claramente, superior em qualidade. Aos leitores que encontraram, em Grey, uma fonte de prazer literário, de certo que esta trilogia—ou, pelo menos, este primeiro volume—será, igualmente, uma leitura de sucesso. Aos que não gostaram ou, simplesmente, procuram experimentar um estilo com um livro menos susceptível, A Submissa é bem capaz de ser a opção ideal.
Ah, e sem esquecer, especial destaque ainda para a componente visual deste livro, algo em que a Lua de Papel tem vindo a trabalhar pela diferença.

Uma escolha inteligente por parte da Lua de Papel, nesta que é a sua terceira grande aposta dentro do género erótico, depois de sucessos como o de E. L. James e de Samantha Young. Dúvidas não restam de que, para os apreciadores do romance físico, esta é uma história mais do que assertiva. Gostei bastante e aguardo, com expectativa, o lançamento dos outros dois volumes que completam a trilogia.

2 comentários:

p7 disse...

Agora deixaste-me curiosa. Não tenho lido muito o género, porque as comparações ao 50 shades já enjoam... mas fiquei curiosa com a tua opinião. ;)

Pedacinho Literário disse...

Estava com receio de lhe pegar precisamente por essa razão, por todos estes romances eróticos recentes serem comparados ao 50 Shades. Quando estava a delinear a opinião, tinha programado escrever que «este era uma versão melhor, mais sólida e interessante que o 50 Shades», mas depois descobri que este foi escrito antes, pelo que o 50 Shades é que se tornou o cliché, por assim dizer.
Eu gostei pelo facto de as personagens serem mais completas, a Abby sabe que quer entrar para uma relação de dominador e submissa, e por isso não tem aquela ingenuidade que normalmente se encontra nestes livros. E a própria escrita é cativante... tem aspectos menos bons, como qualquer outro livro, mas no geral, e tendo em conta o que li até então, gostei bastante. =)

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