Título Original: The Submissive
Autoria: Tara Sue Me
Editora: Lua de Papel
Nº. Páginas: 280
Tradução: Carla Melo
Sinopse:
Até onde irias para
viver uma fantasia? Abby tem uma fantasia secreta. Em Nova Iorque toda a gente
sabe quem é Nathaniel West, o sedutor milionário que controla as West
Industries. Mas poucos conhecem o seu segredo: ele é um dominador terrivelmente
sexy, extremamente exigente. E procura uma nova submissa. Abby é uma bibliotecária,
tem uma vida cinzenta, anseia por mais - todo um mundo de prazeres de que ouviu
falar mas que nunca ousou experimentar. E tem uma dívida antiga para com
Nathaniel, que ele próprio desconhece. Ela oferece-se a medo, promete
satisfazer-lhe os mais recônditos desejos. E após um tórrido fim-de-semana a
dois, Abby não tem dúvidas: quer mais, muito mais, nem que para isso tenha de
se submeter às condições impostas pelo seu novo Mestre... Mas até onde será
capaz de ir? Num jogo de paixão e poder, onde aos poucos o amor se insinua,
Abby vê-se perante um dilema: face à frieza e distância de Nat, ela teme que o
coração dele esteja fora do seu alcance - ou que o seu próprio coração esteja
para sempre perdido.
Opinião:
Quem conhece os meus
gostos literários e/ou segue este espaço, sabe que não sou grande apreciadora
do género erótico do romance. Desde a trilogia As Cinquenta Sombras de Grey,
da qual só consegui ler o primeiro volume—dado vários elementos irritantes da
narrativa—, que tenho descoberto, nos livros entretanto publicados, um estilo
demasiado análogo, com estruturas idênticas de enredo, de ideias e de clichés. Porém, encontrei em A Submissa a surpresa que há muito
aguardava, ao folhear tantas outras histórias sensuais, e que me deixou,
completa e totalmente, amarrada às voluptuosas nuances que a traçam.
A Submissa é como uma
brisa quente numa ainda mais acalorada tarde de verão—trata-se de um romance
inovador, extremamente refrescante, com personagens fortes e bem delineadas, e
uma robusta componente física contrabalançada com uma muito interessante
perspectiva psicológica. Sobre vontades e desejos, sobre aceitação e persistência,
esta é uma história que conta muito mais do que o desenvolver de uma relação
entre dominador e submissa, entrando por campos do íntimo, do pensamento, pouco
ou superficialmente explorados noutros textos vizinhos.
Tara Sue Me é bem capaz
de possuir uma das escritas mais embaladoras, mais conquistadoras, que conheço.
Ela leva o seu leitor por todo um universo místico de prazer e sedução, de dor
e paixão, sem que este, alguma vez, pense, sequer, em descurar os olhos das
suas páginas. Com descrições ora pormenorizadas quando necessárias, ora mais
leves, Sue Me retrata uma das relações mais intensas que li num romance, ao
mesmo tempo que cuida em dar essência aos diálogos, aos sentimentos de Abigail—a
protagonista e olhos deste A Submissa—e
aos pequenos pormenores narrativos, em termos de história, que se encontram por
trás do que é mostrado.
Sendo esta uma trama
que dá primazia à ligação texturada através do domínio e da rendição entre o
casal em destaque, e tendo em conta o historial literário que me passou pelas mãos,
seria de esperar uma Abby ingénua, deveras inocente e altamente medrosa, ao
mesmo tempo que, no outro lado, se encontraria um Nathaniel arrogante, poderoso
e de punho forte. Não é que o segundo caso esteja inteiramente errado, mas, no
que diz respeito a Abby, a natureza que a define, enquanto personagem, não
poderia estar mais longe da realidade.
Ela, Abigail King, é
uma mulher adulta que procura submeter-se à influência de um homem dominador,
de modo a ter alguma da satisfação sexual que não tem conseguido encontrar em
parceiros ditos «normais». De intelecto forte, ainda que com algumas dúvidas
ocasionais, e vontade de ferro, Abby é uma personagem absolutamente
aconchegante na medida em que sabe impor limites a si própria e, mais
importante, está disposta a segui-los.
Ele, Nathaniel West, é
um homem na casa dos trinta que há mais de dez anos encara as suas relações íntimas
e pessoais com um cariz mais requintado de... dominador nato. Com um passado
sofredor e um futuro cada vez mais brilhante, Nathaniel é uma personagem que
cativa pela sua intensidade pulsante e pelo jogo mental que constrói a par com
Abigail, numa dança perfeita de dar e
receber prazer.
Existem ainda outros
intervenientes secundários que visam abrilhantar o enredo com alguns momentos
de humor e verdadeira amizade. Felicia, por exemplo, é o apoio que nunca deixou
Abby na mão, um contacto de socorro, de ajuda, caso venha a ser necessário e
uma amiga que, no final de contas, se tornará quase família. Elaina, por outro
lado, é o escape que Abby nunca imaginou encontrar, e a ligação—mais profunda,
mais linear—ao homem que ela espera, um dia, poder vir a amar em pleno. Entre
outras figuras ocasionais, estas são as que mais se destacam, mas, no seu
conjunto, embora não seja um leque de interferência ou importância regular, não
deixa de ter o seu quê de interessante
e apelativo ao núcleo central da narrativa.
Os cenários descritos
ao longo do enredo são algo reduzidos, mas cada um representa um ponto de salvação,
uma cedência ou uma descoberta, por parte de um deles ou, em alguns casos, por
parte de ambos, o que lhes confere um significado completamente diferente e
novo, mais sentido. Mas não sendo esta uma história sobre lugares e sim sobre
sentimentos, emoções, explorações, foi com uma muito agradável expectativa que
avancei página a página, ciente de que iria encontrar, sempre, um romance
virado para o aspecto físico da relação dos protagonistas, mas com a surpresa
de que a componente mental, psicológica, acabou por tecer linhas decididamente
mais robustas e inquebráveis do que, previamente, esperado.
Quanto a mim, gostei
particularmente deste livro, mesmo não estando nada à espera que tal
acontecesse. Assim que li os primeiros capítulos, dei por mim completamente
embrenhada na história, envolvida na vontade de Abby em querer ser submissa de
um só homem, estarrecida com o poder mental de Nathaniel e com os seus jogos de
dar e receber, e maravilhada com os demasiado curtos fins de semana a que ambos
tinham direito, juntos. Senti-me satisfeita com as personalidades de ambos, sem
algumas das lamechices a que outros romances do género dão ênfase, e,
principalmente, sem a deusa interior
presente no mundo de Mr. Grey. Não achei que as explorações da relação
dominador submissa de Abby e Nathaniel tenham sido demasiado susceptíveis ou
irreais, dando preferência ao amor ao invés de se focar na essência desse
estilo de vida, e fiquei bastante agradada com a quantidade de páginas do livro
em si—não sendo nem muito curto, nem muito longo, tem, para mim, o tamanho
ideal de modo a não cansar o leitor.
Agora, ao descobrir que
esta começou por ser, também, uma fan
fiction do Twilight, escrita
ainda antes de As Cinquenta Sombras de Grey, fica a sensação de uma
certa semelhança entre os dois romances, sendo que A Submissa é, claramente, superior em qualidade. Aos leitores que
encontraram, em Grey, uma fonte de prazer literário, de certo que esta trilogia—ou,
pelo menos, este primeiro volume—será, igualmente, uma leitura de sucesso. Aos
que não gostaram ou, simplesmente, procuram experimentar um estilo com um livro
menos susceptível, A Submissa é bem
capaz de ser a opção ideal.
Ah, e sem esquecer,
especial destaque ainda para a componente visual deste livro, algo em que a Lua
de Papel tem vindo a trabalhar pela diferença.
Uma escolha inteligente
por parte da Lua de Papel, nesta que é a sua terceira grande aposta
dentro do género erótico, depois de sucessos como o de E. L. James e de
Samantha Young. Dúvidas não restam de que, para os apreciadores do romance físico,
esta é uma história mais do que assertiva. Gostei bastante e aguardo, com
expectativa, o lançamento dos outros dois volumes que completam a trilogia.
2 comentários:
Agora deixaste-me curiosa. Não tenho lido muito o género, porque as comparações ao 50 shades já enjoam... mas fiquei curiosa com a tua opinião. ;)
Estava com receio de lhe pegar precisamente por essa razão, por todos estes romances eróticos recentes serem comparados ao 50 Shades. Quando estava a delinear a opinião, tinha programado escrever que «este era uma versão melhor, mais sólida e interessante que o 50 Shades», mas depois descobri que este foi escrito antes, pelo que o 50 Shades é que se tornou o cliché, por assim dizer.
Eu gostei pelo facto de as personagens serem mais completas, a Abby sabe que quer entrar para uma relação de dominador e submissa, e por isso não tem aquela ingenuidade que normalmente se encontra nestes livros. E a própria escrita é cativante... tem aspectos menos bons, como qualquer outro livro, mas no geral, e tendo em conta o que li até então, gostei bastante. =)
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