quarta-feira, 3 de julho de 2013

Espera por mim, Gayle Forman [Opinião]




Título Original: Where She Went
Autoria: Gayle Forman
Editora: Editorial Presença
Colecção: Noites Claras, N.º 19


Sinopse:

Passaram três anos desde que o amor de Adam ajudou Mia a recuperar após o trágico acidente que vitimou a sua família – e três anos desde que Mia decidiu afastá-lo da sua vida sem lhe dar explicações. Quando uma noite os seus caminhos se cruzam na cidade de Nova Iorque, ambos têm a oportunidade de se confrontar com os fantasmas do passado e de abrir o coração ao futuro. Mas conseguirão perdoar-se um ao outro antes de cada um ter de regressar à vida tal como a deixaram?


Opinião:

Quando se ama, se ama verdadeiramente alguém, com todo o nosso ser, com tudo o que possuímos e tudo o que somos, ficamos eternamente marcados, eternamente ligados a essa pessoa, aconteça o que acontecer, quando acontecer. Mas assim que a separação dá de si e o fio se estria, se quebra, o vazio sentido é, sempre, por demais e a única solução com vista à estabilidade física e emocional passa, muitas vezes, pelo esquecimento, pelo seguir em frente, mas sem nunca perder a ínfima esperança de reaver o que outrora foi nosso, o que outrora fez parte de nós. Aqui, temos a perspectiva de Adam, sobre aquele que foi—e será—o grande amor da sua vida.

Espera por mim é, muito provavelmente, das continuações, por mim, mais aguardadas do ano, principalmente tendo em conta o quanto me identifiquei com Se eu Ficar, e o quanto ansiava conhecer, mais a fundo, uma personagem que tanto me marcou, Adam. Sobre perdas e rupturas, sobre desilusões e decisões difíceis, reencontros inesperados e sentimentos que não se extinguem, esta é uma história absolutamente incrível, e pulsante, sobre um dos temas mais delicados de se escrever—o amor.
Gayle Forman tem uma das escritas mais bonitas e envolventes que conheço, principalmente tendo em conta o género em que escreve, cativando, assim, continuamente o seu leitor a querer, não só, descobrir mais dos seus mundos, mas, e também, mais das suas personagens. Com rapidez, esta é uma autora que cativa pelas descrições simples e intimas, pessoais, dos escritos na primeira pessoa, e que deslumbra pelos diálogos naturais e, muitas vezes, divertidos e românticos.

A dor é um dos sentimentos mais palpáveis, mais bem retratados neste romance, a par com o enorme desespero de Adam, a sua sensação de impotência, de vazio, de tormento, de ruptura psicológica. Mas também o perdão é algo que impera, um fio de esperança no meio da solidão, da multidão que nada nos diz, que não nos é nada. E esse perdão, esse vislumbre de salvação, de felicidade, é o ponto catalisador que embala o leitor nesta viagem de um só dia (no presente), e de tantas outras vidas (no passado), de duas personagens que, depois de Se Eu Ficar, já nos são imensamente queridas. Por inúmeras vezes torci por elas, pelo reencontro que lhes fugiu por entre os dedos, pelo amor que se viu camuflado, escondido face um futuro em separado. Incontáveis foram, também, os momentos em que a agonia de Adam foi a minha angústia e em que a vontade de Mia foi o meu desejo.

Muito para lá da emocionante história que envolve estas duas personagens singulares, estão pequenos pormenores descritivos e de enredo que, na minha perspectiva pessoal, fazem toda a diferença. Estruturalmente falando, Forman dividiu a trama em dois momentos distintos no tempo—o passado, onde o leitor tem a oportunidade de rever e obter mais detalhes, mais informações sobre o período comatoso de Mia na perspectiva de intervenientes externos; e o presente, onde o leitor segue as passadas famosas de Adam, agora uma estrela da rock, num mundo, universo, que não o completa—, estando a real beleza da criatividade da autora presente nos excertos das letras do álbum Collateral Damage, escritas por Adam e profundamente dedicadas às emoções que o atingiram durante a ausência de Mia, e que, a cada capítulo par, vai abrindo os horizontes do leitor para a avalanche de sentimentos e ressentimentos existentes no decorrer da acção.

Houve qualquer coisa neste romance em particular que simplesmente me seduziu, e me manteve cativa durante toda a narrativa, ainda que esta tenha sido algo breve. Inicialmente, confesso que tive uma certa dificuldade em voltar a ambientar-me ao mundo de Adam e Mia, pois muitas das situações chave de Se Eu Ficar estavam, na altura, meio apagadas e confusas e própria história não fornece informação retrospectiva suficiente para ajudar o leitor a enquadrar-se, mas a personalidade de Adam, o rancor que o percorre, a raiva contida, o sarcasmo inocente foram tão apelativos, tão fascinantes, que rapidamente me vi apaixonar por um intelecto sofredor que se viu rejuvenescer uma vez reencontrada a sua amada. Muitos foram os pormenores que me enterneceram, e é, sem dúvida, com grande saudade que abandono estas duas personagens que tanto me disseram, tanto me ensinaram a viver.

Uma aposta magnífica por parte da Editorial Presença, numa autora que escreve maravilhosamente dentro do género YA contemporâneo, e que espero, em breve, vir a conhecer mais profundamente. Gostei muito. Mesmo.  

Descubra mais sobre este livro em: Espera por Mim

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.